O primeiro-ministro garante que os pedidos de autorização legislativa que inscreveu no Orçamento do Estado para alterar a lei geral do trabalho em funções públicas vão visar questões “mais administrativas e burocráticas”, que incluem mudanças na comunicação de greves, para o “aperfeiçoamento” do sistema de avaliação de muitos trabalhadores ou nas regras de mobilidade.

No Parlamento, durante o debate sobre o Orçamento do Estado, Luís Montenegro disse que o Governo “não tem ainda uma solução final nalguns domínios” e que o objetivo é dialogar primeiro com os sindicatos. O Governo já informou que vai começar em novembro as negociações com os sindicatos das carreiras gerais (Fesap, Frente Comum e STE) sobre esta temática.

“Aquilo que o Governo pretende é densificar, harmonizar, clarificar alguns conceitos em construção com os sindicatos”, assegurou o primeiro-ministro, acrescentando que “o que estamos a falar é de coisas mais administrativas, burocráticas, comunicação de greves — comunicação! — aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação, do SIADAP —, regras de mobilidade”.

A resposta foi dada à deputada do Livre, Isabel Mendes Lopes, que quis saber “o sentido que o Governo” quer seguir em relação a estes direitos. Depois da primeira resposta de Montenegro, José Soeiro, do Bloco de Esquerda, insistiu com o tema para perceber o que pretende o Governo mexer no regime de doença e se irá no sentido de “diminuir o valor de subsídio de doença”. “O senhor primeiro-ministro não diz. Nós conhecemos qual a orientação do PSD e do CDS a última vez que mexeram na lei do trabalho”, atirou. Montenegro não respondeu.

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Alterações nas regras de doença, greve e férias da função pública são para “simplificar e melhorar”. Governo não explica como

Em causa está um pedido de autorização legislativa ao Parlamento que consta na proposta de Orçamento do Estado para 2025, mas que não é explicado em detalhe. Esse pedido é para alterar artigos relacionados com a justificação de doença e meios de prova, dispensa do acordo do órgão ou serviço de origem para a mobilidade, consolidação de mobilidade e remuneração em mobilidade, regime jurídico da cedência de interesse público, direito a férias e aviso prévio de greve.

O Governo diz apenas, na proposta de OE, que tem o objetivo de “prever a identidade de regimes de certificação da doença entre os trabalhadores do regime geral e do regime de proteção social convergente”, ou seja, entre a Segurança Social e a CGA, e de “prever a alteração do regime de consolidação da mobilidade”. A autorização legislativa tem a duração de 365 dias.

Além disso, também foi feito um pedido de autorização legislativa para que o Governo fique autorizado a criar um projeto-piloto no domínio do sistema integrado de gestão e avaliação dos funcionários públicos (o SIADAP).

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Esse projeto-piloto vai passar pela “reformulação do conceito e sentido dos objetivos a fixar aos serviços, dirigentes e trabalhadores, garantindo o seu alinhamento com as metas e a estratégia previamente assumida, podendo incidir sobre projetos em desenvolvimento”, a “revisão dos critérios e das quotas para atribuição de prémios de desempenho”, a “simplificação e desburocratização do processo avaliativo” ou instituir “mecanismos de reconhecimento do mérito, da inovação e do impacto do desempenho no contexto do serviço e/ou organismo e na Administração Pública”, de acordo com o articulado do OE.

Segundo os sindicatos, a secretária de Estado da Administração Pública, nas reuniões dedicadas ao OE, já tinha garantido que não seriam “alterações de fundo” e que serão no sentido de “simplificar e melhorar”.

Já esta semana, numa audição parlamentar sobre o OE, também o ministro das Finanças assegurou que as alterações implicam “pequenos acertos na lei”. “O que eventualmente for alterado é o que vai decorrer da negociação com as carreiras gerais”, reforçou. O Bloco de Esquerda apelou que o artigo não seja aprovado.

Governo não altera proposta de aumentos salariais para 2025. Ainda não há acordo na função pública