O sociólogo Boaventura de Sousa Santos demitiu-se do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), instituição que fundou, na sequência das denúncias de assédio de que foi alvo por várias mulheres.
A informação está a ser avançada pelo Diário de Notícias, que cita um email enviado aos membros do CES com o anúncio. Na mensagem, Boaventura de Sousa Santos acusa mesmo a atual direção do CES de promover o seu “linchamento”.
“Já não confio que possa haver no CES qualquer tipo de julgamento imparcial e não tenho quaisquer dúvidas de que o objetivo da direção do CES é (e sempre foi) expulsar-me”, escreve Boaventura no email citado pelo DN.
“Não tenho dúvidas de que a direção do CES age de modo parcial, com total violação das regras do direito democrático (presunção de inocência), politicamente motivada, devido às disputas internas na instituição, e quer condenar-me publicamente, antes que os Tribunais se pronunciem sobre os casos que estão a ser tramitados”, acrescenta ainda o sociólogo de Coimbra.
Nessa comunicação interna, Boaventura de Sousa Santos acusa mesmo o CES de querer linchá-lo publicamente sem provas.
“Não posso pactuar com esta conduta de uma direção da instituição que criei, a qual, descontente com o relatório da comissão independente, promove o linchamento, sem provas e sem qualquer preocupação com a verdade, de um investigador de renome internacional que, com o seu esforço e dos seus colaboradores, tornou o CES numa das mais prestigiadas instituições científicas do mundo na área das ciências sociais”, escreve o sociólogo.
Na nota, Boaventura de Sousa Santos promete ainda divulgar os documentos que sustentam a sua “versão dos factos” e dedicar-se aos processos judiciais, esperando que “um dia a verdade fale mais alto”.
A polémica eclodiu em abril de 2023, com a publicação do livro Sexual Misconduct in Academia, pela editora académica britânica Routledge. Um dos capítulos é da autoria de três investigadoras que descrevem detalhadamente um padrão de casos de assédio sexual numa instituição de ensino superior, cometidos por dois investigadores.
Rapidamente, começou a circular que a instituição em causa era o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e que os dois investigadores apontados eram Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins.
Na sequência do caso, Boaventura e Bruno Sena Martins foram suspensos dos cargos que ocupavam no CES — e a instituição viria a constituir uma comissão independente para investigar as alegações que constavam do capítulo. Já este ano, a comissão divulgou o relatório final, no qual confirmou que existiam padrões de abuso de poder e assédio na instituição, mas não mencionou nomes específicos.
Já em setembro deste ano, o sociólogo intentou uma ação cível contra um coletivo de mulheres para proteger o seu bom nome e honra. No email desta terça-feira, Boaventura de Sousa Santos diz que vai ainda dar entrada nos tribunais uma nova ação contra outras mulheres do coletivo.