O livro Habitar Lisboa, concebido no contexto da exposição homónima apresentada no Centro Cultural de Belém, de outubro de 2023 a abril deste ano, foi premiado pela Bienal Ibero-americana de Arquitetura e Urbanismo, anunciou a mostra ibero-americana.

Habitar Lisboa, com edição da arquiteta Marta Sequeira e coordenação do arquiteto André Tavares e da editora Maria Burmester, foi distinguido na categoria Publicações, segundo a lista de vencedores da XIII Bienal Ibero-americana de Arquitetura e Urbanismo (BIAU), que este ano se realiza de 2 a 6 de dezembro, em Lima, Peru.

Living in Lisbon. An Architectural View on Housing Challenges, no título internacional, “oferece uma análise profunda e perspicaz sobre os desafios habitacionais de Lisboa, refletindo sobre as questões sociais, políticas e ambientais associadas ao tema”, como se lê na apresentação da obra distinguida, resultado “de uma colaboração entre investigadores e arquitetos”, que “explora o contexto arquitetónico e urbano de Lisboa e propõe novas perspetivas sobre a habitação e a qualidade de vida na cidade”.

O livro e a exposição realizaram-se no contexto da “crise habitacional sem precedentes” que a capital portuguesa enfrenta, com “a escalada dos preços das casas, impulsionada pela financeirização do mercado imobiliário e pela falta de investimento contínuo em políticas públicas”, afetando em particular quem reside na cidade.

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Alertando para o facto de raramente se discutir “como serão os edifícios” que podem “materializar as políticas concebidas para enfrentar esta crise”, Habitar Lisboa, o livro, à semelhança da exposição, interroga: “Que cidade queremos construir? E qual o papel da arquitetura nesse processo?”

A obra propõe-se “analisar criticamente a situação atual e explorar possíveis ações para a construção da cidade”, oferecendo “uma panorâmica das arquiteturas mais icónicas que resultaram das políticas públicas de habitação” desenvolvidas em Lisboa ao longo de 50 anos de democracia, ao mesmo tempo que “faz uma resenha dos projetos habitacionais em desenvolvimento e aponta desígnios para o futuro em formato de diálogo, ensaio ou manifesto”.

Apesar de centrado em Lisboa, o livro aborda “questões universais de habitação digna e contém reflexões particularmente relevantes para as cidades da região ibero-americana, onde as crises habitacionais exigem soluções urgentes”, dialogando “diretamente com o tema curatorial ‘Climas'” da BIAU, que “reflete três dimensões interligadas: o clima ambiental, o clima político e o clima socioeconómico”.

No plano ambiental, Habitar Lisboa, segundo a sua memória descritiva, destaca a importância de mediação “entre as necessidades habitacionais e a preservação dos recursos naturais”; sobre o clima político, questiona “como as instituições governamentais podem, a partir da arquitetura, desenvolver respostas estruturais e eficazes para enfrentar a crise habitacional”.

Na perspetiva socioeconómica, reflete sobre “as desigualdades exacerbadas pela gentrificação e pela pressão do turismo, posicionando a arquitetura como um instrumento essencial de inclusão e promoção da equidade”.

Habitar Lisboa inclui ensaios dos investigadores João Ferrão, Kath Scanlon e Luís Mendes, assim como de Marta Sequeira, e contribuições e conversas com arquitetos, sociólogos, urbanistas e responsáveis pelo setor como Inês Lobo, João Gomes da Silva, João Luís Carrilho da Graça, Sandra Marques Pereira, Paulo Tormenta Pinto, Ana Drago, Joana Pestana Lages, José Adrião, Ricardo Bak Gordon e Filipa Roseta, vereadora com tutela da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa.

A recolha, processamento e análise de dados reunidos em Habitar Lisboa são da responsabilidade do Urban Analytics Lab da Universidade Nova de Lisboa, Nova Cidade, e do Instituto Nacional de Estatística.

André Cepeda, Beatriz Martins, Daniel Malhão, Nuno Cera, Irene Buarque e Paulo Catrica assinam as imagens.

Habitar Lisboa tem edição conjunta do Centro Cultural de Belém, Din.mia’CET — Centro de Estudos Socioeconómicos do ISCTE e da Monade.

O prémio será entregue em Lima, durante a realização da BIAU.

A BIAU é organizada pelo Ministério dos Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana de Espanha, em parceria com o conselho superior do Colégio dos Arquitetos de Espanha e instituições ibero-americanas de habitação e urbanismo. A edição deste ano tem por tema “Clima : Acciones para el buen vivir” e premeia as carreiras dos arquitetos brasileiros Ciro Pirondi e Raquel Rolnik, e do argentino Jorge Mario Jáuregui.