É um daqueles chavões clássicos: a exibição foi melhor do que o resultado. E foi o chavão usado e reutilizado para ilustrar o jogo da passada quinta-feira, entre FC Porto e Hoffenheim, onde os dragões alcançaram a primeira vitória na Liga Europa, mas ficaram muito aquém daquilo que podem e devem demonstrar dentro de campo. Um chavão que dificilmente poderia ser mais acertado.

Se é certo que a equipa de Vítor Bruno foi essencialmente eficaz, ao concretizar duas das poucas oportunidades que criou, também ficou claro que o conjunto alemão teve muitas facilidades para implementar o seu próprio jogo no Dragão. O FC Porto limitou-se a defender na segunda parte, à exceção do lance individual que deu o golo de Samu, e era nesse contexto de alguma desconfiança exibicional que defrontava esta segunda-feira o AVS.

Ficha de jogo

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AVS-FC Porto, 0-5

9.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Clube Desportivo das Aves, na Vila das Aves

Árbitro: Miguel Nogueira (AF Lisboa)

AVS: Guillermo Ochoa, Fernando Fonseca, Baptiste Roux, Cristian Devenish, Kiki Afonso (Rafael Rodrigues, 84′), Gustavo Assunção (Jonatan Lucca, 45′), Jaume Grau, Babatunde Akinsola (Vasco Lopes, 45′), Lucas Piazon, John Mercado (Issiaka Kamate, 45′), Zé Luís (Rodrigo Ribeiro, 74′)

Suplentes não utilizados: Simão Bertelli, Jorge Teixeira, Luís Silva, Giorgi Aburjania

Treinador: Vítor Campelos

FC Porto: Diogo Costa, Martim Fernandes (João Mário, 78′), Nehuén Pérez (Zé Pedro, 64′), Tiago Djaló, Francisco Moura, Nico González, Alan Varela (Stephen Eustáquio, 83′), Pepê, Fábio Vieira (André Franco, 64′), Danny Namaso (Rodrigo Mora, 64′), Samu

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Galeno, Iván Jaime, Fran Navarro

Treinador: Vítor Bruno

Golos: Nico González (22′), Samu (32′, 39′ e 45+1′), Rodrigo Mora (88′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gustavo Assunção (41′), a Jaume Grau (66′), a Alan Varela (73′)

“Queremos jogar bonito. Muito do que tem de ser feito é no treino, não é só com análise de vídeo, a falar com os jogadores. E o espaço para treinar tem sido pouco. O FC Porto é das equipas que mais cria, no momento ofensivo. Mas não somos perfeitos por isso. Houve momentos em que estivemos muito bem, outros em que não estivemos tão bem, outros em que estivemos melhor. Sei que o Hoffenheim fez um remate à baliza. Queremos sempre melhorar, ser muito agressivos. Se tivéssemos ido mais para o lado emocional, se calhar, teríamos tido um resultado diferente. Queremos um futebol espetáculo, champanhe, artístico. Eu também gosto, sou muito adepto disso. Mas é preciso entender o momento, ver o que temos, garantir bases sólidas e a partir daí tornar o jogo mais rico. Passo a passo, vamos lá chegar”, explicou Vítor Bruno na antevisão.

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Ora, esta segunda-feira, já depois de o Sporting vencer o Famalicão e de o Benfica golear o Rio Ave, o treinador do FC Porto deixava Galeno e Iván Jaime e apostava em Fábio Vieira e Danny Namaso, mantendo Tiago Djaló ao lado de Nehuén Pérez no eixo defensivo e Martim Fernandes na direita. Do outro lado, num AVS que ainda não tinha perdido em casa esta temporada, Vítor Campelos tinha o ex-FC Porto Zé Luís como referência ofensiva, apoiado por Akinsola, Lucas Piazon e John Mercado.

O jogo até começou bastante encaixado, com o FC Porto a ter mais posse de bola e o AVS a demonstrar uma clara vontade de explorar o meio-campo contrário, mas depressa se percebeu que os dragões só precisavam de colocar alguma velocidade e intensidade para deixar a defesa adversária completamente desorganizada. O primeiro golo ia aparecendo ainda dentro dos dez minutos iniciais, com Roux a desviar contra o próprio poste depois de uma defesa de Ochoa a remate de Danny Namaso (9′), e Pepê também ficou perto de abrir o marcador com um pontapé à trave na sequência de um cruzamento venenoso de Martim Fernandes (13′).

