Melania Trump descreve no seu novo livro de memórias como obrigou o marido, então presidente dos EUA, Donald Trump, a abandonar uma política de imigração ao abrigo da qual as crianças imigrantes eram separadas dos pais.
“Isto tem de acabar”, terá dito a ex-primeira-dama ao marido, “sublinhando o trauma que estava a causar às famílias”. A 20 de junho de 2018, Trump, que até então tinha mantido uma política de “tolerância zero” no que diz respeito à imigração, assinou um decreto para acabar com a separação de famílias na fronteira dos Estados Unidos com o México.
É uma das revelações que Melania Trump faz em Melania, que chega às livrarias norte-americanas a 8 de outubro, a um mês das eleições presidenciais naquele país, reporta o jornal The Guardian, que teve acesso a uma cópia antecipada. No livro de memórias, a ex-modelo também defende o direito ao aborto, escrevendo que este “é crucial garantir que as mulheres têm autonomia para decidir se querem ter filhos”.
“Os desacordos políticos ocasionais entre mim e o meu marido faziam parte da nossa relação”, discorre Melania Trump, que “acreditava que era melhor abordá-los em privado do que desafiá-lo publicamente”. “Para mim, as nossas discussões eram mais produtivas quando podíamos ter um diálogo tranquilo em casa, longe dos olhos do público”, diz ainda, no livro citado pelo jornal britânico.
Ainda sobre imigração, Melania Trump escreve: “Dadas as minhas experiências anteriores com narrativas injustas dos meios de comunicação social, sempre abordei as notícias com algum ceticismo. Antes de falar com ele sobre a crise na fronteira, informei-me cuidadosamente sobre a situação”. Os relatos de crianças “detidas em centros de detenção sobrelotados e em condições de absoluta miséria (…) levantaram sérias questões sobre a sua saúde e bem-estar. A falta de um plano claro para reunir as famílias e a ausência de uma política definitiva sobre estas separações só veio aumentar a indignação do público. Senti fortemente que a situação exigia atenção e ação urgentes”.
Descrevendo a aproximação a um marido “cuja posição dura sobre a imigração era bem conhecida”, Melania Trump sublinha: “Sou solidária com todos os que desejam encontrar uma vida melhor neste país. Sendo eu própria uma imigrante, compreendo intimamente o necessário e árduo processo de se tornar legalmente americana.”
Nascida na Eslovénia, Melania tornou-se cidadã americana em julho de 2006, oito anos depois de ter conhecido Donald Trump e pouco depois de ter tido o filho do casal, Barron.
Relativamente à separação das crianças das famílias, Melania reforça: “Embora apoie fronteiras fortes, o que se estava a passar na fronteira era simplesmente inaceitável. Falei imediatamente com Donald sobre as minhas profundas preocupações relativamente à separação das famílias, salientando o trauma que estava a causar a estas famílias. Como mãe que sou, sublinhei: O Governo não devia estar a afastar as crianças dos pais. Disse com grande clareza … ‘Isto tem de acabar'”. “Donald garantiu-me que iria investigar a questão e, a 20 de junho, anunciou o fim da política de separação das famílias”, recorda.
A intervenção da então primeira-dama foi noticiada na altura e Melania Trump chegou mesmo a visitar as fronteiras. Foi numa dessas viagens que causou controvérsia ao vestir um casaco onde se lia “I really don’t care, do U?” (“Eu não quero mesmo saber, e tu?”, em tradução livre).
Tal como os direitos reprodutivos, também a imigração é um tema quente na campanha que culminará a 5 de novembro, quando os americanos escolherem Donald Trump ou Kamala Harris para presidir o país nos próximos quatro anos.