O grupo sueco Northvolt, que era apontado como a grande esperança europeia para concorrer com os chineses no fabrico de baterias, está em crise financeira e anunciou o corte de um quinto da sua força de trabalho.

Esta reestruturação agressiva vai afetar 1.600 postos de trabalho, a maioria dos quais na principal unidade industrial situada no norte da Suécia, em Skelleftea. A Northvolt é parceira da Galp na construção de uma refinaria de lítio em Setúbal, o projeto Aurora que entrou recentemente em fase de consulta ambiental. No anúncio da reestruturação ao mercado, o grupo sueco não sinalizou se pretende prosseguir com este projeto em Portugal.

Fonte oficial da Galp diz que o “projeto Aurora continua a desenvolver ações (incluindo para garantir acesso a fundos que nos permitam competir com outros projetos), os estudos indispensáveis para que estejam reunidas as condições para a tomada de decisão final de investimento e os processos de licenciamento (incluindo o ambiental)”.

Sem se referir à situação da Northvolt, a Galp lembra que é “também determinante termos confiança sobre a data de início de produção de concentrado de espodumena das minas em Portugal.» É uma referência à exploração mineira de lítio da Savannah, no Barroso, que está ainda em fase de aprovação ambiental do projeto de execução para iniciar a produção. De acordo com o quadro legal, esta produção terá de ser preferencialmente escoada em Portugal de forma a potenciar uma fileira industrial do lítio.

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O lítio é a matéria-prima usada na produção de baterias elétricas, daí o envolvimento da Northvolt no projeto da refinaria da Galp. As fábricas do grupo na Suécia são um dos três destinos de exportação do lítio a produzir em Setúbal pelo projeto Aurora. Noruega e Hungria são outros mercados potenciais apontados nos documentos do estudo de impacte ambiental que estão em consulta pública. Setúbal foi a localização escolhida para a refinaria de lítio depois de estudadas as opções de Estarreja e Sines.

Para Sines está prevista a instalação de uma fábrica de baterias do grupo chinês Calb, que não é referida como potencial cliente nos estudos do projeto Aurora. O investimento previsto oscila entre 1,1 mil milhões e 1,3 mil milhões de euros, com o parceiro sueco a ter uma participação de 30% face aos 70% da Galp. O início da operação está previsto para abril de 2028 e pode criar até cerca de 360 postos de trabalho.

Galp e Northvolt querem investir 700 milhões em unidade industrial em Portugal, mas lítio virá também de fora

As atenções dos gestores do grupo sueco estão agora concentradas em reduzir as necessidade de capital para acalmar os financiadores e atrair novos investidores. Na origem dos problemas imediatos da Northvolt estão as dificuldades sentidas em atingir o nível de produção de baterias previsto para a mega-unidade no norte da Suécia. Mesmo triplicando a produção para 60 mil células de bateria por semana, esta está muito aquém da meta anual de produção de 1 gigawatt hora de baterias, o nível necessário para abastecer 17 mil carros, segundo números citados pelo Financial Times.

A consequência da incapacidade em responder dentro dos prazos foi o cancelamento de um contrato de dois mil milhões de euros com a BMW, um dos primeiros clientes da Northvolt e financiador da empresa, que se virou para a Samsung para conseguir as baterias. A pressão financeira sobre o fabricante de baterias aumentou depois do primeiro-ministro sueco ter afastado um resgate ou apoio público à Northvolt.

A empresa é considerada uma startup, tendo angariado mais de 15 mil milhões de euros de financiadores do setor automóvel, como a BMW e a Volkswagen, mas também da Goldman Sachs e da Siemens, para além de alguns Estados e de fundos de pensões.

“Para alguém que tem trabalhado tão arduamente durante tantos anos para construir uma coisa, dias como este são incrivelmente dolorosos”. Em declarações ao Financial Times, o presidente executivo e co-fundador Peter Carlsson argumenta que é necessário “fazer isto e reduzir os nossos custos”. A empresa suspendeu a expansão da unidade de Skelleftea, junto ao círculo polar ártico (norte da Suécia), onde pretende reduzir 1.000 postos de trabalho, que se juntam mais 400 em Västerås, no centro do país e que acolhe os laboratórios, e 200 na sede em Estocolmo.

Os planos para três futuras fábricas, uma das quais na Suécia em parceria com a Volvo e outras na Alemanha e Canadá, também podem ser adiados.

Apesar do presidente executivo da Northvolt considerar que o impulso para a eletrificação permanece forte, os sinais do mercado de venda de carros elétricos apontam no sentido contrário. A venda de carros elétricos na Europa caiu mais de 40% em agosto, atingindo o nível mais baixo em três anos. Esta tendência, também foi sentida em Portugal, onde as vendas recuaram 19% em agosto, ainda assim menos do que as fortes quedas sofridas nos mercados alemão e francês. Para além de uma menor atração dos consumidores por carros exclusivamente elétricos — há um interesse maior por carros elétricos híbridos — a imposição de tarifas que tornam mais caros os elétricos fabricados na China também é apontada para esta evolução.