On Falling, filme produzido entre a Bro Cinema e a Sixteen Films, que concorreu à Concha de Ouro na 72.ª edição do Festival de San Sebastián, sai do País Basco com um dos prémios mais importantes: a Concha de Prata entregue a Laura Carreira para Melhor Realização, prémio partilhado com o cineasta de El Llanto, Pedro Martín-Calero.

É um momento único para o cinema português ,nunca antes alcançado neste festival, já que o filme conta com produção portuguesa e começou por ser trabalhado a partir do financiamento do Instituto do Cinema e Audiovisual. E é também um momento-chave para a carreira da cineasta emigrada em Edimburgo, que rapidamente se transformou numa das front runners em San Sebastián com a sua história contida sobre a solidão na precariedade, interpretada por Joana Santos, que esteve perto de vencer o prémio de Melhor Atriz.

“É um reconhecimento enorme do meu trabalho e de todas as pessoas. Todo o seu talento e generosidade. Ando há muitos anos a tentar fazer filmes, esta é a primeira longa-metragem e a minha maior esperança é que não seja o último. Agora quero ir escrever, algo que já não faço há muito. Mas não quero que a minha vida mude. O maior presente que este filme me podia dar é continuar a poder fazer mais”, disse Laura Carreira ao Observador no festival.

[o trailer de “On Falling”:]

O filme já tinha tido um bom desempenho no TIFF, festival de Toronto, por onde passou, com críticas positivas em publicações da especialidade como o IndieWire. Na Europa, títulos como El Mundo, Deadline, The Guardian ou El Contraplano desdobraram-se em elogios. “O drama de trabalho da Laura Carreira faz de Ken Loach melhor que o próprio Ken Loach”, escreveu-se. Também a imprensa espanhola, em peso para a cobertura do festival, começou a mostrar interesse no filme português, já que uma das referências jornalísticas mais importantes do país, Pepa Blanes, da Cadena SER, quis fazer uma entrevista exclusiva com a autora emigrada na Escócia.

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Mas, no festival de San Sebastián, muito politizado, o filme começou a marcar pontos quando foi mostrado na sala principal do Kuursal na passada quarta-feira, recebendo uma das reações mais emocionadas do festival. A forte possibilidade do filme sair do País Basco com prémios tornou-se real na reta final, não só por causa da massa crítica que o apoiava, mas também do público e da comunidade jornalística que cobriu o festival.

Do lado das escadas daquele edifício, onde as equipas de cada filme se posicionam para um momento fotográfico, era visível o ar incrédulo da equipa de On Falling, que ficou “desconcertada” com o momento, cheio de gente a aplaudir. Albert Serra, com Tardes de Soledad, (produção que venceu a Concha de Ouro para Melhor Filme) Mike Leigh, com Hard Truths ou Costa Gravas com The Last Breath mostravam ser nomes fortes nestes dias, mas a surpresa era mesmo a entourage portuguesa. O júri presidido pela vencedora da Concha de Ouro do ano passado, Jaione Camborda, com O Corno de Centeio, acabou por premiar o bom desempenho do filme.

“On Falling”: é em San Sebastián que começa a conquista de Laura Carreira e Joana Santos?

Mário Patrocínio, que teve de sair do País Basco para voltar trabalhar na atual produção que coordena, acabou por ter de regressar. “É um momento singular no cinema português, porque prova que o esforço multidisciplinar com ADN nacional, aliado a uma colaboração muito produtiva internacional, revela o que de melhor se consegue fazer a nível criativo. Este prémio mostra garra, determinação e sobretudo personalidade de uma realizadora jovem que conquista um grande palmarés na sua primeira longa metragem. Um orgulho para a equipa BRO Cinema que acreditou e acarinhou desde o início neste projeto”, disse. Recorde-se que o produtor português decidiu começar a trabalhar com Laura Carreira assim que viu um dos seus primeiros trabalhos — antes desta longa-metragem, a realizadora contava com duas curtas-metragens, The Shift (2020) e Red Hill (2018) —  no ShortCutz, circuito de curtas-metragens português, tentando um apoio de escrita junto do Instituto de Cinema e Audiovisual. O apoio foi conseguido e permitiu à realizadora trabalhar neste projeto, sem precisar de recorrer a mais trabalhos, realidade bem conhecida quando teve de emigrar com a mãe com apenas 18 anos.

Durante a cerimónia de entrega de prémios, Laura Carreira confessou ainda que “estava com medo antes de começar a rodar, de tudo o que podia correr mal, mas o On Falling mostrou-me que o cinema é um ato coletivo”. Sendo já impossível concorrer com esta obra aos Óscares de 2025 através da Academia Portuguesa de Cinema, é bem possível que a equipa por detrás desta produção portuguesa com a Sixteen Films possa arriscar uma campanha nos Estados Unidos da América no próximo ano. Para já, o filme vai passar por festivais como o BFI em Londres e o Festival Internacional de Roma. E tem estreia marcada em Portugal também no próximo ano.

A Concha de Ouro também tem, de certa forma, ligação a Portugal, já que o filme vencedor, “Tardes de Soledad”, de Albert Serra, foi coproduzido pela Rosa Filmes, de Joaquim Sapinho, e contou também com o apoio da RTP. No entanto, para já, o filme não tem distribuição nacional assegurada.