O número de deslocados internos no Sudão já atingiu os 11 milhões, aos quais se juntam outros 3,1 milhões de refugiados noutros países, anunciou esta terça-feira a Organização Internacional para as Migrações (OIM) das Nações Unidas.
“A situação aqui no Sudão é catastrófica. Simplesmente não há outra forma de o dizer. A fome, a doença e a violência sexual são galopantes. Para o povo do Sudão, isto é um pesadelo”, disse a diretora-geral da OIM, Amy Pope, num comunicado.
Pope, que iniciou na segunda-feira uma visita de quatro dias ao país, acrescentou que a situação de conflito do Sudão é pouco relatada e “existe um sério potencial para o conflito alimentar a instabilidade regional, tanto no Sahel como no Corno de África e na costa do Mar Vermelho”, zonas também afetadas pela violência de grupos armados.
Nearly 1 of 3 Sudanese people have been displaced from their homes by the conflict. The number of internally displaced has just hit 11 million. The world must not turn its back on the people of Sudan. https://t.co/EDC0VPkB45
— Amy Pope (@AmyEPope) October 29, 2024
Em comunicado, a responsável refere-se, ainda, às palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, que chamou, na segunda-feira, a atenção para este sofrimento, apelidando-o de “catástrofe humanitária total”.
Passaram dezoito meses desde o início dos combates entre as Forças Armadas sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês). Segundo o comunicado, “as forças externas estão agora a ‘alimentar o fogo’ que está a intensificar o conflito”, O sofrimento está a aumentar de dia para dia, com o secretário-geral das Nações Unidas a informar na segunda-feira que quase 25 milhões de pessoas estão agora a precisar de assistência, destaca-se no comunicado.
O atual conflito, que obrigou mais pessoas a fugirem das suas casas do que qualquer outro no mundo, tem, segundo a OIM, números alarmantes. Mais de metade dos deslocados são mulheres e um quarto são crianças com menos de cinco anos, sublinhou Pope, que alertou ainda para situações já próximas da fome em regiões particularmente afetadas pelo conflito, como o Darfur, no oeste do país, e o vizinho Chade.
Povo sudanês vive “pesadelo” de fome e doenças e “violência étnica maciça”
A diretora-geral da OIM denunciou que as restrições e os impedimentos burocráticos criados pelas partes em conflito (exército e paramilitares) continuam a dificultar a chegada de assistência a muitas populações necessitadas.
“É possivelmente a crise mais negligenciada no mundo de hoje, e o facto de não a enfrentarmos pode significar o seu alastramento às nações vizinhas”, reiterou Pope.
A responsável da OIM sublinhou que em abril passado, numa conferência de doadores em Paris, foram assumidos compromissos importantes para ajudar o Sudão, mas sublinhou a verba recebida foi pouco mais de metade do dinheiro pedido.
“Com o financiamento adequado, há muito que podemos fazer para aliviar o sofrimento, para ajudar as pessoas a obter abrigo e saneamento adequado, para as alimentar e proteger”, disse Pope. De forma conclusiva lê-se, no comunicado da OIM, que “todas as guerras são brutais, mas o balanço desta é particularmente horrível”.