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O maior ataque de sempre. Uma nova geração de mísseis balísticos a estrear. Cerca de uma hora de ataque. Ainda assim, a ordem do aiatolá Ali Khamenei para o segundo ataque direto de Teerão contra Israel foi apenas uma tomada de posição, mais do que uma escalada para uma guerra total no Médio Oriente. É essa a leitura de todos os especialistas sobre o que se passou esta terça-feira, quando 22o mísseis atingiram várias cidades israelitas, em duas ondas de cerca de meia hora, com uma pequena pausa entre elas.

Este ataque do Irão contra Israel teve o dobro da dimensão do ataque anterior, em abril deste ano, o primeiro entre os dois países. Os 220 mísseis balísticos Fattah-1, que nunca tinham sido utilizados por Teerão, foram disparados ao longo de cerca de 60 minutos, visando todo o território e obrigando os cerca de dez milhões de israelitas a recorrer aos abrigos anti-bomba, depois de receberem uma mensagem e de ouvirem as sirenes de aviso. Afinal, os EUA tinham sido alertados (tal como a Rússia) por Teerão e rapidamente deram o alerta à defesa israelita, que se reuniu para responder ao que estaria para chegar.

A maior parte dos mísseis foi intercetado pelos sistemas de defesa anti-aérea israelitas, a Cúpula de Ferra e a Funda de David. Alguns caíram em zonas pouco populosas no centro de Israel, onde se verificaram dois feridos ligeiros e alguns danos materiais, avançaram as Forças de Defesa de Israel (IDF). Na Cisjordânia ocupada, um homem palestiniano foi morto, depois de ser atingido por destroços. Também terá morrido um beduíno, segundo uma fonte oficial dos EUA.

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A informação de um ataque iminente do Irão foi avançada ainda durante a tarde de terça-feira por oficiais norte-americanos, que avisaram Telavive da ameaça, que deveria incluir entre 240 e 250 mísseis balísticos. Por volta das 19h30, hora local (17h30 em Lisboa), as Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram que um ataque tinha sido lançado e avisaram os civis que deviam dirigir-se aos abrigos anti-bomba e permanecer aí até aviso em contrário.

“O ataque contínua. As explosões que ouvem têm origem em interceções ou quedas. O sistema de defesa aérea deteta e interceta ameaças a toda a hora”, escreveu no X o porta-voz das IDF, Daniel Hagari, a meio do ataque. Quase uma hora depois do primeiro comunicado, Hagari fez novas declarações: não tinham sido identificadas mais ameaças por parte do Irão e os civis podiam sair dos abrigos.

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Quando chegou a hora de fazer o rescaldo, os Estados Unidos anunciaram que tinham colaborado com as tropas israelitas na interceção dos ataques, destruindo cerca de uma dúzia dos mísseis balísticos. Em conferência de imprensa, o conselheiro de Segurança Nacional norte-americano, Jake Sullivan, confirmou a intervenção de dois navios de guerra Destroyer, em conjunto com a defesa das IDF, avançando a diferença de dimensão para o ataque de abril. “O ataque foi derrotado e ineficaz”, afirmou, palavras repetidas mais tarde por Joe Biden.

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Mais tarde, os EUA diriam ainda que alguns dos mísseis, apesar de serem de última geração, foram intercetados ainda sobre a Jordânia.

O ataque em massa foi lançado a partir de várias bases militares da Guarda Revolucionária, em Karaj, Kermanshah e na região fronteiriça com o Azerbaijão. Contrariando os relatos das IDF que a maior partes dos mísseis tinham sido intercetados, a televisão estatal iraniana, citada pela Reuters, avançou que tinham sido atingidos 80% dos alvos — que incluíam bases militares e o quartel general da Mossad, a agência de informação israelita. Foram também os media ligados ao regime de Teerão que avançaram a que esta foi a primeira utilização dos mísseis hipersónicos Fattah de última geração.

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A tomada de posição iraniana para responder aos ataques israelitas

A confirmação iraniana do ataque surgiu ainda antes da declaração das IDF de que este já tinha chegado ao fim. A Guarda Revolucionária do Irão afirmou que tinha lançado os ataques em resposta ao assassinato de vários comandantes do Hezbollah ao longo das últimas duas semanas, no seu território, incluindo o secretário-geral do grupo xiita, Hassan Nasrallah. “Se o regime sionista reagir à operação do Irão, vai enfrentar mais ataques ferozes”, ameaçaram, num comunicado citado pelo New York Times.

O mesmo jornal adiantava, contudo, que a decisão não foi unânime dentro da cúpula política iraniana e que foram os comandantes da Guarda Revolucionária que pressionaram o líder supremo do Irão, o aiatolá Ali Khamenei, a aprovar o ataque. Três fontes militares iranianas revelaram, sob anonimato, que estas forças mais conservadoras consideraram que uma resposta militar era o único caminho para manter a força iraniana e mostrar o seu poder e posição na região: uma ausência de resposta era vista como uma demonstração de fraqueza.

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Este grupo, em que se incluiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, revelou algum arrependimento pelo facto de Teerão não ter tomado uma posição mais cedo, nomeadamente depois do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, ter sido morto por Israel enquanto estava no Irão. A isto somou-se o discurso do novo Presidente, Massoud Pezeshkian, na Assembleia Geral das Nações Unidas durante a semana passada, que foi percecionado como uma tentativa de agradar aos pedidos de contenção ao Ocidente e, por isso, classificado como “uma traição”, relataram as mesmas três fontes.

Ainda assim, em Teerão, este ataque é entendido como uma tomada de posição, mais do que como uma tentativa de escalar a guerra. E apesar de, em privado, o novo presidente do país, Pezeshkian, apresentar reservas quanto a uma guerra direta com Israel, em público irá sempre permanecer do lado de Khamenei, revelou um dos seus conselheiros ao jornal norte-americano. Seja como for, e apesar do ataque ter sido muito mias forte que em abril e usado armas mais eficazes, os danos foram mínimos. Se o Irão quisesse escalar a guerra, teria ido muito mais longe. E os EUA não teriam tido sabido com tanta antecedência para avisar o seu aliado.

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Falta saber o que se segue. E isso depende da resposta de Israel.