Faltando melhor, sobrou a evocação do passado para fugir à realidade de um presente que não antevê grande futuro. O Manchester City é aquela equipa mais habituada a altos do que a baixos desde que Pep Guardiola assumiu o comando técnico, com a virtude de agigantar-se nos momentos baixos para mostrar o porquê de estar no alto há tanto tempo. Agora, nada nem ninguém encontra a fórmula que sempre resultou. Porque a seguir à goleada em Alvalade chegou nova derrota com o Brighton. Porque a seguir à derrota com o Brighton chegou nova goleada com o Tottenham. Porque a seguir à goleada com o Tottenham a quase goleada passou a empate com o Feyenoord. Em Liverpool, era quase um tudo ou nada. Sobrou um nada em quase tudo.

Não te pagam para isto, Pep: City perde com o Liverpool e soma sete jogos seguidos sem ganhar

Quando o treinador espanhol levantou seis dedos da mão para recordar o número de títulos que ganhara nas épocas anteriores, fazendo recordar um gesto de José Mourinho em Anfield no mesmo sentido, mais não fez do que olhar para o bom que alcançara no passado e que se tornava mais complicado no presente. Nenhuma das mudanças que foram sendo feitas, do plano tático à escolha dos jogadores, teve resultados positivos e o Manchester City caiu para fora dos lugares com acesso à Liga dos Campeões, cavando um fosso de 11 pontos para o líder Liverpool ocupando a quinta posição da Premier League. Pior era impossível mas esse era um cenário já antes levantado com os resultados (ou a falta deles) conhecidos. Seria desta que os campeões em título conseguiriam quebrar a série de sete jogos consecutivos sem vencer, com um empate e seis derrotas?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Início do fim como Mourinho? Eu espero que não seja, pelo menos no meu caso. Talvez eu e o José sejamos algo parecidos. Mas ele ganhou três, eu ganhei seis”, recordou o espanhol na conferência antes da receção ao Nottingham Forest de Nuno Espírito Santo, uma das equipas sensação da atual temporada em Inglaterra. “São fortes fisicamente, têm um bom treinador e uma boa experiência, tal como o Brighton e outras equipas. A classe média subiu imenso, não são é só um ou dois jogos, são muitos e eles estão em posições de topo, o que significa que são bons”, apontou Pep Guardiola a propósito do sexto classificado a um ponto.

“Estamos a pensar no próximo jogo, tal como fazemos quando ganhamos. Vamos tentar lavar a cabeça e fazer boas escolhas na forma de jogar. Não conheço outra forma e não sinto pena de nós ou de mim mesmo. É o que é e temos de aceitá-lo. Nuno Espírito Santo elogiou-me? Agradeço, aprecio-o e partilho o mesmo sentimento por ele. Tenho noção do que fiz na minha carreira juntamente com muitos jogadores e clubes e consigo lidar com isto. Sinto-me mais seguro quanto ao que irá acontecer amanhã [quarta-feira]”, apontara o espanhol, que recusou também qualquer tipo de “choque” com Kevin de Bruyne, jogador com quem trabalha há quase uma década no City e que tem estado arredado apesar de treinar de forma integrada.

“Tenho a sensação de que faremos coisas muito boas nesta temporada. Não desisto e tenho a sensação de que estaremos lá. Acho que merecemos um pouco de paciência quando perdemos jogos. Estamos a defender um legado e isso é difícil de lidar. O que eu quero é compromisso dos jogadores para continuarem a fazer o que temos de fazer. Vejam de onde viemos. É tão difícil defender o sucesso que tivemos, é por isso que estou tão relaxado. Quero compromisso, compromisso e compromisso. Só sermos nós mesmos não é suficiente, temos que mostrar compromisso todos os dias. Precisamos de vencer um jogo. Quero que os jogadores tenham um bom desempenho, em certos departamentos precisamos de mais foco. Isto vai passar”, manifestara na antecâmara do jogo, quase dando o mote para o jogo no Etihad Stadium que seria o fim da pior série de sempre na carreira de Guardiola – e por “culpa” do aparecimento dos elementos mais próximos que tem nesta era, com Bernardo Silva a voltar aos golos e Kevin de Bruyne a ser o MVP do jogo.

Com quatro alterações de início, promovendo os regressos de Rúben Dias, Kevin de Bruyne, Jack Grealish e Doku às opções iniciais (Ortega manteve-se na baliza), o City não demorou a deixar um anúncio do que queria para a noite e inaugurou o marcador ainda nos dez minutos iniciais: já depois de Matz Sels ter tirado o golo a Erling Haaland num remate forte na área (5′), Bernardo Silva beneficiou de uma assistência de cabeça de De Bruyne para encostar na pequena área para o 1-0 que parecia trazer a serenidade perdida ao jogo dos campeões (8′). A jogar com quatro centrais de origem que se desdobravam em posse numa linha de três com a subida de Gvardiol e com uma das unidades do meio a ter carta branca para avançar em posse, o domínio dos visitados manteve-se e Gvardiol ficou muito perto de aumentar (15′).

Guardiola ficou à beira de um ataque de nervos na zona técnica depois do desvio ao lado do croata na área por saber que, nesta fase, qualquer abanão defensivo é suficiente para congelar a equipa. Foi isso que veio a acontecer pouco depois, com Jota Silva, a defrontar o “sósia” Jack Grealish, a ganhar pela direita numa insistência e a assistir Gibbs-White para um grande remate em zona central desviado por Ortega para canto (17′). O jogo estava aberto, partido e Gvardiol continuava a aproveitar o buraco entre a direita e o centro da defesa do Forest, surgindo isolado depois de um passe de Haaland para atirar ao lado (21′). Mesmo estando longe da habitual segurança com bola da era Guardiola, como se viu num passe errado de De Bruyne que deixou Chris Wood isolado para um remate ao lado (30′), havia mais City em campo e o capitão belga dos citizens voltou a aparecer no melhor, recebendo de Doku e rematando sem hipóteses para o 2-0 (31′).

O segundo tempo, já com Kyle Walker no lugar de Akanji, trouxe uma formação de Nuno Espírito Santo mais subida e a arriscar um golo que reabrisse a partida mas bastou uma transição para terminar de vez com tudo: Bernardo Silva encontrou a referência Haaland, o norueguês lançou Doku em velocidade para arriscar o 1×1 e o belga fletiu para dentro para rematar em arco para o 3-0 (57′). Em condições normais, esse seria o toque para a goleada; no atual contexto, foi apenas o carimbo no regresso às vitórias de uma equipa que até em termos físicos parece não atravessar o melhor momento mas que terminou com todos os horrores das últimas semanas. Se chegou para espantar todos os fantasmas, isso só mesmo o tempo poderá dizer…