João Ferreira, vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa e membro do Comité Central do PCP, diz que a permanência da Presidência da República nas mãos da direita há 20 anos, “nunca aconteceu por falta de comparência do PCP“. “Tal não significa só a apresentação de um candidato, mas de intervir no debate para cortar campo aos candidatos da direita”, assegura, garantindo que os comunistas sempre fizeram tudo o que podiam para mudar o passado recente da Presidência da República.

No programa Comissão de Inquérito da Rádio Observador, acusou ainda o PS “de um certo demissionismo“, que contribuiu para o cenário político em Belém nos últimos 20 anos. Optou por não comentar os nomes apontados recentemente a uma candidatura presidencial, considerando que “estamos muito longe das eleições” para discutir nomes como os de Mário Centeno ou de António José Seguro, que se perfilam à esquerda.

“Era importante que todos aqueles que reconhecem a importância de ter na Presidência da República alguém verdadeiramente comprometido com a Constituição da República fizessem tudo o que é possível para isso acontecer”, apelou o antigo candidato à Presidência da República, notando que nos últimos 20 anos os valores da Constituição não foram uma prioridade para os vários Presidentes.

“Nos primeiros 10 anos de Cavaco Silva, [os valores constitucionais] foram afrontados como nunca até hoje”, assegura, referindo que nos últimos dez anos o nível de confronto não esteve no mesmo patamar.

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Ainda assim, destaca que esta semana, nas comemorações do 25 de Novembro, foi visível o “desconforto que o atual Presidente da República tem em relação aos valores da Constituição”. “[Marcelo] considerou que existe uma grande diferença entre a Constituição de 1976 e a de hoje, mas separá-las, ignorando que há um conjunto de valores, princípios e ideias que ainda se conservam é uma postura e uma atitude que não ajuda à defesa desses ideais e desses princípios”, acrescenta.

João Ferreira: “Presidência da República é de direita há 20 anos, mas nunca por falta de comparência do PCP”

“Não basta tirar [Moedas] para instalar alguém que nos leve ao ponto em que estávamos em 2021, que não era desejável”

João Ferreira, que será o candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa nas autárquicas de 2025, apontou a atual “gestão errática e perdulária” do executivo de Carlos Moedas, mas distribui culpas entre o PS e o PSD — que ocuparam a liderança da autarquia nos últimos anos.

“Todos os que hoje desejam uma mudança na vida da cidade têm que perceber que a rutura não é só com os últimos três anos. Muitos dos problemas remontam à liderança PS, podemos ter uma alternância sem que esta corresponda a uma verdadeira alternativa”, garantiu.

O comunista entende mesmo que não se pode olhar para o que é necessário fazer em Lisboa enquanto a mera remoção do atual Presidente, Carlos Moedas. “Não basta tirar [Moedas] para instalar alguém que nos leve ao ponto em que estávamos em 2021, que não é um ponto desejável”, assegura, acrescentando que “não é por acaso que aconteceu o que aconteceu em 2021”, ou seja, que o PS tenha perdido a câmara para o PSD. “É preciso que o PS faça uma reflexão autocrítica da gestão da cidade que ainda não fez e que não mostrou disponibilidade para fazer”, apela.

João Ferreira é candidato à Câmara de Lisboa

O comunista garante que a política autárquica da cidade dos últimos anos é um “política de tudo ao turismo, que afoga outras atividades importantes para uma base de desenvolvimento económico sólido da cidade”. Mais uma vez, reforça que muitas das decisões que culminaram no estado atual da cidade foram tomadas tanto nos últimos três anos como pelos anteriores executivos locais socialistas, liderados por António Costa e depois por Fernando Medina.

“É fácil olharmos para a cidade e perceber que, não obstante a cidade dispor de recursos generosos, há muito para fazer, por exemplo, em termos de higiene e limpeza urbana, organização do trânsito e de manutenção das escolas que estão num estado calamitoso”, afirma o vereador do PCP na autarquia da capital.

Em relação à entrada do PCP numa megacoligação à esquerda para recuperar a liderança da Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira nota que a CDU “já é um local de convergência”, reconhecendo que “a situação atual reclama uma convergência ainda maior”. “Trabalhamos ativamente para que tal convergência se alargue”, acrescentou.