O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, defendeu esta quarta-feira que o seu Governo cumpriu com todas as suas responsabilidades nas inundações de 29 de outubro e pediu uma comissão de inquérito parlamentar à gestão da catástrofe.
Sánchez esteve esta quarta-feira pela primeira vez no parlamento nacional para esclarecer a gestão do Governo central de Espanha nas inundações na região de Valência, em que morreram mais de 200 pessoas.
“Os dados elaboraram-se, os avisos emitiram-se, a informação chegou a todas instituições competentes. Outra coisa é perguntar o que se fez com essa informação”, disse aos deputados, antes de sublinhar que “os organismos dependentes do Governo de Espanha cumpriram com seu dever” e “fizeram bem o seu trabalho”.
O primeiro-ministro espanhol lembrou que Espanha está organizada em regiões autónomas e que são estas que têm a tutela da proteção civil. Ao Estado central, cabe gerar e partilhar toda a informação meteorológica e sobre caudais de rios necessária para que as autoridades regionais possam tomar decisões, assim como disponibilizar todos os meios que sejam solicitados pelos governos autonómicos.
“O Governo de Espanha cumpriu com estas responsabilidades? A resposta é que sim, que o fez, e que o fez desde o primeiro momento e vai continuar a fazê-lo pelo tempo que for necessário para a reconstrução das zonas afetadas”, afirmou, depois de apresentar dados com centenas de comunicações, alertas gerados por diversos organismos tutelados pelo Governo espanhol e meios humanos e materiais enviados pelo Estado central para Valência.
“Se querem procurar culpados, façam-no. Mas não assinalando os servidores e servidoras públicas que cumpriram o seu dever”, afirmou, insistindo em que organismos tutelados pelo Estado como agência nacional de meteorologia (Aemet) ou as confederações hidrológicas fazem um trabalho técnico, baseado na ciência.
Para Sánchez, “o sistema não falhou e o sistema autonómico não falhou”, com a arquitetura desenhada em Espanha a seguir “os parâmetros defendidos pelos especialistas” e por outros países europeus ou da América do Norte, que atribuem “grande protagonismo” às administrações locais e regionais, por serem as que conhecem o terreno e os recursos.
“Penso que o Estado autonómico não falhou, que o sistema não falhou. Falharam algumas das suas peças e sobretudo algumas pessoas em posições muito elevadas que não estiveram à altura das suas responsabilidades”, disse o socialista Pedro Sánchez, que em diversos momentos referiu o papel que cabe e cabia na gestão do temporal e das inundações ao presidente do governo regional da Comunidade Valenciana, Carlos Mazon, que é do Partido Popular (PP, direita) e tem sido o principal alvo de críticas por parte das populações e diversos setores políticos.
Sánchez disse que “haverá tempo de sobra para falar deste assunto”, assegurou estar desejoso de o fazer e de apurar as responsabilidade e defendeu que seja criada uma comissão de inquérito no parlamento espanhol.
O primeiro-ministro garantiu que ele próprio participará nos trabalhos da comissão que vier a ser constituída e revelou que o Conselho de Ministros aprovará um “relatório exaustivo” sobre as inundações, com “dados em bruto”, que disponibilizará aos deputados.
Sánchez disse ser necessário “aprender com esta tragédia”, que “os responsáveis terão de assumir a sua culpa” e que embora o sistema de proteção civil em Espanha obedeça “aos princípios corretos”, pode ser melhorável.
Para Sánchez, entre as lições que todos têm de aprender com estas inundações, está também o de que “as alterações climáticas matam” e de que é necessário “levar a sério esta ameaça” e tê-la em conta nos planos de reconstrução das zonas afetadas e em obras e planos de prevenção do futuro na generalidade do território.
A gestão das inundações de 29 de outubro abriram uma troca de acusações entre o governo central de Espanha e as autoridades regionais, com o governo valenciano a queixar-se de ter recebido informação “tardia e inexata” de organismos nacionais.
O Governo de Sánchez tem sido também criticado pela oposição por não ter retirado às autoridades autonómicas a tutela da gestão da catástrofe no terreno, atendendo às queixas das populações de terem sido avisadas demasiado tarde em relação ao temporal e de falhas na assistência no terreno.