Começou por escrever crónicas de costumes, com um título que não foi ela a escolher e que nunca lhe agradou: “Bisbilhotices”. Mas, ao longo de 78 anos de vida, fez muito mais do que isso — e logo a começar nas crónicas, que, se pretendiam ser sobre as festas e as caras da alta sociedade portuguesa, acabavam muitas vezes por servir para fazer críticas mais ou menos veladas ao Estado Novo.

Como Maria Armanda Falcão, o nome de batismo, ou na persona de Vera Lagoa, o pseudónimo que os amigos jornalistas lhe inventaram num almoço bem regado no Bairro Alto, em 1966, ela afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país.

E não só: também organizou concursos de misses; foi a primeira locutora da RTP; conseguiu ser despedida por “excesso de personalidade”; fundou jornais; foi vítima de ataques à bomba, arguida em centenas de processos e convidada para milhares de festas.

Ao longo da vida inteira, Vera Lagoa fez questão de provocar — e de não ter medo. Garantia que era “anti-poder”, nem de esquerda, nem de direita, e que se “limitava a dizer as verdades”. “As verdades às vezes são incómodas”, disse, em 1992, numa entrevista de vida à RTP.

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Até ao fim, recusou o rótulo de fascista, que se lhe colou assim que a poeira da revolução assentou, logo a ela, que durante os anos do regime era conhecida por esconder comunistas dentro da própria casa e chegou a fazer parte da campanha eleitoral do general Humberto Delgado.

“Depois do 25 de Abril tiraram o meu nome, passaram a pôr Maria Armanda Falcão porque acharam que Vera Lagoa era fascista. O curioso é que quem o dizia estava sempre à minha direita em tudo o que se passava em Portugal. Depois veio o 25 de Abril e passaram para ‘aqui’ [para a esquerda] e fiquei eu na direita. Como não havia mais ninguém na direita tinham de enfiar a carapuça em alguém”, disse na mesma entrevista à televisão pública, cinco anos de morrer, era ainda diretora do jornal “O Diabo”.

O novo Podcast Plus do Observador chama-se “A Grande Provocadora” e conta a história e as várias vidas de Vera Lagoa, a mulher mais temida pelos poderosos de todos os regimes.

É uma série para ouvir em cinco episódios que têm narração do ator José Mata e banda sonora original composta por Moullinex.

A estreia está marcada para esta terça-feira, dia 1 de outubro, mas já pode ouvir o trailer aqui:

Trailer “A Grande Provocadora”. Podcast estreia a 1 de outubro

Como habitualmente, a cada terça-feira sai um novo episódio — mas se é assinante do Observador não vai ter de esperar para ouvir a série completa, que vai estar disponível já no dia de estreia, no site do jornal.

“A Grande Provocadora” tem guião e entrevistas de Ana Sanlez. A sonoplastia é de Artur Costa e o design gráfico de Miguel Feraso Cabral.