O Alkantara Festival 2024 vai levar a Lisboa, entre 15 e 30 de novembro, projetos de artistas de 12 países, entre eles Mohamed El Khatib, Dana Michel e Keli Freitas, inspirados em histórias de morte e vida.
O festival regressará a diversos palcos e espaços da capital — com sete estreias absolutas e sete estreias nacionais — cruzando diferentes artes performativas (dança, teatro e performance) com outras áreas artísticas e de conhecimento, segundo a programação completa anunciada esta terça-feira pela organização.
Projetos de artistas do Brasil, Argentina, África do Sul, Canadá, Colômbia, França, Finlândia, Líbano, Palestina, Reino Unido, Grécia e de criadores portugueses ou que criam os seus trabalhos em Portugal, vão marcar presença.
O espetáculo A Noiva e o Boa Noite Cinderela, da artista brasileira Carolina Bianchi, é um dos grandes acontecimentos da rentrée e o escolhido para abrir a edição deste ano do Alkantara. O jornal francês Le Monde define-o como “um marco na história do Festival de Avignon”, onde a peça se estreou em 2023 colhendo rasgados elogios. O Libération define-a como “peça-choque”. Junto com o coletivo Cara de Cavalo, Bianchi explora o trauma das agressões sexuais, reunindo histórias de mulheres que foram violadas e de seguida assassinadas. É “um espetáculo de violência e morte, na fronteira entre realidade e pesadelo, sem a possibilidade de catarse ou salvação”, diz a nota de imprensa.
Entre os artistas anunciados estão ainda o argentino Tiziano Cruz, que irá apresentar o espetáculo Wayqeycuna, sobre os laços de sangue entre comunidades indígenas, a dupla de artistas Émilie Monnet e Waira Nina, que trarão ao palco Nigamon/Tunai, inspirado nas ligações entre povos indígenas, ou Mohamed el Khatib, com A vida secreta dos velhos, criação baseada em testemunhos de pessoas entre os 80 e os 100 anos. A coreógrafa Sonya Lindfors e a escritora ativista Maryan Abdulkarim trarão uma peça sobre o potencial do sonho coletivo.
O programa do festival, dirigido por Carla Nobre Sousa e David Cabecinha, é atravessado por histórias entre a vida e a morte, algumas com o peso da violência, do luto, da injustiça, outras impregnadas de amor e esperança.
A artista libanesa Alia Hamdan, que apresentará O corpo está aqui fora de campo, sobre alguém que fica em coma durante a guerra, a brasileira Keli Freitas, residente em Portugal, com Volta para a tua terra, peça autobiográfica sobre raízes e imigração, e Dana Michel, com uma performance sobre a vivência diária no local de trabalho, também são nomes esta terça-feira revelados pela organização.
Além dos teatros de Lisboa, a Biblioteca Palácio Galveias, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), a Culturgest e a Casa da América Latina são alguns dos outros espaços onde serão apresentados espetáculos.
Numa produção Alkantara, com estreia no Teatro do Bairro Alto – depois de uma antestreia no Festival Santarcangelo, em Itália — Francisco Thiago Cavalcanti, artista brasileiro da dança, do teatro e da performance, que se apresenta como “queer, neurodiverso, não-branco”, incorpora, por seu turno uma baleia solitária em 52blue.
Mamela Nyamza, coreógrafa sul-africana, apresenta-se pela primeira vez em Portugal no São Luiz Teatro Municipal, com Hatched Ensemble, um trabalho que revisita o seu solo autobiográfico Hatched (2007), para abraçar e expor as complexidades da construção de identidades a partir da dança.
Por seu turno, o artista palestiniano Basel Zaraa, radicado no Reino Unido, criou Querida Laila, que recorre à exploração dos sentidos para aproximar públicos das experiências de exílio e de guerra, como forma de enfrentar, expressar e compreender o trauma do povo palestiniano. O trabalho, que percorre as memórias da sua infância e da luta do povo palestiniano, é uma instalação-performance que o Alkantara Festival apresenta em conjunto com o Teatro Nacional D. Maria II, na Biblioteca Palácio Galveias.
No festival haverá ainda programas com curadorias convidadas, como Cartas do Fogo, programa de pesquisa e diálogos sobre o pensamento e práticas artísticas indígenas contemporâneas, e ainda a 3.ª Mostra.BRABA: “Transmissão”, que reunirá propostas originais de “memórias para deslocar perceções sobre identidades no presente”.
O Alkantara Festival é financiado pela Direção-Geral das Artes e pela Câmara Municipal de Lisboa, coproduzido pelo Centro Cultural de Belém, Centro de Arte Moderna – Gulbenkian, Culturgest, Lisboa Cultura, São Luiz Teatro Municipal, Teatro do Bairro Alto e Teatro Nacional D. Maria II.