Beyoncé Knowles-Carter é a capa da edição de outubro da revista norte-americana GQ. Numa rara entrevista, que resulta de várias trocas de emails ao longo deste verão, a estrela global levanta a ponta do véu sobre o seu processo criativo, a presença crescente no mundo dos negócios e também sobre a vida pessoal.
Aos 43 anos, é mãe de três filhos, fruto da relação com o rapper Jay-Z — Blue Ivy, de 12 anos, e os gémeos Rumi e Sir, de sete anos. Na entrevista, garante que tem trabalhado “de forma extremamente árdua” para garantir que os filhos “têm a maior normalidade e privacidade possível”. (…) [Trabalho] para garantir que a minha vida pessoal não se transforme numa marca.”
“Faço um esforço extremo para garantir que me mantenho verdadeira em relação aos meus limites e que me protejo a mim e à minha família. Não há dinheiro que valha a minha paz”, explica à publicação.
Com uma carreira de três décadas, a norte-americana revela que os filhos vão com ela para todo o lado e que tenta conjugar as digressões e concertos com os períodos de férias — assistem a ensaios e estão no estúdio sempre que trabalha. “É natural que aprendam as coreografias”, admite, referindo-se à passagem da filha mais velha pela digressão do disco “Renaissance”, no ano passado.
Blue Ivy passou a ter um segmento de dança ao lado da mãe nos vários concertos da digressão. Mas, ao início, Beyoncé não queria expor a filha. “A Blue é uma artista”, revela a cantora. “Ela é [um talento] natural, mas eu não queria a Blue em palco. Ela é que quis. Levou aquilo a sério e conquistou-o. E, o mais importante, divertiu-se!”
“A Blue cresceu”: como a filha de Beyoncé e Jay-Z também brilhou nos Grammys
A artista e vencedora de dezenas de prémios Grammy lançou em abril o oitavo álbum de estúdio, intitulado “Cowboy Carter”. O disco tem uma inspiração country, mas Beyoncé explica que quis desafiar os géneros musicais. “Desde o início da minha carreira e em todos os álbuns tenho sempre misturado géneros”, lembra. “Acredito que são os géneros que nos fecham em caixas e que nos separam.”
Rejeita também a ideia de que é uma perfeccionista. “Crio ao meu próprio ritmo e trabalho em coisas que espero que toquem as pessoas. (…) Foco-me em contar uma história, em crescimento e em qualidade. Não estou focada no perfeccionismo. Estou focada em evolução, inovação e em mudar perceções.”
Nesse sentido, diz que o último disco, um trabalho que começou “há cinco anos”, não a fez sentir como se estivesse “numa prisão” ou “a carregar um fardo”. “Na verdade, só trabalho em coisas que me libertam. É a fama que às vezes parece uma prisão.”
Quando está num processo de criação, a estrela planetária mantém-se afastada das aparições em público. Mas, por agora, diz que não pensa na reforma, ainda que nos últimos anos tenha de alguma forma mudado. “Tenho sujeitado o meu corpo a extremos nas últimas décadas. Sempre tentei ter um desempenho semelhante ao dos meus atletas favoritos nas minhas digressões, só que com cristais e saltos altos”, brinca. Após a lesão no joelho, no ano passado, “reformou a fórmula da estrela pop” e passou a focar-se noutras qualidades. “A boa música e as mensagens fortes nunca vão reformar-se.”
A carreira de Beyoncé passa ainda pelo mundo dos negócios. A aventura mais recente é o lançamento do whisky SirDavis, criado em parceria com a gigante de bebidas Moët Hennessy. O nome da bebida é uma homenagem ao bisavô, Davis Hogue. A artista diz que “quer mudar a velha narrativa”, associando-se a uma bebida mais ligada a um universo masculino, e que optou por manter a sua imagem afastada da bebida durante parte do processo de desenvolvimento.
“Queria que a marca estivesse associada a bom gosto e qualidade. Quis pôr o nosso produto à frente dos críticos mais duros e ganhar o seu respeito pela força do whisky”, explica. “Após concluída a receita, submetemos o whisky a provas de críticos em todo o mundo. Não havia sinais de ‘Beyoncé’ nas garrafas ou em qualquer parte da marca. Isso foi muito intencional.”
Considera que os negócios são em parte uma das suas formas de legado. Além da marca de whisky, também lançou uma linha de produtos para cabelo, a Cécred. Também neste campo optou por não dar a imagem a nenhum produto. “Tomei a decisão consciente de não aparecer nos anúncios. A primeira impressão da marca precisa de ser por mérito, não pela minha influência.”