O almirante Henrique Gouveia e Melo não vai ser reconduzido como Chefe do Estado-Maior da Armada, o que significa que estará livre para, se assim o entender, protagonizar uma candidatura a Presidente da República. Segundo apurou o Observador junto de fonte conhecedora do processo, Gouveia e Melo comunicou “em definitivo” a Nuno Melo, ministro da Defesa, a sua indisponibilidade para continuar no cargo — Melo já terá, inclusivamente, informado Luís Montenegro.
Em declarações ao Observador, Gouveia e Melo não quis comentar em concreto esta informação e remeteu qualquer resposta oficial para o Governo. “Essa informação quem poderá confirmar ou não é o Governo. Já foi tratado há algum tempo com o Governo”, limitou-se a dizer o almirante, antes ainda de deixar mais uma certeza: “Houve quem dissesse que andei a negociar o meu lugar. Não negociei o meu lugar”.
Gouveia e Melo referia-se assim a uma notícia avançada pelo Expresso de que aceitaria ficar à frente da Marinha por mais dois anos a troco do investimento em mais dois submarinos — condição que o próprio, de viva voz, viria a desmentir violentamente.
O Observador procurou confirmar a não recondução de Gouveia e Melo junto do Ministério da Defesa, mas não obteve qualquer resposta num ou noutro sentido. O almirante está a um mês de terminar o seu mandato de dois anos como Chefe do Estado-Maior da Armada. Quando deixar o cargo, algo que acontece formalmente a 27 de dezembro, terá todas as condições para, se assim o entender, entrar na corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa — ambição que nunca afastou por completo, que as sucessivas sondagens alimentam e que o ar dos tempos à direita parece reconfortar.
O almirante alimenta há anos o tabu sobre as suas alegadas ambições presidenciais, ainda que exista quem garanta que está tudo resolvido: que Gouveia e Melo já terá a decisão tomada e que quer mesmo avançar para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. O facto de ter mostrado indisponibilidade para continuar por mais dois anos no cargo pode indiciar que está mesmo decidido a avançar.
Como explicava aqui o Observador, para Marcelo Rebelo de Sousa, a recondução de Gouveia e Melo como Chefe do Estado-Maior da Armada era a solução mais lógica. O Presidente da República reconhecia a competência do almirante para se manter no cargo, a dificuldade que seria substituí-lo, o peso muito grande que tinha e tem na Marinha e a boa relação que tinha com ministro da Defesa. Mas Gouveia e Melo não se mostrou disponível para se manter no cargo por mais dois anos.
Confirmada a saída de Gouveia e Melo, o processo de substituição será longo. Em caso de exoneração ou vacatura do cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, cabe ao Conselho do Almirantado submeter ao Conselho de Chefes de Estado-Maior, através do Chefe de Estado-Maior interino, os nomes dos vice-almirantes que preencham as condições legais para a nomeação para aquele cargo.
Só depois o Governo retoma a iniciativa para propor ao Presidente da República os Chefes do Estado-Maior dos três ramos (Exército, Armada e Força Aérea). Caberá depois a Marcelo Rebelo de Sousa a decisão final de nomear ou não as figuras indicadas pelo primeiro-ministro — tal como acontece, por exemplo, com o cargo de Procurador-Geral da República.
Belém vê recondução de Gouveia e Melo como “solução mais lógica”