A seis dias das eleições presidenciais norte-americanas, a candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, subiu ao palco no parque Ellipse da Casa Branca para alertar o país sobre o que considera estar em jogo a 5 de novembro. “Será provavelmente o voto mais importante de sempre”, sublinhou, defendendo que “é mais do que uma escolha entre dois partidos e dois candidatos”. “É uma escolha entre um país enraizado na liberdade para cada americano ou governado pelo caos e pela divisão”, afirmou.

Logo nos primeiros instantes da sua declaração final de campanha, Kamala Harris partiu ao ataque contra o oponente. “Sabemos quem é Donald Trump, o homem que enviou uma multidão armada ao Capitólio para anular a vontade do povo numa eleição livre e justa”, atirou, referindo-se aos eventos de 6 de janeiro, depois das eleições que deram a vitória a Joe Biden.

A candidata não ficou por aí e descreveu o ex-Presidente como alguém “instável”, “obcecado com a vingança” e que tem uma “lista de inimigos” com quem ajustar contas. “Ele prometeu libertar extremistas violentos que atacaram as forças da autoridade a 6 de janeiro. Pretende usar o exército dos EUA contra os cidadãos americanos que simplesmente discordam dele. Pessoas a quem chama, e passo a citar: o ‘inimigo de dentro'”, apontou.

Kamala Harris acusou Donald Trump de semear a divisão e o caos. “Nunca entendeu uma verdade sobre o coração da nossa nação: a nossa democracia não requer que nós concordemos em tudo”. A candidata democrata sublinhou que é tempo de “virar a página” e de uma “nova geração de líderes”, garantindo que está “pronta para oferecer essa liderança.”

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Críticas feitas, Kamala Harris procurou fazer um contraste com o seu percurso. Reconhecendo que esta foi uma “campanha atípica” — sem mencionar concretamente a saída abrupta de Joe Biden — e que muitos norte-americanos ainda não a conhecem bem, apesar dos quatro anos enquanto vice-presidente, lembrou o seu passado como procuradora e as lutas contra os grandes bancos, predadores e cartéis. “Desde que me lembro sempre tive o instinto de proteger (…). Há algo em ver pessoas serem tratadas injustamente ou serem ignoradas que me afeta. Não gosto disso”, disse, explicando que foi algo que a mãe lhe incutiu. Esta seria a primeira de várias referências que faria sobre ela.

Sublinhando que não é perfeita, deixou uma série de promessas aos eleitores: “Vou ouvir-vos sempre, mesmo que não votem em mim, vou sempre dizer a verdade, mesmo que seja difícil de ouvir, vou trabalhar todos os dias para criar compromissos”. “No 1.º dia, se eleito, Donald Trump vai entrar na sala Oval com uma lista de inimigos. Eu vou entrar com uma lista de tarefas”, reiterou.

Harris não terminaria o seu discurso sem mencionar duas questões que têm sido centrais na campanha, a começar pelo direito ao aborto. A vice-presidente garantiu que vai reverter “o que Trump e os seu juízes escolhidos a dedo” fizeram ao reverter a lei Roe vs Wade. “Hoje, uma em cada três mulheres vivem num estado que proíbe o aborto, muitas sem exceções para situações de violação e incesto”, denunciou. Alertou que, se eleito, o republicano vai banir o aborto nacionalmente e restringir os tratamentos de fertilidade, lembrando as medidas que constam no Projeto 2025, de que Trump tem procurado afastar-se.

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Também houve espaço para falar de imigração, com Harris a criticar os políticos que têm usado o tema na campanha para assustar os eleitores. A candidata prometeu que vai trabalhar com democratas e republicanos para assinar a lei de fronteiras bloqueada no congresso por Trump. Disse também que é tempo de reconhecer que os EUA “são uma nação de imigrantes” e que vai trabalhar por um caminho de cidadania para todos os imigrantes trabalhadores.

No âmbito da política externa, assegurou que vai fortalecer a liderança americana e as suas alianças, além de tornar o exército norte-americano “a maior força e a mais letal” força do mundo. “Os líderes mundiais acham que Donald Trump é um alvo fácil, possível de manipular com lisonja e favores. Podem acreditar que autocratas como Putin e Kim Jong Un estão a torcer por ele nesta eleição”, defendeu.

Kamala Harris terminou o discurso avisando que o opositor só irá semear “mais caos e mais divisão”. “Ao contrário de Donald Trump, não acredito que as pessoas que discordam de mim são inimigo, vou dar-lhes um lugar à mesa”, disse. “Em sete dias, terão o poder de virar a página e começar a escrever o próximo capitulo da melhor história que alguma vez se escreveu”, concluiu.