Os bloquistas aprovaram este domingo, por larga maioria, o documento apresentado pela direção do BE, que estabelece que o partido procurará alternativas a PS e PSD nas autárquicas mas mantém a abertura para uma coligação com os socialistas em Lisboa.

Este documento foi aprovado com 206 votos favoráveis e terá ainda que ser ratificado pela Mesa Nacional, órgão máximo do partido entre convenções.

Já o documento global alternativo, apresentado por uma ala crítica minoritária e subscrito por vários elementos que integravam a lista de Mariana Mortágua à Mesa Nacional do partido, como os dirigentes Adelino Fortunato e os ex-deputados Alexandra Vieira e Heitor de Sousa, acabou por ter apenas 26 votos a favor.

No total, foram anunciadas quatro abstenções.

A proposta da direção estabelece que, nas eleições autárquicas do próximo ano, o BE “procurará, sempre que possível, criar alianças sociais em projetos locais de transformação política à esquerda, alternativos à governação autárquica do PS e do PSD”.

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“Suportado em bases programáticas predefinidas em torno dos temas da habitação, do acesso a serviços públicos e da transformação climática, as concelhias do Bloco de Esquerda avaliarão as condições e proporão à Mesa Nacional coligações pré-eleitorais com outras forças progressistas, ecologistas e de esquerda”, lê-se no texto, que adianta que já foram iniciados “diálogos concretos a nível concelhio”, nomeadamente com o Livre.

A direção alargada faz questão de especificar o caso da autarquia de Lisboa, manifestando abertura para dialogar com partidos à esquerda, nomeadamente o PS, sobre uma eventual coligação pré-eleitoral que derrote Carlos Moedas (PSD).

“A avaliação desta candidatura, que deve representar mais que a mera soma de partidos, está sujeita aos mesmos critérios programáticos acima enunciados, bem como à existência de protagonistas capazes de os concretizar”, avisam os bloquistas.

Durante os dias de trabalho, esta intenção não foi unânime. Alguns bloquistas manifestaram divergências sobre uma eventual coligação autárquica com o PS em Lisboa, com alertas para uma possível diluição política e um “abraço de urso” dos socialistas.

No documento global este domingo aprovado, que define o rumo estratégico do partido, a Comissão Política do BE insiste nas críticas ao Governo PSD/CDS-PP, demarcando-se das suas políticas, mas também deixa reparos ao PS pela viabilização do Orçamento do Estado para 2025, recusando colocar o “socialismo na gaveta”.

Pelo caminho ficou uma proposta alternativa apresentada por uma ala crítica interna minoritária, com alguns críticos a considerar que o modelo atual do partido “está esgotado, tanto no plano político como organizativo”, “as viragens não explicadas de orientação e a prática interna dominante apontam para a decadência e para a degenerescência” e a atual organização está “desmotivada e desmobilizada”.

No que toca a autárquicas, o documento propunha a apresentação de listas próprias, que deveriam incorporar independentes sempre que possível.

A intenção de assegurar lugares já conquistados a nível autárquico “não se deve sobrepor à lógica do combate político mais geral, não só contra a direita, mas também contra as políticas erradas do PS e do PCP”, lia-se no texto.

Mortágua avisa PS que será fiel a movimentos pela habitação em eventuais coligações autárquicas

A coordenadora do BE defendeu este domingo que será fiel aos ideais dos movimentos pelo direito à habitação em eventuais coligações autárquicas, nomeadamente em Lisboa com o PS, embora admitindo que não sabe se haverá condições para tal.

“Não sabemos se nas autárquicas haverá ou não condições para coligações alargadas para um programa que transforme as nossas cidades. Não sei e está por saber, logo veremos. Trabalharemos para que se juntem forças diferentes e com a mesma clareza de objetivos”, garantiu Mariana Mortágua.

Apesar de não saber se haverá condições para materializar essa coligação na Câmara Municipal de Lisboa, Mariana Mortágua deixou uma garantia.

“Há uma coisa da qual eu tenho certeza absoluta: a nossa fidelidade, a nossa lealdade é para com os milhares de pessoas que saem à rua pelo direito à habitação. É a elas que devemos fidelidade, é por elas que fazemos este processo”, avisou.

A coordenadora bloquista considerou que “só um programa capaz de acabar com a turistificação e resgatar casas ao alojamento local” e que “rompa com as heranças de Moedas mas também de Fernando Medina [PS] na habitação” servirá ao BE.

Mortágua garantiu que o BE vai apresentar esse programa, bem como “equipas de candidatos e candidatas capazes de o defender”, mantendo a abertura para o diálogo.

“Dialogamos com quem estiver disponível para dialogar, mas tenham uma certeza absoluta de uma coisa: a nossa fidelidade é para com quem sai à rua pelo direito à habitação, pelo direito à cidade, pelo direito a poder viver na cidade que escolheu”, insistiu.