O dirigente do Livre José Azevedo demitiu-se da direção por divergências com as posições do partido no plano militar, em particular sobre os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente.

Em declarações à agência Lusa, José Azevedo, que fez parte da lista integrada por Rui Tavares para o Grupo de Contacto do partido no congresso de maio, justificou a sua demissão sobretudo com “divergências com posições públicas do partido sobre temas militares, em particular em relação à guerra na Ucrânia e ao genocídio de Israel em Gaza”.

José Azevedo salientou que, apesar da sua demissão, vai continuar como militante do Livre por entender que esta força política é necessária.

“Sinto responsabilidade para contribuir para que o Livre cumpra a sua missão”, acrescentou.

Recentemente, o Livre votou a favor na Assembleia da República de um voto apresentado pela Comissão de Assuntos Europeus que saudava a reeleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia, e no passado dia 18 de outubro deu ‘luz verde’ a uma resolução da IL que recomendou ao Governo que inicie o procedimento, junto do Conselho da União Europeia, para que a Guarda Revolucionária Iraniana seja designada como uma organização terrorista.

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Tema internacional que também está a gerar alguma discórdia interna é a recente subscrição do partido de um comunicado dos Verdes Europeus – família europeia da qual o Livre faz parte como membro efetivo – emitido no passado dia 1 de novembro.

Este comunicado apelava à candidata do Partido Verde dos Estados Unidos da América, Jill Stein, para se retirar da corrida e apoiar a democrata Kamala Harris — que acabou por perder as eleições presidenciais norte-americanas para o republicano Donald Trump.

Na quarta-feira, a Assembleia do Livre — órgão máximo entre congressos – vai debater um documento, ao qual a Lusa teve acesso, subscrito por seis membros deste órgão (de um total de 50) que contestam a subscrição pelo partido do comunicado dos Verdes Europeus.

Estes dirigentes queixam-se que a subscrição do Livre deste comunicado foi feita “sem consulta prévia dos seus membros e apoiantes, que foram informados desta tomada de posição por fontes externas ao Livre, tornando este processo pouco transparente e causando desconforto entre os seus filiados”.

O texto, em formato de moção de rejeição, quer que a Assembleia do Livre condene o comunicado dos Verdes Europeus, “que apresenta um apoio explícito à candidatura de Kamala Harris pelo Partido Democrata, que se baseia na manutenção do ‘status quo’ da acumulação de capital nos muito ricos e no imperialismo global dos Estados Unidos, cruzando várias linhas vermelhas em valores e posições políticas fundacionais do Livre”.

“O comunicado diz, e citamos, «a Europa precisa de Kamala Harris como Presidente dos EUA, para ser uma parceira fiável (…) e trazer uma paz justa e sustentável ao Médio Oriente», numa clara alusão a uma posição que é impensável no Livre perante a Palestina: o apoio ao Estado de Israel e a sua cumplicidade com o genocídio do povo palestiniano”, lê-se no texto.

A posição do Livre é inquestionável sobre a Palestina; a deste comunicado não o é“, criticam.

Estes dirigentes também criticam o processo que levou à subscrição do texto dos Verdes Europeus, acusando a direção de ter tomado uma “decisão unilateral” que “contornou o órgão deliberativo do partido e o órgão máximo entre Congressos”.

“Consideramos que a subscrição do LIVRE careceu de um debate interno acerca das implicações, objetivos e resultados esperados desta subscrição. Apelamos a uma maior ponderação na tomada de decisões políticas e a uma revisão e reflexão alargadas sobre o papel do Livre no seu partido Europeu e respetiva evolução”, rematam.