Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, recusou este domingo formalizar uma recandidatura nas eleições autárquicas do próximo ano. Em entrevista à Rádio Observador, à margem do 42.º Congresso do PSD em Braga, Moedas não quis “olhar para o futuro” e deixou uma longa lista de críticas ao PS e à “maneira de fazer política” dos socialistas.

Questionado sobre se em algum cenário não seria recandidato, o autarca afirmou que é “completamente fora do tempo” para responder. “Estamos a um ano das eleições. Se começassem a ser candidatos um ano antes, estaríamos um ano a fazer campanha. Estes quatro anos têm de ser muito bem aproveitados, não farei qualquer tipo de anúncio. Não serei candidato, porque sou presidente da câmara”, argumentou.

Pelo contrário, quem já está em campanha eleitoral é o PS em Lisboa, uma campanha focada em ataques pessoais, que define a “maneira de fazer política ‘deste’ Partido Socialista”, acusou. “O PS faz ataques ao caráter das pessoas, ataques um ano antes. A política não pode ser feita de ataques ao caráter, à câmara e aos trabalhadores da câmara”, defendeu.

“Tenho um respeito enorme pelos votantes do PS, há muitos que votam em Carlos Moedas, por isso falo ‘deste PS’”, esclareceu, criticando ainda o facto de “este” se estar “a aproximar dos extremos”. Na longa lista de críticas, apontou ainda o facto de os socialistas olharem para Lisboa como pertencendo ao próprio partido e defendeu que não existe outro sítio no país em que a oposição entenda que as “coisas são dos partidos”.

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Por oposição ao PS, Carlos Moedas deixou elogios à Iniciativa Liberal, que vê como um partido sério e com o qual pode contar para o apoiar na Câmara. “É um partido em que vemos propostas muito sólidas”, afirmou, acrescentando que ainda não compreende a falta de apoio na última campanha eleitoral.

Das autárquicas às presidenciais, Carlos Moedas garantiu que “não está a olhar para o futuro”, quer em Lisboa, quer em Belém. Reagindo aos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa sobre uma possibilidade de o ver na presidência, Moedas disse interpretá-los como “um sinal que estou a fazer um bom trabalho”.

Sobre o candidato mais adequado para apoiar em 2026, defendeu que é uma escolha “muito pessoal” e que só vai apoiar alguém depois de os candidatos anunciarem a sua própria decisão. Ainda assim reconheceu que Marques Mendes “encaixa no perfil, assim como muitos outros militantes”. “Factualmente, todos podem ser candidatos a Presidente da República. Eu não sou porque sou presidente da câmara de Lisboa”, reafirmou, recusando olhar para o futuro, mas sem nunca negar Belém neste futuro.

Respondendo às críticas, uma vez mais do PS sobre a governação da capital, Carlos Moedas disse que “gostava muito de ver a democracia a nível local a funcionar acima dos partidos” e assumiu que “tudo é responsabilidade do presidente da Câmara”. Ainda assim, esclareceu que há muitas matérias que não cabem à autarquia e são decididas a nível nacional.

Afirmou ficar “incomodado” com as críticas vindas de pessoas que já ocuparam o cargo e que exigem mudanças em práticas, como a higiene urbana, que não cabem à câmara. “Vê-se que não percebem de gestão”, acusou, notando a existência das leis de regulação nacional. “Há instrumentos que foram retirados à Câmara Municipal, mas eu assumo”, declarou, mesmo assim.

Ainda sobre as competências da câmara, criticou a reação pública às suas declarações sobre o aumento dos poderes da polícia municipal. Esclarecendo que o único poder que quer para os agentes é que “possam levar um ladrão à esquadra, sem esperar pela PSP na rua”, adiantou que já apresentou a possibilidade à ministra da Administração Interna e espera agora uma resposta positiva.

Questionado depois sobre as reuniões privadas entre Luís Montenegro e André Ventura, Carlos Moedas reafirmou que recusa os dois extremos, à esquerda e à direita, e criticou o Chega. “É normal que o primeiro-ministro se reúna com todos os partidos. Eu acho é que o primeiro-ministro foi o adulto na sala e desmascarou o extremismo e o populismo à direita, do Chega, um extremismo inconsistente e sem palavra”, defendeu, acrescentando que “nunca teve nada a ver com o Chega, nem quer ter”. Apesar de considerar que “Luís Montenegro tem de se relacionar com todos os partidos, por dever institucional”, acrescentou que um primeiro-ministro nunca se reúne sozinho em matérias institucionais.

Sobre as negociações entre o Governo e o PS, e uma cedência às exigências socialistas — principalmente no que toca aos impostos –, Moedas argumentou que as “condições de governação são muito difíceis e por isso a aprovação do Orçamento é uma vitória”. Ainda assim, confirmou que uma das suas bandeiras continua a ser redução de impostos. Neste sentido, deixou ainda um anúncio final: a proposta para o orçamento municipal de Lisboa inclui uma redução de 5% do IRS para os lisboetas. E Carlos Moedas mostrou-se confiante na sua aprovação.