Um estudo divulgado esta sexta-feira sobre as mutações do cancro que causam resistência aos medicamentos descobriu que estas estão agrupadas em quatro categorias principais e identificou possíveis terapias mais eficazes para combater a doença.

A investigação, realizada por cientistas do britânico Instituto Wellcome Sanger, do Instituto Europeu de Bioinformática e da plataforma de dados genéticos Open Targets, foi publicada esta sexta-feira na revista científica Nature Genetics.

Os tratamentos contra o cancro tentam matá-lo, mas as células tumorais sofrem mutações, alterações no ADN, para se tornarem resistentes às terapias, sendo este um dos principais problemas dos doentes.

Investigadores do Porto querem treinar algoritmos para aperfeiçoar diagnóstico do cancro

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os investigadores utilizaram a técnica de edição genética CRISPR e outras de genómica unicelular para investigar o impacto de vários medicamentos em linhas celulares de cancro humano e modelos de células organoides (grupos de células cultivadas em laboratório que se assemelham a órgãos).

Tentaram assim mapear o cenário genético da resistência aos medicamentos no cancro, com foco no do cólon, pulmão e sarcoma de Ewing (atinge principalmente os ossos), todos com tendência para desenvolver resistência e com tratamentos de segunda linha limitados.

Quando o cancro se torna resistente ao tratamento inicial, são utilizadas as designadas terapêuticas de segunda linha, existindo a possibilidade de poderem ser descobertas novas opções a este nível se se compreender quais as alterações moleculares específicas que causam a resistência.

“As células cancerígenas que desenvolvem resistência aos tratamentos são um enorme problema, e ter uma forma rápida de identificar estas mutações nos doentes e compreender como combatê-las é fundamental para o tratamento do cancro. O nosso estudo detalha como as mutações se enquadram em quatro grupos diferentes, que podem necessitar de planos de tratamento diferentes. (…) Ao utilizar técnicas genéticas de ponta, começámos a desenvolver uma forma, rápida e em grande escala, de compreender a resistência aos medicamentos e esperamos encontrar novos alvos para tratamentos de segunda linha”, indicou o autor principal do trabalho, Matthew Coelho, do Instituto Wellcome Sanger, citado num artigo divulgado no ‘site’ da instituição.

Tendo por base o impacto da alteração do ADN, a equipa de investigadores descobriu mutações medicamentosas (quando algumas células cancerígenas utilizam o fármaco que as deveria matar para crescer), condutoras (as células contornam a via que o fármaco pode ter bloqueado e utilizam uma diferente) e variantes de sensibilização a medicamentos (cancro mais sensível a determinados tratamentos, o que poderá indicar que doente beneficiaria de medicamentos específicos).

Foram utilizados 10 medicamentos contra o cancro atualmente prescritos ou em ensaios clínicos para ver se algum deles poderia ser reutilizado ou combinado para combater a resistência e reduzir o tempo necessário para que potenciais novos tratamentos chegassem à fase clínica de experimentação.

Os autores do estudo consideram ainda que este também poderá ajudar a acelerar a investigação das empresas farmacêuticas sobre a próxima geração de inibidores do cancro, que poderão prevenir melhor a resistência aos medicamentos, segundo a agência noticiosa espanhola EFE.

Cancro da mama. Como escolher o melhor tratamento?