A Direção-Geral da Saúde (DGS) está a avaliar um projeto-piloto para rastrear a diabetes tipo 1 nas crianças, disse esta quinta-feira a especialista Catarina Limbert, adiantando que o objetivo é que seja feito aos cinco anos no momento da vacinação.

“Em Portugal temos um sistema de vacinação muito bem montado e, portanto, vamos aproveitar o programa vacinal para fazer o rastreio das crianças por volta dos cinco anos”, adiantou à agência Lusa Catarina Limbert, à margem da 50.ª Reunião anual da International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes (ISPAD), que está a decorrer em Lisboa.

Questionada se a diabetes ainda é detetada tardiamente, a especialista em endocrinologia e diabetologia pediátrica afirmou que a doença é detetada quando as crianças já chegam em coma e quando isso acontece “o pâncreas já não funciona“.

“Agora conseguimos, através de deteção de anticorpos, perceber se aquela criança vai ter diabetes ou não. Se detetarmos esses anticorpos, sabemos que num prazo de x anos, normalmente ao fim de cinco anos, uma criança abaixo dos 10 anos vai ter diabetes de certeza”, salientou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Daí a importância do projeto-piloto que ainda não está aprovado, mas que a DGS já está a avaliar.

“Estamos em crer que vá avançar”, disse a também professora de Pediatria da NOVA Medical School, observando que é “cada vez maior” o número de crianças atingidas pela doença.

Segundo Catarina Limbert, existem cerca de 38.000 pessoas com diabetes tipo 1 em Portugal, das quais 3.000 a 4.000 têm menos de 15 anos.

“A grande questão é que esta doença atinge crianças muito pequeninas. É uma doença crónica difícil de lidar no dia-a-dia e, portanto, para os pais, para as famílias, é sempre um grande esforço manter estas crianças saudáveis”, sublinhou.

Por ser uma doença “muito complexa” que exige cuidados também afeta o dia-a-dia das crianças na escola, no desporto, nos amigos.

Por outro lado, ainda há “um grande estigma, uma grande vergonha em ter esta doença”, porque as crianças têm que administrar insulina, têm que calcular o que comem, têm que olhar para os sensores e ver se os valores das glicemias estão bem.

“Há sempre um rótulo sobre estas famílias e sobre estas crianças quando existe alguém com esta doença”, lamentou, assinalando os progressos feitos nas escolas na integração destas crianças.

Até há pouco tempo existiam grandes dificuldades, os pais deixavam de trabalhar para poderem estar nas escolas a administrar a insulina às crianças, dar-lhes a comida.

“Entretanto, a DGS e o Programa Nacional da Diabetes têm feito um esforço muito grande para tornar obrigatório nas escolas um apoio especial a estas crianças e isso tornou-se um decreto-lei”, salientou.

A “Inclusão e Inovação na Diabetes Pediátrica” é tema da reunião anual da ISPAD, que decorre até sábado no Centro de Congressos de Lisboa, onde estão reunidos cerca de 2.000 investigadores e profissionais de saúde de todo o mundo.

A especialista disse que escolheu este tema porque, no lado da inovação, está a ser discutida toda a tecnologia envolvida no tratamento da diabetes tipo 1 que “carece de uma tecnologia muito especial de perfusão de insulina contínua e de monitorização contínua”.

“A tecnologia automática ligada à inteligência artificial ao ‘software’ mais de ponta está a ser discutido”, assim como as novas terapias que estão a surgir.

“Estamos num momento de viragem na diabetes pediátrica em que estão a surgir novas medicações que atuam na causa da doença”, realçou.

Segundo Catarina Limbert, está a passar-se do ponto em que se administra insulina para as pessoas sobreviverem, para o ponto da prevenção da doença, travando o processo de destruição imunológica.

Existem já medicamentos imunomoduladores que atrasam o aparecimento da diabetes e, depois, para isso, precisamos de rastrear as pessoas, as crianças e daí estarem a iniciar-se esses projetos de rastreio da diabetes em todo o mundo e também em Portugal”, rematou.