O primeiro-ministro avisou esta segunda-feira que o país vai viver “horas difíceis” nos próximos dias devido aos incêndios e apelou a que todos cumpram as instruções das forças de segurança e dos bombeiros.

Luís Montenegro falava à comunicação social na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), tendo ao seu lado o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, onde recusou que tenha havido atrasos quer na ativação do mecanismo europeu de proteção civil quer no corte de estradas.

“Nós vamos passar horas difíceis nos próximos dias, temos de nos preparar para isso e temos de nos juntar para isso”, avisou o chefe do Governo.

Dizendo querer deixar uma palavra de “tranquilização possível e de serenidade ao país”, Montenegro fez um apelo para que todos cumpram as instruções das forças de segurança e dos bombeiros.

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“Às vezes elas colidem com a vontade e com os ímpetos mais diretos das pessoas, mas é para o bem delas e para todos os outros Aquilo que ainda hoje foi necessário fazer para desbloquear vias de comunicação e pessoas que estavam a ficar encurraladas em estradas, deve ser evitado ao máximo”, afirmou.

Questionado se, depois dos grandes incêndios de 2017, não seria possível ter evitado situações de pessoas cercadas pelo fogo estradas, o primeiro-ministro respondeu que “não vale a pena arranjar polémicas onde elas não existem”.

“Quando há fogos e quando há avanços, como houve, repentinos, há sempre situações de limite e de dificuldade. Estou muito à vontade, porque hoje estive numa dessas zonas e tive a ocasião, eu próprio, de falar várias vezes com a ministra da Administração Interna, de falar com o Comandante-Geral da Guarda Nacional Republicana, de falar com todos os presidentes de Câmara”, revelou.

Montenegro disse ter pedido, nesses contactos, “toda a colaboração e empenho para que as forças de segurança” pudessem evitar situações de perigo em vias de comunicação e que outras pessoas fossem retiradas dos locais onde estavam.

“Isso aconteceu e, portanto, funcionou. Sinceramente, acho que não é adequado estarmos agora a polemizar uma situação que funcionou. Dir-me-á, podia ter acontecido uma tragédia? Ai, isso pode e amanhã vamos continuar a ter essa iminência. Temos de ser verdadeiramente prudentes”, disse.

Depois de o Presidente da República o ter feito, também o primeiro-ministro deixou, em nome do Governo, “uma palavra de solidariedade a todas as vítimas e a todos os afetados por estes incêndios”.

“Em primeiro lugar, naturalmente, para as famílias que estão enlutadas por causa do desaparecimento e da perda das vidas destas três pessoas”, disse, estendendo essas palavras às famílias dos feridos e a todos os que foram atingidos por estes incêndios.

Luís Montenegro deixou também agradecimentos a “todas as forças que estão no terreno”, de várias entidades, mas em particular aos bombeiros, os que “estão mais expostos e que estão mais uma vez a dar uma grande demonstração da sua capacidade de sofrimento e de solidariedade”.

Nesta ocasião, reiterou ainda o agradecimento à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pelo “processo muito acelerado” de ativação do mecanismo europeu de proteção civil e aos quatro governos que responderam de forma pronta: Espanha, França, Itália e Grécia.

Questionado se este mecanismo europeu não poderia ter sido ativado mais cedo, em função das previsões meteorológicas, respondeu: “Com franqueza acho difícil, mas poderemos depois fazer no final um balanço com mais detalhe”.

“Não me recordo, com franqueza, de um pedido desta natureza ter sido feito de uma forma tão célere e ter sido despachado também de uma forma tão rápida”, disse, salientando que esta segunda-feira já estiveram no combate aos incêndios em Portugal duas aeronaves de Espanha e adiantou que o Governo português está em contacto também com Marrocos desde a manhã desta segunda-feira.

Montenegro defendeu que o esforço deve estar na prevenção e disse que, nos incêndios dos últimos dias, “há uma coincidência entre o agravamento das condições climatéricas e o aparecimento de ignições muito próximas umas das outras, em locais que parecem selecionados”

“Nós aprendemos seguramente com erros de outros anos e estamos a tudo fazer para não reincidir neles, a todos os níveis. Mas há alguns elementos contra os quais é mais difícil combater (…) Nunca conseguimos estar em todos os locais do território e evitar que estas coisas aconteçam”, admitiu.

Governo cria equipa multidisciplinar com sede em Aveiro coordenada por ministro Castro Almeida

O Governo criou uma equipa multidisciplinar para lidar com as consequências dos incêndios dos últimos dias, com sede em Aveiro e coordenado pelo ministro Adjunto e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida.

“Do ponto de vista do apoio às populações e às autarquias locais que têm sido atingidas, está criada uma equipa multidisciplinar no Governo, coordenada pelo sr. ministro Adjunto e da Coesão Territorial, que se vai instalar já amanhã [terça-feira] de manhã no concelho de Aveiro”, anunciou.

Segundo Montenegro, esta equipa “já está a programar e a agendar reuniões com os autarcas dos municípios mais atingidos” e vai integrar secretários de Estado da Saúde, Educação, Segurança Social, Habitação, Florestas e Administração local.

Questionado se o Ministério da Administração Interna não integrará essa equipa multidisciplinar, o chefe do Governo respondeu que este gabinete “não é operacional”.

“O MAI está concentrado e muito bem nas questões operacionais”, afirmou, tendo ao seu lado a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.

O primeiro-ministro explicou que este gabinete vai, “em diálogo direto e imediato com as autarquias locais”, tratar do “apoio mais urgente” e das necessidades mais imediatas, como colocar escolas das zonas afetadas a funcionar e preparar as unidades de saúde “para receber e tratar pessoas”.

Já o Ministério das Infraestruturas e Habitação vai começar “a programar o alojamento e a recuperação das habitações que foram atingidas”, explicou, enquanto ao nível do Ministério da Agricultura será dado “todo o apoio àqueles que perderam a capacidade de produção” e, ao nível do do Trabalho e Segurança Social, serão avaliadas as respostas sociais e para dar apoio psicológico às populações.

Questionado se pretende visitar os locais afetados pelos incêndios, Montenegro disse que, neste momento, a concentração do Governo é que as entidades que estão envolvidas no combate aos incêndios “possam ter todas as condições para serem operacionais, para se coordenarem”.

“Há uma outra frente que o Governo pode e deve intervir, que é a frente de apoio com todos os serviços que nós tutelamos, é isso que estamos a fazer, criando já amanhã um gabinete”, reiterou, explicando que, apesar de ter sede no concelho de Aveiro, irá acompanhar todo o território afetado.