O socialista e ex-ministro da Saúde de António Guterres e de José Sócrates, António Correia de Campos, não poupou críticas a Pedro Nuno Santos, após este ter apelado à existência de uma voz única no PS. O também ex-presidente do Conselho Económico e Social (CES) diz ser “evidente” que o aviso aos socialistas que ocupam o “espaço mediático” para que tenham “respeito pelo partido” e para que não alimentem a “discórdia” interna se trata de “uma declaração muito infeliz” e de um “erro clamoroso” do secretário-geral do partido. Coloca-o a par com o “erro análogo de Luís Montenegro de criticar os media fora do tempo”.

“Ameaçar as nossas tropas antes do combate não as faz combater melhor”, avisa o antigo ministro da Saúde em declarações à Rádio Observador no programa Direto ao Assunto. Considera que as palavras de Pedro Nuno Santos são “infelizes” principalmente por terem sido proferidas enquanto uma  declaração pública, considerando que “este tipo de declarações nunca o pode ser”, uma vez que “passa como uma crítica dura” aos quadros internos do partido.

Correia de Campos: “Erro clamoroso de Pedro Nuno Santos”

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Referindo-se ao secretário-geral e ao atual primeiro-ministro, o histórico socialista refere que ambos são “políticos muito qualificados, mas ainda muito jovens” e que “cometem estes erros grosseiros”.

Não foi capaz de conter a sua emoção“, diz sobre Pedro Nuno Santos, acrescentando que um “político tem que se preparar e ter nervos de aço e de poupar a palavra, usando-a com conta peso e medida”. “Era uma declaração necessária e útil para ser dita dentro do âmbito interno do PS, mesmo que tivesse havido fugas de informação, mas nunca uma declaração pública, que a torna numa agressão ao livre pensamento dentro do PS”, aponta.

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Sobre a proposta de Orçamento do Estado, Correia de Campos assume que não se teria importado que o “IRC tivesse descido mais um ponto”, mas reconhece que houve um “grande esforço por parte do PSD para uma aproximação”. “Esse avanço dificilmente pode justificar uma recusa do Orçamento“, admite.

“Julgo que os agentes dentro do meu partido que têm o poder decisório não pensam inviabilizar o orçamento, isso é que torna isto ainda mais estranho. Se não querem ultrapassar os limites de Bruxelas é porque não querem inviabilizar”, assegura o socialista, que não acredita que o PS vá rejeitar a proposta de Orçamento do Estado para 2025, bem como entende que, perante o desenvolvimento das negociações, “o país não compreenderia a rejeição do PS ao documento”.