O Prémio Nobel da Economia de 2024 foi entregue aos autores do livro “Porque Falham as Nações”, Daron Acemoglu e James A. Robinson, anunciou nesta segunda-feira a Real Academia Sueca das Ciências. Também distinguido foi Simon Johnson, outro professor do MIT que colaborou com os outros dois académicos e que foi co-autor de um artigo polémico sobre Portugal, no auge da crise da dívida, e que acabou nos tribunais.

Os três galardoados foram distinguidos “pelos seus estudos sobre como as instituições são formadas e como afetam a prosperidade” dos países. “Sociedades com instituições fracas e sem estados de Direito, que exploram a população, não geram crescimento nem progresso – e a pesquisa dos laureados ajuda-nos a perceber porquê”, afirma a Real Academia Sueca das Ciências.

Daron Acemoglu nasceu em 1967 na Turquia, é professor de economia no MIT (Massachusetts Institute of Technology), tal como Simon Johnson. O seu trabalho tem sido ligado à prosperidade, ao efeito das novas tecnologias no crescimento económico e no trabalho.

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Em junho, o Observador entrevistou Acemoglu a respeito do mais recente livro lançado pelo economista, em associação com o (também distinguido) Johnson – Poder e Progresso, que em Portugal tem a chancela da Temas e Debates, que também lançou o best seller de Acemoglu “Porque Falham as Nações” em 2012.

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Simon Johnson foi co-autor de artigo polémico sobre Portugal, em 2010

Simon Johnson foi, também, um dos dois autores de um artigo polémico sobre Portugal, que foi publicado num blogue The New York Times em abril de 2010, cerca de um ano antes do pedido de ajuda externa.

Johnson, que chegou a ter no FMI o cargo que tem hoje Vítor Gaspar (diretor do departamento de estudos económicos), ajudou outro académico – Peter Boone – a escrever um texto intitulado “O próximo problema global: Portugal”. Era um texto ilustrado com uma foto de José Sócrates, então primeiro-ministro, e que comparava Portugal com os problemas da Grécia (que estava, por essa altura, a pedir resgate internacional).

“O próximo país no radar será Portugal”, vaticinava o texto, que foi muito criticado pelo então ministro das Finanças. Fernando Teixeira dos Santos afirmou que todo o texto era “um disparate”, não tinha “fundamentação” e revelava “ignorância” por parte dos seus autores. Lia-se no texto que ambos os países – Grécia e Portugal – estão “economicamente à beira da bancarrota”.

Portugal acabaria, mesmo, por pedir um resgate internacional, um ano depois. Mas a publicação daquele texto foi investigada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), por causa de uma operação bolsista lucrativa – terá rendido mais de 800 mil euros – que tirou partido da desvalorização das obrigações do Tesouro de Portugal (na altura em que os juros implícitos estavam a subir rapidamente, inviabilizando o acesso do País aos mercados de dívida).

O Ministério Público viria a acusar Peter Boone, o principal autor do texto, de crime de manipulação de mercado – alegando que teria ligações a um fundo de capital de risco que teria lucrado com aquela operação e com a publicação de um texto muito negativo para a imagem de Portugal nos mercados financeiros. Mas, depois de ouvido em tribunal, o juiz decidiu não dar continuidade ao processo – não só numa primeira instância como, depois, após recurso do Ministério Público no Tribunal da Relação.

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Simon Johnson não chegou a ir a tribunal – porque, apesar de co-autor, terá apenas apoiado Peter Boone na escrita do texto – mas comentou o processo em entrevista ao jornal Público: suspeitar de crime de manipulação de mercado era “simplesmente ridículo” e os investigadores do Ministério Público e da CMVM “deviam ter vergonha” daquele processo, afirmou.

Em entrevista ao Observador, no início de 2016, Johnson comentou que havia “um processo contra um dos meus parceiros de escrita por causa de um artigo que escrevemos em conjunto”. “Conheço Peter Boone há mais de 20 anos e ele nunca faria aquilo de que é acusado. Escrevemos um artigo com base em informação pública, fizemos análise profissional”, garantiu.

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“Democracias estão a passar por uma fase difícil”

O terceiro laureado, James Robinson, é britânico mas também está ligado a uma universidade norte-americana: é diretor do Pearson Institute for the Study and Resolution of Global Conflicts, da Universidade de Chicago. Os três colaboraram, entre outros, numa pesquisa académica que investiga o desenvolvimento comparativo dos países de acordo com as suas origens coloniais.

“Reduzir as grandes diferenças entre a riqueza dos países é um dos grandes desafios do nosso tempo”, comentou Jakob Svensson, presidente da comissão que entrega este prémio, acrescentando que “os laureados demonstraram a importância de ter instituições sociais sólidas para atingir este objetivo e identificaram as raízes históricas dos ambientes institucionais fracos que caracterizam muitos países hoje considerados de baixa riqueza”.

Na conferência de imprensa de apresentação do prémio, Daron Acemoglu disse que “este é um momento em que as democracias estão a passar por uma fase difícil”. O académico acrescentou que “é crucial que as democracias recuperem a vantagem de ter uma melhor governação e uma governação mais limpa”.

Acemoglu, Robinson e Johnson vão dividir um prémio de 1,1 milhões de coroas suecas, sensivelmente um milhão de euros.

No ano passado, este prémio – o único que não é financiado pela fundação Nobel mas, sim, por um donativo do banco central sueco – foi entregue a Claudia Goldin, investigadora ligada a Harvard que se dedicou a estudar a interligação entre a participação feminina no mercado de trabalho (e as respetivas remunerações) e as várias fases de progresso económico e social.

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