Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) deram esta segunda-feira aval final à nomeação do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, como representante especial para o Sahel, região estratégica em termos de segurança e estabilidade.
“O Conselho nomeou hoje João Cravinho Representante Especial da UE (REUE) para a região do Sahel. O novo REUE contribuirá ativamente para os esforços regionais e internacionais no sentido de alcançar uma paz duradoura, a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento sustentável na região, que inclui o Burkina Faso, o Chade, o Mali, a Mauritânia e o Níger”, refere a instituição em comunicado.
“O REUE colaborará também com os países da bacia do Lago Chade e com outros países e entidades regionais ou internacionais dentro e fora da região, incluindo o Magrebe e o Golfo da Guiné e os países vizinhos afetados pela dinâmica do Sahel”, é também referido.
A nomeação tinha já sido acordada na semana passada, pelo que foi formalizada esta segunda-feira em Bruxelas, com João Gomes Cravinho a começar a desempenhar este cargo de representante especial da UE para o Sahel em dezembro próximo e até agosto de 2026.
A função foi criada em 2013 para promover o diálogo político, a coerência e a coordenação.
O Sahel é uma extensa área que atravessa longitudinalmente África, desde o Senegal até à Eritreia, mas o foco da UE vai centrar-se na Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Chade e Níger, sendo que em três deles houve golpes de Estado nos últimos anos (Mali, Burkina Faso e Níger), devendo também ser dada uma atenção especial aos países da costa atlântica.
Esta região é muito importante para a UE em termos de segurança e estabilidade, de compromissos internacionais em matéria de clima e desenvolvimento sustentável e de rotas migratórias ligadas à Europa.
De momento, o Sahel atravessa várias crises simultâneas, como uma crise de segurança com ataques regulares perpetrados por grupos armados e terroristas contra civis e forças de segurança, mas também alimentada pela violência interétnica, estimando-se que mais de 4.000 pessoas tenham morrido em 2019 devido a ataques.
A abordagem da UE combina o compromisso político, o apoio à segurança e à defesa, bem como uma ampla assistência humanitária e ao desenvolvimento, sendo que, desde 2014, a União e os seus Estados-membros mobilizaram cerca de oito mil milhões de euros no total.
Em meados de outubro, em declarações à Lusa, João Gomes Cravinho afirmou que a Europa é a única capaz de “tomar conta daquela região”.
“Trabalho não me vai faltar, e importância estratégica da região para a Europa também não; se não tomarmos conta disto, e mais ninguém vai tomar, porque os Estados Unidos olham para o Sahel como um problema que afeta a Europa, a NATO também não tem instrumentos nem vocação para trabalhar aqui, portanto é a União Europeia que tem de usar os seus instrumentos para gerar uma dinâmica diferente na região”, disse na altura o antigo governante.