A candidata a vice-presidente da Comissão Europeia Teresa Ribera negou esta quarta-feira falhas dos organismos meteorológicos e hidrográficos que tutela no Governo de Espanha nas inundações de 29 de outubro, em que morreram 227 pessoas.
Teresa Ribera, ministra com a pasta do ambiente no Governo espanhol, foi esta quarta-feira ao parlamento nacional, em Madrid, dar explicações sobre as inundações, como lhe exigiu o grupo do Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita) para decidir se a aprova como comissária da nova Comissão Europeia.
Ribera apresentou aos deputados uma cronologia do dia 29 de outubro com centenas de alertas e comunicações enviados pela Agência Espanhola de Meteorologia (Aemet) e pela Confederação Hidrográfica de Júcar às autoridades autonómicas da Comunidade Valenciana, que têm a responsabilidade da proteção civil e são “o comando único” no terreno.
A ministra considerou que os dois organismos estatais geraram “os alertas e informações adequados” e afirmou que operaram “antes, durante o dia 29 e depois” sob o comando único da “Generalitat” Valenciana (o governo regional de Valência), por ser às autoridades autonómicas que compete a gestão da emergência, como está estabelecido na estrutura do Estado espanhol e nos estatutos regionais.
Ribera sublinhou que o leste de Espanha foi atingido por um fenómeno de chuvas intensas inédito e extraordinário e que a Aemet emitiu um aviso vermelho, o mais grave, às sete horas e meia daquele dia, mas as autoridades regionais só enviaram um alerta generalizado às populações às 20 horas e 10, quando já havia localidades inundadas.
“Um alerta precoce é a primeira recomendação desde há anos tanto da comunidade académica como das próprias Nações Unidas” para “salvar vidas”, afirmou a ministra, que insistiu na necessidade de todas as autoridades continuarem a trabalhar para “reforçar a ação contra as alterações climáticas, a capacidade de antecipação e a capacidade de alerta precoce”.
Teresa Ribera acrescentou que face às alterações climáticas e aos fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes, é preciso contar com a ciência e respeitar os académicos e os técnicos, e defendeu o trabalho de agências como a Aemet ou as confederações hidrográficas, considerando “perigoso” que se coloque em causa a sua atuação.
“Por isso, porque me parece profundamente injusto e perigoso face ao que temos de preparar e ao que estamos a enfrentar, quero agradecer aqui o trabalho dos servidores públicos que emitiram a informação tal e como era o seu dever”, afirmou.
As inundações de 29 de outubro têm gerado críticas e trocas de acusações entre o Governo central de Espanha, liderado pelos socialistas, e o governo regional da Comunidade Valenciana, presidido pelo Partido Popular (PP, direita).
O confronto coincidiu com as audições dos candidatos a comissários no Parlamento Europeu e o PP espanhol transformou progressivamente Teresa Ribera no principal foco das críticas.
O PP invocou falhas na informação sobre os caudais dos rios que foi transmitida ao governo regional por agências estatais, acusa a ministra de ter estado ausente nos dias das inundações, por estar centrada há meses unicamente no cargo europeu para que foi indicada, e de não ter concretizado obras de prevenção nos seis anos que leva no Governo.
Sobre esta última acusação, Teresa Ribera disse que assinou ela própria em 2011, quando era secretária de Estado, a declaração de impacto ambiental que dava “luz verde” a obras de prevenção de inundações na região de Valência, em zonas como o Barranco do Poyo, cujo transbordo foi dos que causou mais mortes em 29 de outubro.
A ministra afirmou que essas obras, porém, nunca avançaram, por decisão de governos do PP liderados por Mariano Rajoy e que nos últimos seis anos, desde que é ministra e os socialistas voltaram ao poder em Espanha, retomou esses projetos, que não avançaram mais por indecisões e adiamentos das autoridades autonómicas.
Após as audições no Parlamento Europeu, na semana passada, dos candidatos a vice-presidente do executivo europeu, os votos finais dos eurodeputados à nova Comissão de Ursula Von der Leyen foram adiados, com os maiores grupos políticos representados na assembleia a iniciarem negociações com vista a uma aprovação em bloco dos nomes que ainda não têm parecer dos eurodeputados.
Apesar de o PP espanhol manter a oposição à aprovação de Teresa Ribera, e depois da ida na quarta-feira da ministra ao parlamento de Madrid, é esperado um acordo esta tarde em Bruxelas entre o PPE e os Socialistas e Democratas (S&D) para desbloquear a nova Comissão Europeia, segundo fontes partidárias.
Segundo as fontes ouvidas pela agência Lusa em Bruxelas, os dois partidos abdicaram de “duas principais exigências”: o PPE que Teresa Ribera se demitisse caso seja envolvida em processo judiciais por causa das inundações e o S&D que o italiano Rafaelle Fito perdesse a vice-presidência da Comissão Europeia.