Foi a grande novidade do primeiro dia da Web Summit. Portugal vai ter o seu próprio LLM, acrónimo para Large Language Model, inglês para ‘grande modelo de linguagem’. Não sendo bem um ChatGPT português, a ligação tem a sua lógica, já que o conhecido ChatGPT é um chatbot que interage com um modelo de linguagem (LLM).

O que é um LLM?

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Um LLM “é uma solução de inteligência artificial que aprende a interpretar e gerar texto a partir de enormes quantidades de dados (texto, imagens, áudio, entre outros)”, explica a nota enviada pelo Governo a pedido do Observador. Tem a capacidade de se ajustar conforme os dados que recebe e está na base de sistemas de IA conhecidos como o ChatGPT.

“Esta aprendizagem é feita recorrendo a grandes volumes de dados, melhorando o desempenho e qualidade dos resultados gerados ao longo do tempo, e permite utilizações como a previsão da próxima palavra numa frase, responder a questões, ou auxiliar em tarefas como tradução, sumarização ou geração de novos conteúdos”, completa a explicação.

O que se sabe, além do que foi anunciado pelo primeiro-ministro no palco da Web Summit, vem numa nota explicativa enviada também por São Bento esta terça-feira (apesar de o dossiê pertencer ao Ministério da Juventude e Modernização, a quem o Observador também enviou questões). Que desvenda quem irá desenvolvê-lo.

“O LLM Nacional será desenvolvido através da colaboração entre centros de investigação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, devidamente articulados com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia”, revela o gabinete do primeiro-ministro.

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O projeto está inserido num âmbito mais vasto. Segundo o Governo, até ao fim do ano vai ser lançada a Estratégia Digital Nacional, da qual faz parte a Agenda Nacional de Inteligência Artificial. Este ‘chapéu’ tem como objetivo fazer com que Portugal chegue a 2030 com “um ecossistema robusto de Inteligência Artificial, baseado na ética e na excelência científica, guiado pelo contexto regulatório europeu, que promova o bem-estar social, e potencie a produtividade e competitividade da economia portuguesa”, refere a mesma nota explicativa.

Em concreto, esta agenda terá três eixos de atuação: Investigação e Inovação, Talento e Infraestrutura. O LLM português estará inserido no pilar da Investigação e Inovação.

E porque é que o Governo achou importante ter um modelo de linguagem em português? Porque “a dependência de LLM estrangeiros apresenta sérios riscos a Portugal como a perda de representatividade cultural ou a dificuldade em diferenciar variantes do português, nomeadamente a variante europeia”, lê-se na nota.

Assim, o Governo quer que o LLM Português dê “aos cidadãos, empresas, Administração Pública e Academia a possibilidade de utilizar soluções de Inteligência Artificial que respeitam e preservam a soberania da língua portuguesa, as nuances da nossa história e o património cultural”.

É dado o exemplo de Espanha, onde está a ser desenvolvido um LLM “que visa manter a representatividade cultural e das línguas oficiais faladas em território espanhol”.

Quando fez a primeira apresentação do projeto, Luís Montenegro deu os exemplos possíveis. Com o modelo que vai ser desenvolvido, é como se a cada aluno fosse dado “um tutor educativo de IA adaptado aos nossos currículos para o ajudar a compreender o mundo” ou “a cada cidadão o acesso aos serviços da administração pública de forma mais simples, mais direta e personalizada para responder às suas necessidades”. Também as empresas poderão usufruir do modelo, para “projetar os seus serviços numa era de inteligência artificial”.

Do pouco que se sabe sobre o projeto, além da garantia dada por Montenegro de que será lançado no primeiro trimestre de 2025, sabe-se também que “estará disponível para todos, que poderão utilizá-lo de forma autónoma e fácil”, pelo que se depreende que será gratuito.

Estará disponível na internet “para descarregar e utilizar localmente ou através de integração com outros serviços”, acrescenta o Executivo. Poderá ainda “ser combinado com outros LLM estrangeiros de grandes dimensões, assegurando que estes geram conteúdos fiáveis e verídicos sobre Portugal, respeitando e preservando as especificidades da língua, história e cultura portuguesa”.

Já existem outros grandes modelos de linguagem em português, como o Albertina, que tem as variantes de português europeu e português do Brasil, e é desenvolvido pelo departamento de Informática e Ciências da Universidade de Lisboa (UL) com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Existe também o Gervásio, da UL, e o modelo GlórIA, desenvolvido pela Nova. Não se sabe, neste momento, se haverá algum tipo de cooperação ou integração entre o trabalho já desenvolvido e o novo modelo anunciado pelo Governo.

Já esta terça-feira, na Web Summit, o ministro da Economia também foi questionado sobre a IA “em português”. Pedro Reis não deu mais detalhes sobre o projeto, mas mostrou-se convicto de que estará mesmo operacional no primeiro trimestre do próximo ano. “Foi anunciado e vai ser agora trabalhado. Pode ser uma plataforma que, na prática, materializa as intenções que queremos sempre desenvolver de cooperação”. Pedro Reis diz que o projeto só agora vai ser estruturado, orçamentado e aplicado. “O facto de haver um anúncio pelo primeiro-ministro com esta exposição internacional é um compromisso definitivo em operacionalizar isto a breve trecho”.