Previram a própria morte. E acertaram. Dois operadores de drones russos morreram depois de terem sido destacados para um assalto que fazia parte da ofensiva a Povrosk, na Ucrânia. Após um desentendimento com o comandante, os dois especialistas foram integrados num pelotão de infantaria, em jeito de retaliação do superior.

Convencidos de que caminhavam em direção à morte, Dmitry “Goodwin” Lysakovsky e Sergei “Ernest” Gritsai gravaram dois vídeos que foram publicados no Telegram, na sexta-feira. Nele, os dois militares fazem duras acusações ao seu comandante e alertam para a iminência da própria morte.

“Estou a gravar isto porque há uma grande probabilidade de eu não voltar deste assalto”, previu Dmitry “Goodwin” Lysakovsky. que lutava já desde 2014 pela República Popular de Donetsk na região separatista do Donbass, segundo informações de medias russos. Num dos vídeos, aparece ao seu lado, Sergei “Ernest” Gritsai, um oficial de carreira. Ambos eram reconhecidos por especialistas da guerra como sendo dos melhores operadores de drones da linha da frente, reporta a Business Insider.

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Num outro vídeo, Lysakoysky faz um rol de denúncias ao seu comandante Igor “Zloy” Puzyk. Acusa-o de, entre outras coisas, traficar drogas para a sua unidade, reclamar falsos ganhos no terreno e providenciar informação a uma rede de espiões militares ucranianos. “Mentiras são uma norma absoluta”, resume o militar.

Outro ressentimento expressado por Lysakoysky foi o desmantelamento da unidade de drones de alta performance que fazia reconhecimento na linha da frente da guerra a que pertencia com Gritsai e que eventualmente promoveu o destacamento dos dois para um pelotão de infantaria. “Por favor, não sirvas no Ministério da Defesa… a tua tarefa é morrer aqui para que o comandante do teu regimento pareça bem aos olhos dos seus superiores. Serás um dos seus servos pessoais”, acusa.

No domingo, o Ministério da Defesa confirmou a morte dos dois soldados e pediu ao comandante do exército russo na Ucrânia que conduzisse uma investigação sobre as baixas e o vídeo. Contudo, esta comunicação oficial não conseguiu contrariar as críticas à atuação do ministério de influencers pró-guerra russos.

Este caso voltou a trazer à discussão o envio de militares especialistas – como operadores de drones e snipers – para assaltos de infantaria. O jornalista russo pró-kremlin Alexander Kots qualificou esta decisão de “sabotagem”.

Este parece não ser um caso isolado, mas uma “prática abertamente criminosa” de “natureza sistémica”, “tanto por falta de pessoal como por hostilidade por parte dos comandantes”, defende o comentador político Svytoslav Golikov.

No vídeo de despedida, Dmitry e Sergei afirmam que apenas cumpriram com a missão suicida que lhes foi imposta, devido à “jura que fizeram à mãe pátria”.