O R4 foi um veículo extremamente popular da Renault, fabricado entre 1961 e 1992, período durante o qual foram produzidas 8,1 milhões de unidades. Barato, com espaço e muito confortável, o R4 original montou motores muito simples e pouco potentes, entre 27 e 34 cv e com cilindradas que oscilaram entre 747 e 1108 cc. Apesar de possuir apenas tracção à frente, foi utilizado por muitos agricultores, que o viam como o “jipe dos pobres”, graças à sua capacidade de circular em piso em muito mau estado, mesmo com pneus de estrada, devido a suspensões com grande curso e um peso que superava por pouco os 500 kg. Agora, na época dos veículos eléctricos e meses depois de apresentar o Renault 5 E-Tech eléctrico, a marca francesa mostrou a versão definitiva do 4 E-Tech, que vai começar a ser entregue a clientes em Julho, na Europa, mas que está apenas agendado para Setembro em Portugal.
O R4 E-Tech foi concebido sobre a mesma plataforma AmpR Small do R5 E-Tech, estando ambos integrados no segmento B, mas enquanto o R5 se assume como um utilitário, o R4 é um B-SUV, substancialmente mais generoso, usufruindo de mais 21,8 cm em comprimento, 8 cm na distância entre eixos, 2,6 cm na largura e 7,2 cm em altura. Não é pois de espantar que o R4 ofereça sobretudo mais espaço em largura e para as pernas de quem se senta atrás, disponibilizando ainda 420 litros para bagagens, um valor superior ao R5 (277 litros).
Em termos de estilo, o novo R4 E-Tech surge como uma interpretação moderna do 4L de há 64 anos, na essência uma versão mais burilada do protótipo 4EVER Trophy, o concept que foi revelado neste mesmo salão automóvel em 2022. Com menos alargamentos e jantes e pneus de diâmetro inferior, a versão final do R4 é bastante mais interessante e civilizada, com o construtor a anunciar um incremento do peso de somente 50 kg face ao R5, apesar de o veículo ser substancialmente maior. De caminho, o engenheiro responsável pelo projecto, o português Jorge Martins, revelou que “houve muito trabalho e investimento para controlar o peso, com recurso a mais materiais leves como o alumínio, além de apêndices aerodinâmicos para aproximar o Cx (0,33) do reivindicado pelo R5, de forma a não diminuir a autonomia”.
À semelhança do 5 E-Tech, também o R4 vai ser proposto com duas versões de bateria, com capacidades de 40 kWh e 52 kWh, a primeira a recorrer a um motor menos potente, com 120 cv, para a segunda instalar uma unidade com 150 cv. Ainda não há valores de autonomia homologados em WLTP, mas a Renault sabe que a diferença não é grande para o R5, em termos de peso e de aerodinâmica, pelo que os franceses apontam para a capacidade de percorrer 300 km entre recargas com o acumulador de 40 kWh, para depois o de 52 kWh atingir 400 km.
O preço ainda não foi anunciado, mas estará “entre os 25.000€ do R5 (com 40 kWh) e os 32.000€ do Mégane E-Tech”, segundo Jorge Martins. E se recordarmos umas confidências de Luca de Meo ao Argus, não deverá andar longe dos 29.000€. Para além das maiores dimensões, a diferença para o R5 justifica-se pelo facto de todas as versões montarem de série bomba de calor, um carregador bidireccional de 100 kW em DC e uma só peça dispendiosa e com cerca 10 kg que inclui todo o painel frontal, com faróis, emblema e grelha, todos eles retro-iluminados.
De caminho e talvez já a preparar o futuro, a Renault levou igualmente ao Salão de Paris uma versão especial do R4 E-Tech denominada Flower Power, com aspecto mais radical. Não foi ainda tomada a decisão de passar este modelo à produção em série, mas os responsáveis franceses não escondem que a ideia lhes passou pela cabeça e que se materializará caso a reacção do mercado seja positiva. Esta estratégia encaixa com a revelada pelo designer Gilles Vidal, que confirmou que “a Renault vai apostar no lançamento de séries especiais para elevar a notoriedade dos veículos” e esta Flower Power, com maior altura ao solo, pneus mais capazes para todo-o-terreno e um ar mais radical, não deixará de agradar aos condutores que apreciam actividades de lazer como o surf.