O presidente do parlamento da Madeira manifestou este sábado a sua “desilusão” com o que se passa em Portugal 50 anos após o 25 de Abril, na apresentação de um livro de investigação da Universidade Católica Portuguesa sobre o período democrático.
“Podemos entender que, com os recursos disponíveis, deveríamos ter um país mais desenvolvido e mais sustentável, com direitos iguais para todos; podemos nos indignar por haver ainda tanta gente sem uma casa para viver; podemos pensar que não é admissível, como acontece, condenar mais uma geração à emigração; podemos contestar as gritantes desigualdades sociais e assimetrias sociais que ainda prevalecem; podemos protestar contra a falta de oportunidades para todos”, afirmou José Manuel Rodrigues na cerimónia de apresentação do livro “25 de Abril: permanências, ruturas e recomposições”, que decorreu no Salão Nobre do parlamento regional.
Mas, acrescentou o presidente do parlamento madeirense, “há uma coisa que não podemos esquecer: o 25 de abril valeu a pena e o Portugal de hoje nada tem que ver com o Portugal de há 50 anos, e isso faz toda a diferença no juízo que fazemos sobre a instauração da Democracia”.
José Manuel Rodrigues salientou que na introdução se destaca que “uma revolução não se faz num dia” e que deve ser “uma luta permanente pelo bem comum”, visando o aperfeiçoamento do Estado do Direito.
Para o presidente da assembleia do arquipélago, ter essa consciência é ainda mais importante numa altura em que “grassa a descrença sobre o sistema político, quando reina a desconfiança sobre os seus atores e quando forças populistas emergem por toda a Europa, pondo em causa o pluralismo, a diversidade e os direitos fundamentais duramente conquistados ao longo de anos”.
Por isso, defendeu que este estudo deve servir “para despertar as consciências adormecidas!”.
O livro do Centro de Investigação de História Religiosa da Universidade Católica é editado pela Agência Ecclesia, surge no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e incide sobre “o processo de transição democrática em Portugal”.
Os investigadores abordam “diferentes questões em torno da religião, das práticas de fé, das convicções e dos seus diversos elementos e níveis institucionais e confessionais, atentando às permanências, ruturas e recomposições verificadas”.
Um dos investigadores, Edgar Silva, que coordenou a temática da Guerra — “Conflito de paradigmas sobre o país e a religião”, apontou que o objetivo foi “lançar pistas de diálogo com a sociedade portuguesa, com as várias realidades sociais, culturais e políticas do país, para projetar caminhos de construção de um Portugal melhor.”
Também apontou que o projeto teve contributos multidisciplinares, com base historiográfica, e pretende “reconhecer e identificar o 25 de Abril como um acontecimento de repercussão significativa para o país, no que trouxe de transformação estrutural da sociedade portuguesa”.
Pedro Silva Rei outro investigador do CEHR, que coordenou com Nuno Estevão Ferreira, a temática do “Desenvolvimento — Aspiração de uma ‘vida melhor’: mais escolaridade, trabalho, habitação e justiça social”, argumentou que “há muita coisa que ainda precisa de ser estudada, desde os partidos políticos às chefias militares, passando pelas comunidades religiosas e pelas associações”.
Presente nesta iniciativa esteve o bispo do Funchal, Nuno Brás, que considerou que este trabalho “é muito importante para entender como a igreja esteve antes, durante e depois da revolução” e enfatizou a importância da “firmeza da defesa da liberdade para todos e, ao mesmo tempo, da defesa da participação católica na vida nacional”.