Sorridente, de barba feita, com uma cara que contrastava por completo com a questão inicial da conferência de imprensa feita pelo canal do clube que falava de “uma pintura que nos últimos dias não foi a melhor”. A derrota do Sporting frente ao Santa Clara foi o terceiro marco negativo de uma temporada com vários pontos positivos a retirar e coincidiu com o segundo desaire consecutivo de João Pereira no comando dos leões, que quebrou também uma série de 32 encontros sem derrotas no Campeonato e de 54 partidas sempre a marcar pelo menos um golo – e que com isso privou os leões de carimbarem o melhor arranque de sempre, ficando com uma marca de 11 triunfos consecutivos a abrir como tinha acontecido com Marinho Peres em 1990/91. No entanto, logo na entrada, havia uma mensagem a passar para fora: a confiança não saiu abalada.

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“O Moreirense é um clube que está a atravessar uma boa fase, que ainda não perdeu nos jogos em casa e nós temos isso bem claro na nossa cabeça. Depois, aquilo que disse é verdade: continuamos líderes [da Liga], com a melhor defesa, com o melhor ataque, isso tudo, e queremos regressar às vitórias. É esse o foco e é isso que queremos fazer no próximo jogo”, começou por referir o técnico leonino, antes de iniciar uma ronda de perguntas onde foi instado a delinear um diagnóstico para o momento que a equipa atravessa.

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“Sofremos mais golos agora mas aí também tem muita influência o encontro que fizemos com o Arsenal. Já falámos várias vezes nisso, podíamos ter chegado ao 3-2 e tornar o jogo diferente mas acabámos por sofrer cinco golos. Éramos uma equipa que ganhava sempre mas depois perdemos contra o Santa Clara. Tivemos duas derrotas seguidas, algo que não acontecia há algum tempo mas não diria que ganhar é determinante mas sim importante, todas as vitórias são importantes porque é muito melhor trabalhar em cima de vitórias”, referiu. “Pressão tenho desde o primeiro dia em que comecei a ser treinador, estou sempre sob pressão. Não me deixo acomodar, não facilito e estou sempre à procura do melhor. Todos sabemos o timing que foi. Uma equipa que ganhava sempre, com um treinador que estava aqui há quatro ou cinco anos. Vamos estar sempre a bater na mesma tecla: as coisas mudaram, treinador que foi não vai voltar, estou cá eu, estamos preparados para os desafios que se avizinham. Queremos tentar a vitória contra o Moreirense”, acrescentou.

“Não tenho dúvida nenhuma. Não é numa semana que se muda o que aconteceu em quatro anos, a relação que existia não pode haver agora nesta fase… Sinto os jogadores confiantes, com a equipa técnica, com o clube, a querer regressar às vitórias. Santa Clara? Perdemos mas tivemos mais remates, muito mais posse de bola, oportunidades mesmo não tantas como queríamos. O resultado poderia ser outro e neste momento não estávamos a falar disto. Perdemos mas estou confiante de que tudo vai mudar”, assinalou o técnico, que assumiu a ausência de Eduardo Quaresma e Franco Israel nos últimos treinos dos leões antes do jogo.

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“Falei com os jogadores como falo todas as semanas, de maneira a preparar o jogo da melhor maneira. Não sou um treinador que quando ganha faz uma coisa e que quando perde faz outra. Não podemos ser levados pelos resultados, não mudo consoante o vento. Tenho as minhas convicções e vou continuar com elas porque acho que é assim que vamos melhorar. Contestação? É normal. Vamos outra vez falar em 11 vitórias seguidas, da grande campanha na Champions e de repente aparecem duas derrotas. Tinha de estar preparado para o que aconteceria, sabíamos que é normal as pessoas falarem se perdêssemos. Nervoso? Se ficasse nervoso não podia estar nesta profissão. Claro que não fico contente quando perco mas temos de respeitar [quem critica]”, comentou também sobre aquilo que se tem falado ao longo dos últimos dias.

“Isso das ideias do outro treinador é difícil, nós não somos iguais…. Se tentar fazer isso, apesar de o nosso sistema ser parecido, não sei exatamente em que se baseava para esses comportamentos, quais eram as suas nuances. Então eu vou imitar uma coisa que não sei replicar, que não sei trabalhar? E depois no final do jogo, acaba e o que vou dizer aos jogadores? Faziam o que estavam habituados e não ganhavam? O que fazia neste papel? Eu tenho as minhas ideias, já viram que as coisas não são muito diferentes, não jogamos de repente em 4x4x2 ou 4x3x3. Houve ansiedade sim mas temos de ver o momento. Tínhamos só vitórias tirando a Supertaça e de repente perdemos 5-1 em casa. É normal os jogadores quererem dar uma resposta rápida para mostrar que esse jogo com o Arsenal tinha sido um erro. A bola não entrou, começaram a ficar um bocadinho mais ansiosos, queriam resolver mas depressa e bem não há quem. Foi isso que complicou um pouco mas os jogadores tentaram não foi por falta de ambição e atitude que perdemos o jogo”, apontou.

Em paralelo, e por mais do que uma vez, João Pereira voltou a falar à luz de um legado deixado por Ruben Amorim ao longo de quatro anos e meio. “Já disse desde o primeiro dia, quem viesse para aqui ia ter sempre essa herança. Toda a gente diz, e eu concordo também, até porque não sou muito velho, que foi um dos melhores treinadores da história do Sporting. Pegou no Sporting numa determinada altura e condição e ao fim de quatro anos e meio o Sporting tem muito mais títulos, luta sempre para ganhar. Claro que a herança é pesada mas já sabia, se tivesse receio não tinha aceitado vir para aqui”, frisou João Pereira.

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“Segurar o balneário? Sinceramente, acho que o balneário está coeso, os jogadores estão juntos, o staff está junto, toda a gente quer rumar para o mesmo lado. Ninguém quer ganhar mais do que nós e estamos muito motivados para isso. Mas sabemos que foi uma grande mudança, pode ter afetado aqui e ali, mas os jogadores estão confiantes. Agora é tirar um pouco dessa ansiedade de querer resolver rápido e as coisas vão começar a correr melhor. O que falta? É o clique de ganharmos. Como disse, a equipa também sente quando vem de muitas vitórias seguidas. Lembro-me quando fomos campeões com o Ruben, dos jogos que ganhámos aos 89, 90 e 92 minutos porque sabíamos que ia dar. Era a aura que existia, isto vai dar. De repente, o Ruben sai. Os jogadores ficam com a dúvida ‘Será que vai dar?’. É isso que cria ansiedade. A partir do momento em que ganharmos o primeiro jogo as coisas vão correr como corriam”, concluiu.