Já se esperavam protestos de lesados do Banco Espírito Santo no dia em que arrancou, dez anos, depois o julgamento ao caso da derrocada do grupo BES/GES. Depois de passar por um protesto silencioso de lesados do banco, Ricardo Salgado, de 80 anos, chegou ao Campus de Justiça e foi confrontado por um outro lesado, Jorge Novo, que, por entre protestos — exigindo a devolução do dinheiro que perdera — desejou “saúde” ao ex-banqueiro e disse a Salgado que entidades como a CMVM e Novo Banco “tomaram posse do seu império”.

Rodeado por dezenas de jornalistas e alguns lesados, Ricardo Salgado foi interpelado por Jorge Novo que disse que ex-banqueiro “tinha capacidade para resolver a problema dos lesados”.

“O seu primo [José Maria] Ricciardi testemunhou aqui na porta, dizendo que foi feita uma provisão. O senhor [Ricardo Salgado] mandou-nos um documento escrito de que deixou uma provisão. Onde está a provisão do Novo Banco? Onde está a provisão? Eu estou sem o meu dinheiro. Eu exijo a provisão que é dos lesados. Respeito”, disse de forma exaltada.

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Pedindo responsabilidades, o comerciante que perdeu mais de 100 mil euros afirmou, no entanto, que Ricardo Salgado “merecia respeito”.

Tomaram posse do seu império. […] Novo Banco, CMVM, um grupo de trabalho liderado por Diogo Lacerda Machado fizeram uma solução para os lesados sem a consulta de nenhum lesado, quando tínhamos uma provisão deixada por Ricardo Salgado. Esses senhores aproveitaram-se de um grupo de trabalho para tratar da vida deles, dos bolsos deles e continuam a faturar”, criticou.

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Ricardo Salgado ouviu este lesado sem qualquer reação, enquanto o advogado disse apenas que falaria com a comunicação social no final. O antigo banqueiro Ricardo Salgado chegou às 9h20 amparado pela mulher e com o advogado Francisco Proença de Carvalho, demorando cerca de 10 minutos a fazer um curto percurso até à entrada do tribunal.

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Provisão “foi desaparecendo” e Novo Banco não pagou “milhões” que devia ao BES

Em declarações à Lusa, depois de interpelar Ricardo Salgado, Jorge Novo, da Associação dos Lesados do Papel Comercial do BES, disse há provas e documentos que atestam que essa provisão foi criada e transitou para o Novo Banco, tendo Ricardo Salgado e o seu primo José Maria Ricciardi confirmado já, em anteriores declarações, que tal provisão foi criada e transitou para o Novo Banco.

O mesmo responsável relatou ainda que essa provisão “foi desaparecendo” e os lesados suspeitam que o Novo Banco utilizou as verbas para “fazer a cobertura das imparidades de ‘senhores’ que não pagaram os milhões” que deviam ao BES e cujas dívidas foram parar ao Novo Banco.

Questionado como é que os lesados tencionam resolver o problema, designadamente se admitem recorrer aos tribunais ou fazer queixa ao Ministério Público, Jorge Novo vincou tratar-se de “uma questão política, pois são os governantes que têm de resolver o problema”.

O mesmo lesado salientou que, nos “tribunais está tudo zero, não dá nada” e que da sua parte “não dará um cêntimo para que os advogados” tratem do caso, reiterando que nada se resolve através dos tribunais e da justiça portuguesa.

Jorge Novo revelou que já teve 52 reuniões com grupos parlamentares e outras seis reuniões na Presidência da República e que até agora ninguém interveio para solucionar o problema dos lesados do papel comercial.

Jorge Novo, que à semelhança dos restantes lesados exige o dinheiro investido de volta, diz esperar que o atual Governo “resolva da situação”.

Antes de ser interpelado por este lesado do BES, Ricardo Salgado tinha sido confrontado com um protesto de um grupo de lesados da instituição que se concentravam na avenida frente ao complexo de edifícios do Campus de Justiça. Ricardo Salgado é o arguido que vai responder pelo maior número de crimes (62): 29 de burla qualificada, 12 de corrupção ativa no setor privado, 7 de branqueamento, 5 de falsificação de documento, 4 de infidelidade, 2 de falsificação de documento qualificada, 2 crimes de manipulação de mercado e 1 crime de associação criminosa.

Está acusado pelo Ministério Público de ter criado uma estrutura “composta por empresas e por pessoas” que “permitia a expropriação do BES e o prejuízo dos seus clientes”.