A China já não contesta os resultados da análise da União Europeia aos subsídios ilegais do Estado aos construtores locais, para os tornar mais competitivos, pretende apenas encontrar uma fórmula menos “dolorosa” para os seus fabricantes, a maioria pertença do Estado. Com a produção de veículos chineses a rondar 40 milhões e o mercado local a absorver pouco mais de metade, ou a China exporta ou a sua economia sofre mais um considerável revés, a somar à crise do crédito à habitação, como explica a Bloomberg. A solução passa por exportar para a Europa, EUA e Canadá, os únicos mercados que podem adquirir os modelos mais sofisticados e mais dispendiosos que os chineses produzem. E como os mercados do outro lado do Atlântico avançaram com taxas adicionais de 100%, resta-lhes convencer os europeus a suavizar a reacção à subsidiação ilegal.

De início a China retaliou, ameaçando perseguir as importações de laticínios, porco e cognacs, sendo que os suínos são exportados sobretudo pelos EUA, Dinamarca e França, ao passo que os brandies mais caros são fabricados em exclusivo pelos franceses. Isto como se os chineses mais ricos estivessem na disposição de passar a consumir a vodka russa em vez dos Courvoisier e Rémi Martin. Mas rapidamente as represálias chinesas mudaram de foco e passaram a concentrar-se nos BMW, Mercedes e Porsche mais caros, produzidos na Alemanha e exportados para a China, que representam hoje, e em alguns casos, 30% do total das vendas. Tal levou estes construtores a pressionar o Governo a exigir que a Europa suavizasse as penalizações aos carros eléctricos fabricados na China. No limite, as taxas podem atingir 35,3% a somar aos 10% pagos até aqui, mas a realidade é que a Alemanha nunca conseguiu o apoio de 15 países, em representação de 65% da população, conforme recorda o Politico.

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Já em cima do final do prazo e sem outras formas de fazer pressão sobre a Europa, para além do porco, do cognaq e dos carros de luxo germânicos (que se revelaram ser marginais), a China optou então por “tirar um coelho da cartola” para diminuir as taxas. A proposta dos chineses passava por estabelecer voluntariamente preços mínimos para os carros a bateria importados da China, de forma a atenuar os subsídios ilegais de que foram beneficiários. No entanto, a equipa de Ursula von der Leyen considerou a proposta inaceitável, não só por ser difícil de implementar, como por não anular os subsídios ilegais recebidos.

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Mas a UE permitiu que os negociadores chineses revissem a sua proposta, tornando-a mais “razoável” para os europeus. Sabe-se agora que derrapou para 4 de Outubro o prazo para votação dos 27 países da União para a oficialização das medidas anti-subsídios dos eléctricos chineses, que deveriam ter sido votadas a 25 de Setembro. E podem, entretanto, surgir mais países dispostos a votar contra a adopção destas medidas.