O presidente democrata da Câmara de Nova Iorque, Eric Adams, foi acusado numa investigação da procuradoria federal de Manhattan sobre o financiamento da campanha em 2021. Inicialmente, o New York Times noticiou que Adams estava a ser acusado, mas sem detalhar concretamente quais os crimes. Só depois, após buscas à residência oficial do autarca, é que os procuradores divulgaram o que está em causa nesta investigação. O autarca enfrenta acusações de conspiração para cometer fraude, receber contributos ilegais por um cidadão estrangeiros, duas acusações de solicitação de contributos a um cidadão estrangeiro e ainda subornos.
Os procuradores detalham que há suspeitas de que Eric Adams tenha recebido mais de 100 mil dólares em benefícios e subornos, incluindo várias viagens de luxo. O New York Times menciona uma viagem de ida e volta de Nova Iorque para a Índia em 2016, bilhetes de avião em classe executiva para Adams e outras duas pessoas de Nova Iorque e França, Turquia, Sri Lanka e China em julho de 2017, além de uma estadia com desconto nas Bentley Suites, que terá sido aceite também nessa altura. Há ainda registo de bilhetes de primeira classe para uma viagem de avião de ida e volta para Adams e outra pessoa entre Nova Iorque e China, já em outubro de 2017. A lista inclui também estadias em hotéis de luxo e um resort em junho de 2021.
Estes benefícios de viagens resultam “de uma conduta ilegal”, sublinhou o procurador norte-americano Damian Williams, explicando que Eric Adams tirou partido de “benefícios de viagem durante anos” vindos de “pessoas turcas ricas e de pelo menos um oficial turco”.
Os procuradores consideram que Eric Adams tinha a obrigação de reportar estas viagens, algo que não fez, e que foi cometida uma “grave violação da confiança do público”. “Ter um cargo público é um privilégio. Alegamos que o presidente Adams abusou desse privilégio e violou a lei”, disse o procurador Damian Williams em conferência de imprensa.
O autarca de 64 anos era alvo há vários meses de uma investigação sobre acusações de donativos ilegais de empresas de construção ligadas à Turquia. O anúncio da acusação segue-se à demissão de várias pessoas próximas do presidente da Câmara nos últimos dias. Na quarta-feira, ainda antes do anúncio, a representante de Nova Iorque na Câmara dos Representantes e figura de esquerda Alexandria Ocasio-Cortez apelou ao autarca para que se demitisse, “para o bem da cidade”.
Eric Adams disse “estar inocente” na noite de quarta-feira. “Sempre soube que, se defendesse os interesses dos nova-iorquinos, seria um alvo — e tornei-me um“, disse, em comunicado. O presidente da Câmara Municipal de Nova Iorque vai ser presente a juiz esta sexta-feira, explica o New York Times.
A Câmara Municipal de Nova Iorque tem assistido a uma proliferação de casos nos últimos meses. Estão em curso pelo menos quatro inquéritos federais, três dos quais da responsabilidade do Ministério Público de Manhattan, contra o presidente da Câmara e pessoas que lhe são próximas.
Esta semana, a equipa de Eric Adams foi abalada pelo anúncio das demissões do comissário da saúde da cidade Ashwin Vasan, e do responsável pela educação David C. Banks, um colaborador próximo de Eric Adams que geria todo o sistema de educação pública da cidade, abrangendo um milhão de alunos.
No início deste mês, apenas um ano depois de ter assumido a chefia do Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD) e de 36 mil agentes, também Edward Caban apresentou a demissão.
Eric Adams venceu as primárias democratas de 2021 com a promessa de reduzir a criminalidade, que tinha disparado em Nova Iorque durante a pandemia da Covid-19. Reduziu a taxa de crimes violentos, mas o custo de vida disparou, incluindo o aumento sem precedentes das rendas. No final do ano passado, a popularidade de Adams caiu para um mínimo de 28%.
Neste contexto, vários rivais declararam a candidatura para as primárias do partido em 2025.
(Atualizada com mais informação às 23h27)