Os avisos sucedem-se. O Presidente da República voltou este domingo à carga, insistindo que o importante é a aprovação do Orçamento do Estado para 2025, nem que para isso os partidos, neste caso o PS, e o Governo tenham de abdicar das suas convicções.
Em Cantanhede, Marcelo Rebelo de Sousa dramatizou as consequências de um possível chumbo do OE. Desde logo para o Governo de Luís Montenegro. “Um Governo que já está pendurado por um fio fraco, que é uma maioria fraca, sem Orçamento fica pendurado por linhas”, afirmou, em declarações transmitidas pela RTP.
Para o Presidente, o atual contexto mundial, económico e político, torna urgente a aprovação do documento. “Que diabo, na situação do mundo e da Europa, não sei se não era de fazer um esforçozinho, espero que até ao último minuto”.
O discurso do Presidente foi um reforço dos avisos que já tinha deixado na noite deste sábado. Marcelo voltou a referir que “se os dois grandes partidos não se entenderem, quem vai desempatar é o terceiro. A bola fica nas mãos da terceira força política”, o Chega.
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que está a fazer “pressão”, por ser essa, no seu entendimento, a sua função. “Um dos poderes” do Presidente “é o magistério de influencia. Sempre que entende que há um tema de importância para o país, exerce a sua influência ou a sua pressão para que as coisas corram de uma maneira e não de outra. Todos os meus antecessores fizeram isso e acho que fizeram bem”.
Neste caso concreto, continuou Marcelo, “entendo que há razões internacionais muito diferentes dos últimos 30 ou 40 anos” para aprovar o Orçamento, como a guerra na Ucrânia, o conflito no Médio Oriente, o “problema que esta a surgir da ausência de peso efetivo de grandes potências”, a “viragem de ciclo” na União Europeia” e o “agravamento da situação económica” de países como a Alemanha”. Por estas razões, o Presidente dá “uma importância maior ao OE deste ano do que dei ao longo da minha vida”.
“O que tenho feito é de facto influência. Quando dizem: ele está a fazer influência? Estou a fazer influência. Mas ele está a fazer pressão? Estou a fazer pressão”, admitiu o Presidente.
Sublinhando que “as pessoas são livres”, Marcelo insistiu na questão do “interesse nacional” e deixou mais apelos a Luís Montenegro e a Pedro Nuno Santos, que já este domingo afirmou que prefere perder eleições do que abdicar das convicções.
Pedro Nuno Santos responde a Marcelo: “Prefiro perder eleições do que abdicar das nossas convicções”
Marcelo não concorda. “Abdicando de convicções, claro. Eu abdiquei de convicções como líder da oposição em muitos pontos para acertar com o engenheiro Guterres um acordo”, lembrou. “Era mais cómodo não ter abdicado de alguns pontos, fui muito atacado no meu partido por ter feito isso, mas acho que fiz bem”.
O mesmo se aplica ao Governo, acrescentou. “O Governo tem de perceber que o facto de ter um programa que passou no parlamento, não quer dizer que o aplique todo agora de imediato, e se tiver de fazer cedências no programa para tornar possível um acordo deve fazer cedências”.
Questionado sobre se as cedências devem ser feitas no IRC e no IRS Jovem, as duas medidas que separam Governo e PS, Marcelo disse apenas não querer “discutir pormenores”. “Se as convicções nesses dois pontos são mais importantes do que haver um orçamento, eu respeito mas não é o meu ponto de vista”.
Lembrando que “ninguém tem maioria”, o Presidente reforçou que “para mim o OE é sempre importante mas neste ano é mais importante. Se o mundo não estivesse como está diria ‘vamos a tira teimas e cada um fica com as suas convicções”.
O Presidente da República considera que, face ao impasse, “ninguém está condenado”, mas a situação do país complica-se. “Eu preferiria que eles se entendessem. Não sendo assim, sobra para o terceiro partido, aí preferiria que ele desempatasse de forma a haver orçamento. A última hipótese era isso vir parar as mãos do Presidente”.