Uma equipa de investigação da Universidade de Coimbra (UC), após mais uma missão de escavações no Curdistão Iraquiano, regressou a Portugal com dados inéditos sobre o início da Idade do Bronze na Mesopotâmia.
“A investigação vem acrescentar novas informações à história das primeiras comunidades que habitaram esta região há cinco mil anos”, afirmou a UC, em nota enviada esta sexta-feira à agência Lusa.
A campanha de escavações decorreu entre 24 de agosto e 27 de setembro, no âmbito do Projeto Arqueológico de KaniShaie(KSAP), liderado pelo Centro de Estudos em Arqueologia Artes e Ciências do Património (CEAACP) da UC, em colaboração com a Universidade de Cambridge.
Depois de mais uma campanha de escavações no âmbito do Projeto Arqueológico de Kani Shaie, no Curdistão Iraquiano, uma equipa de investigação da @UnivdeCoimbra regressa a Portugal com novos dados inéditos!#UCoimbra #Researchhttps://t.co/Si06xbJPcs
— Universidade de Coimbra (@UnivdeCoimbra) October 11, 2024
Foi dirigida pela docente da Faculdade de Letras da UC e investigadora do CEAACP, Maria da Conceição Lopes, pelo investigador do CEAACP, André Tomé, e pelo investigador da Universidade de Cambridge, Steve Renette.
Situado numa localização estratégica, no sopé dos Montes Zagros, Kani Shaie terá sido, ao longo de milénios, um importante ponto de passagem nas rotas que interligavam a planície Mesopotâmica e as terras altas, que, mais tarde, passaram a integrar a histórica Rota da Seda.
Nestas escavações, a descoberta de impressões de selos repete-se, mas com novidades, nomeadamente dois selos cilíndricos, artefactos raros que funcionavam como carimbos para lacrar contentores cerâmicos e portas, através da passagem sobre uma superfície de argila ainda húmida.
“Um desses selos, com cinco mil anos, permite desafiar a visão tradicional sobre o final do quarto milénio a.C., sugerindo que, pelo menos nesta região da Mesopotâmia, as estruturas sociais e políticas que floresceram com a invenção da escrita se mantiveram, contrariando a teoria de um colapso civilizacional”, explicaram os investigadores.
Além disso, “sabe-se agora que em Kani Shaie terá existido um grande edifício circular, do qual por agora só se conhece uma pequena parte”.
Ainda assim, é possível perceber que seria utilizado para o armazenamento de cereais e leguminosas, estando associado a várias estruturas de combustão, que sugerem também a preparação de alimentos.
Numa outra área de escavação, foi descoberto “um edifício complexo datado do período entre a queda do Império Neo-Assírio e a passagem de Alexandre, o Grande”.
Além de revelar todas estas informações inéditas, a missão abre já caminho para o futuro trabalho de campo em Kani Shaie: “A identificação de um selo Neo-Assírio em faiança — uma louça fina de barro esmaltado ou vidrado — nesta área aponta para a existência de estratos importantes por explorar, prometendo novas descobertas significativas na próxima campanha de escavações, já prevista para 2025“.
Também o trabalho em laboratório com os dados recolhidos vai permitir saber mais sobre as comunidades que habitaram a região e sobre a sua continuidade no território ao longo dos vários períodos de ocupação.
Esta missão do Projeto Arqueológico de Kani Shaie contou também com a participação de especialistas de várias universidades, bem como com a colaboração de arqueólogos curdos e das autoridades locais.
Do lado da equipa portuguesa, participaram outros investigadores do CEAACP da UC, nomeadamente Michael Lewis (codiretor assistente), Tiago Costa, Anna Ligia Vitale e Humberto Veríssimo.