O líder socialista pede “consequências políticas” pelos problemas decorrentes da greve no INEM, mas não é a cabeça da ministra da Saúde que pede, apontando antes todas as responsabilidades ao primeiro-ministro e à “gestão da greve” que, diz, “provocou já danos na vida de alguns portugueses e gera em todos sentimento de insegurança”. “Estamos perante uma situação muito grave, de negligência, de irresponsabilidade e de incompetência do Governo”, disse tentando acertar diretamente em Luís Montenegro.

“O Governo nada fez para evitar a greve nem para minorar os seus impactos”, acusou o socialista a partir da sede do partido, em Lisboa, para onde convocou os jornalistas. Numa altura em que a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde abriu inquérito às mortes por alegados atrasos no INEM nestes dias de greve, Pedro Nuno Santos vem dizer que “infelizmente foi só após oito mortes, aparentemente motivadas por atraso nos serviços de emergência médica, que o Governo sentiu a necessidade de intervir”.

Durante a conferência de imprensa que quis limitar apenas a este tema, o socialista disse mesmo que “bastava uma reunião para impedir que a greve acontecesse tal como agora foi conseguido”. E diz que “neste caso concreto o Governo tinha obrigação de apresentar uma proposta de serviços mínimos”, contestando a tese de que nesta situação não podiam ser convocados. “Também podem ser decretados às greves ao trabalho suplementar”, assegurou em declarações aos jornalistas.

O socialista pediu “consequências políticas” e tentou separar o tema da falta de “investimento” na área e recusou muito diretamente que o Governo “se esconda no Governo anterior” — a única coisa que quis trazer do anterior Governo foi a memória da sua própria actuação como ministro das Infraestruturas muito concretamente nas negociações que, em 2019, se envolveu para chegar ao acordo que pôs fim (ao fim de três dias) à greve dos motoristas de matérias perigosas.

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O objetivo do líder do partido é focar o caso no primeiro-ministro, coisa que já tinha feito, exatamente nos mesmo moldes (“o problema já não é da ministra, é do primeiro-ministro”) sobre as declarações polémicas da ministra da Administração Interna sobre o direito à greve dos polícias. “Esta greve [nos serviços de emergência pré-hospitalares] acontece com este Governo e no momento em que era preciso lidar com ela, o Governo falhou e foi só oito mortes depois que chamou o sindicato e mandou parar a greve”, declarou ainda nesta mesma linha.

“O problema já não é da ministra, é do primeiro-ministro”. Líder do PS aproveita Blasco para acertar em Montenegro

E repetiu a tal frase aplicada já no passado com outra ministra ao dizer que “este problema não é só da ministra, é do Governo todo e do primeiro-ministro em particular que podia ter optado por dizer que ia averiguar, mas optou por desvalorizar esta greve dizendo que não podem andar sempre atrás de pré-avisos de greve”.

Segundo esta linha de argumentação de Pedro Nuno, fica, assim, demonstrado que “o problema não se resolve só com a substituição da ministra, mas com a forma como o Governo resolve problemas”. “É quando governos são testados com casos concretos que se avalia a sua competência”, atirou apontando “demasiados casos” que “mostram que o Governo tem falhado no que é mais essencial”.

Questionado insistentemente sobre se pede a demissão da ministra da Saúde, o socialista diz que Ana Paula Martins tem “revelado grande incapacidade na gestão do dossier da Saúde”, mas diz que “o problema não é só a ministra”. E remete para o primeiro-ministro a “avaliação das condições” da ministra para continuar.