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Fábio Vieira também teve uma boa oportunidade, ao atirar por cima após novo cruzamento de Martim Fernandes na direita (20′), e o golo parecia uma questão de tempo na Vila das Aves — até que apareceu mesmo. Na insistência depois de um pontapé de canto, Fábio Vieira tirou um cruzamento açucarado para a grande área e encontrou a cabeça de Nico González, que atirou sem hipótese para Ochoa (22′). O AVS reagiu de forma pálida, com Tiago Djaló a resolver um lance em que John Mercado assustou Diogo Costa (31′), mas não foi preciso esperar muito para ver o segundo golo.

Já depois da meia-hora, com o corredor direito do FC Porto novamente em evidência, Martim Fernandes recebeu de Fábio Vieira e cruzou para a área, onde Samu recebeu no peito, temporizou e atirou para aumentar a vantagem (32′). Sete minutos depois, o bis. Mais um cruzamento de Martim Fernandes, agora encostado à linha de fundo, e Samu a surgir a cabecear para voltar a bater Ochoa (39′). Dois minutos depois, o hat-trick. Nico soltou Pepê, o brasileiro isolou Samu e o avançado espanhol, depois de deixar o guarda-redes para trás, atirou já com pouco ângulo para carimbar a goleada (45+1′).

O FC Porto chegava ao intervalo a golear o AVS, com superioridade total e sem permitir praticamente nada à equipa de Vítor Campelos, que só conseguiu reagir através de alguns remates desenquadrados de John Mercado. Em evidência, de forma clara, estava o corredor direito dos dragões: Martim Fernandes ia justificando por inteiro a manutenção da titularidade, enquanto que Fábio Vieira mostrava o porquê de ser um dos principais reforços para a atual temporada.

Vítor Campelos mexeu ao intervalo, trocando John Mercado e Akintsola por Vasco Lopes e Kamate, e acabou mesmo por ter de tirar Gustavo Assunção ainda antes de a segunda parte começar, por problemas físicos do médio, lançando Jonatan Lucca. Vítor Bruno parecia querer manter a dinâmica do FC Porto, pelo menos nos primeiros minutos depois do intervalo, e Danny Namaso ficou muito perto de aumentar a goleada com um remate forte que Ochoa defendeu logo nos instantes iniciais (47′).

O jogo tornou-se mais dividido com o avançar dos minutos, até porque o FC Porto baixou a intensidade de forma compreensível e concedeu outra posse de bola ao AVS, que não conseguia transformá-la em situações de perigo. Vítor Bruno começou a gerir de outra maneira a partir da hora de jogo, quando lançou Zé Pedro, André Franco e Rodrigo Mora para tirar Nehuén Pérez, Fábio Vieira e Danny Namaso.

Os avenses equilibraram muito o jogo nos últimos 20 minutos, até porque os dragões não demonstravam grande interesse em soltar o contra-ataque ou transições rápidas, mas pouco ou nada aconteceu. Vítor Bruno ainda deu minutos a João Mário e Eustáquio, poupando Martim Fernandes e Alan Varela, e nem a entrada de Rodrigo Ribeiro para o lugar de Zé Luís levou a equipa de Vítor Campelos a construir uma verdadeira oportunidade de golo. Até ao fim, Rodrigo Mora ainda teve tempo para se estrear a marcar, com apenas 17 anos, fechando as contas e aumentando a goleada (88′).

O FC Porto goleou o AVS na Vila das Aves e somou a quarta vitória consecutiva, mantendo a distância para a liderança do Sporting. Num dia em que Samu fez o primeiro hat-trick pelos dragões e Rodrigo Mora marcou o primeiro golo pela equipa principal, é impossível esquecer a exibição de Martim Fernandes, que fez duas assistências e mostrou o porquê de atualmente partir bem à frente de João Mário na luta pela direita da defesa.