O PS está até agora sem saber a decisão final do Governo sobre a contraproposta que enviou na última sexta-feira, nas negociações para um acordo para a viabilização do Orçamento para 2025. Esta noite o primeiro-ministro dará uma entrevista, à SIC, e no partido comenta-se que “do ponto de vista ético” devia dar a conhecer a sua resposta ao PS “pelo menos um minuto antes” desse momento.

“Não temos resposta do Governo”, garante um dirigente socialista ao Observador. Outro dirigente diz que o partido está mesmo a aguardar a entrevista desta noite para “perceber o tom” do primeiro-ministro e, com isso, concluir se há condições ou não para um acordo. “Não vejo outra razão para dar a entrevista”, comenta ainda um alto dirigente que aponta que “do ponto de vista ético”, Montenegro “devia pelo menos um minuto antes mandar a contraproposta ao PS”.

Esta tarde o líder do partido chamou os presidentes das federações que, tal como o Observador escreveu na semana passada, mostravam-se pouco convencidos sobre a hipótese de eleições antecipadas. Ainda assim, na reunião terão dado, segundo um dos presentes na reunião, “apoio unânime à posição negocial do secretário-geral, seja qual for o cenário”. Está “tudo em aberto”, comenta com o Observador um dirigente que esteve na reunião.

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“A bola está do lado do Governo”, atira-se no partido onde ainda se aguarda pela resposta do primeiro-ministro para fechar uma posição sobre o Orçamento numa altura em que a redução do IRC é o ponto de tensão. O Governo calendarizou uma descida até 17% no final da legislatura e o PS não quer comprometer-se com mais do que uma descida de um ponto percentual no próximo ano. Na sexta-feira, Pedro Nuno Santos disse que aceitava a descida proposta para 2025, se o Governo concordasse não prosseguir com a trajetória nos três anos seguintes.

Pedro Nuno Santos vai reunir-se esta terça-feira à noite com os deputados do partido, na Assembleia da República, e o unanimismo não deverá ser o mesmo que se relata da reunião desta tarde. Na bancada estão deputados como José Luís Carneiro ou Fernando Medina, que têm feito declarações públicas mais inclinadas para um acordo nesta fase.

Entre os deputados com que o Observador falou contam-se as mais diversas opiniões. Um socialista comenta que querer condicionar o Governo no IRC para lá de 2025 “é inaceitável. Isso seria um acordo de governação”, ainda que admita também que o PS “não pode aceitar um orçamento com um compromisso plurianual” desta natureza. Para este deputado, o acordo deveria ser feito a meio caminho, com o PS a aceitar um ponto de descida e o Governo a abrir mão do calendário.

“Têm de se entender”, comentou ainda. Outro deputado do partido diz que “a proposta do governo pode não ser irrecusável mas é muito parecida com isso”. “O Orçamento é para 25, se querem fazer um acordo para o futuro isso é outro assunto”, diz sobre o principal ponto de impasse neste momento. Se o acordo não se fizer, depois do trajeto feito até aqui, “nem um nem outro ficarão bem na fotografia”, comenta o mesmo deputado: “Estão condenados a entenderem-se”.

[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]

Depois da conferência de imprensa do líder do Chega esta terça-feira, eram muitos os socialistas que ironizavam: “Agora é irrelevante a posição do PS. O Governo já tem acordo com o Chega”. No partido há quem aponte o risco de um entendimento com a AD nesta altura deixar “o Chega como a referência na oposição ao governo. Isso é perigoso”.

Já Francisco Assis, na Rádio Observador, voltou a pressionar Pedro Nuno Santos para aprovar o Orçamento do Estado, alertando que é preciso “afastar Chega da área do poder” e não normalizar o partido de Ventura  ao dar-lhe a possibilidade de viabilizar o Orçamento.

Apesar de dizer que não está a par do que se passa internamente no PS — por estar em Estrasburgo para a sessão do Parlamento Europeu — Assis diz que olha “mais com preocupação do que com entusiasmo” para a reunião da bancada parlamentar do PS que decorre esta terça-feira à noite. E adverte os deputados do PS que “com sentido de responsabilidade que é próprio de um grande partido como o PS, devem estar cientes do que está em causa e das implicações das decisões que vierem a tomar.”

Assis “preocupado” com reunião da bancada pressiona Pedro Nuno a viabilizar OE para “afastar Chega da área do poder”