Foi uma das audições mais inconsequentes da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas. Durante uma hora, o diretor comercial do grupo Lusíadas Saúde — que recebeu um email de Daniela Martins (a mãe das crianças) a pedir o contacto da médica pediatra Teresa Moreno — garantiu que não marcou a consulta para as crianças no hospital Lusíadas Lisboa, que nunca falou com Nuno Rebelo de Sousa e disse ainda desconhecer qualquer relação entre os Lusíadas e a seguradora das crianças no Brasil.
Victor Almeida disse que não prometeu “ajuda a ninguém” nem teve qualquer iniciativa “no sentido de ordenar o que quer que fosse”, nomeadamente a marcação da consulta naquele hospital privado. “Tudo o que fiz foi o pedido de contacto de uma médica chamada Teresa Moreno”, referiu o responsável, em resposta ao deputado do Livre Paulo Muacho, explicando ter sido contactado por Daniela Martins, a mãe das gémeas.
“Recebi um email a pedir que fosse fornecido o contacto de uma médica das Lusíadas, que não conheço. Daniela Martins endereçou-me um email. Terá chegado ao meu contacto porque estava em cópia uma pessoa no email, o Dr. José Magro. Admito que tenha sido o Dr. José Magro a fornecer o meu contacto. Nunca tinha falado com Daniela Martins”, garantiu.
Diretor comercial dos Lusíadas reencaminhou email de Daniela Martins, onde esta pedia contacto da neuropediatra
Victor Almeida adiantou que reencaminhou o email de Daniela Martins “com a intenção de poderem fornecer o contacto da médica [Teresa Moreno, que trabalhava naquele hospital, bem como no Hospital de Santa Maria]”, o que nunca chegou a acontecer, garantiu. Depois disso, foi marcada uma consulta para as gémeas, que ficou agendada para o dia 5 de dezembro de 2019 e que foi desmarcada pouco tempo depois. As crianças acabariam por ser vistas pela mesma médica, no Santa Maria, no início de janeiro de 2020.
O diretor comercial da Lusíadas Saúde desde 2009 disse que o empresário José Magro, com quem integrou a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, lhe pediu o contacto da neuropediatra que viria a tratar as crianças no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Acompanhado pelo seu advogado, Victor Almeida disse aos deputados que não chegou a responder e que recebeu, passados uns dias, um email da mãe das crianças (com conhecimento de José Magro) com o mesmo pedido, que encaminhou para o Hospital Lusíadas Lisboa.
O diretor comercial dos Lusíadas garantiu, em resposta à deputada do PSD Ana Santos, que não teve “conhecimento do agendamento ou do cancelamento das consultas para” as gémeas luso-brasileiras no Hospital Lusíadas. “Não tive nenhuma intervenção no agendamento da consulta. Não sei quem terá marcado e desmarcado a consulta”, acrescentou, tendo-se limitado a pedir o contacto da médica neuropediatra Teresa Moreno.
“Não consigo fazer marcar uma consulta, não tenho acesso. Nem posso entrar no sistema e ver se algum de vocês marcou uma consulta, tem a ver com a privacidade dos dados”, disse Victor Almeida. “Presumo que quem marcou a consulta tenha sido a Dra. Daniela Martins. Ou que tenha pedido alguém para o fazer”, acrescentou.
Diretor dos Lusíadas garantiu nunca ter falado com Nuno Rebelo de Sousa
Victor Almeida garantiu também nunca ter tido contacto com o filho de Marcelo Rebelo de Sousa. “Nunca me cruzei com o Dr. Nuno Rebelo de Sousa. Não o conheço“, disse o diretor comercial dos Lusíadas. Questionado sobre se não teve contacto com Nuno Rebelo de Sousa nos eventos da Câmara Portuguesa de Comércio de São Paulo, Victor Almeida afirmou que não. “Nunca lhe dirigi nenhuma palavra”, garantiu.
Questionado sobre o eventual benefício para a companhia de seguros da gémeas no Brasil, o diretor comercial dos Lusíadas disse que na altura não teve conhecimento de que a mãe das crianças tivesse contratado um seguro com a companhia brasileira Amil Assistência Médica Internacional, que era do mesmo universo dos Lusíadas, e que também não tem conhecimento “se houve poupança” para a seguradora.
“A parte dos seguros não decorre da ação que eu tive neste processo“, garantiu Victor Almeida, em resposta à deputado da Iniciativa Liberal Joana Cordeiro. Segundo a CNN, o tratamento das gémeas luso-brasileiras em Portugal permitiu uma poupança de cinco milhões de euros à seguradora brasileira que pagava um outro tratamento das gémeas no Brasil antes de estas chegarem a Portugal. A seguradora em causa, a AMIL, é detida pela mesma empresa que detém o grupo Lusíadas Saúde.
O diretor comercial dos Lusíadas deixou ainda críticas ao empresário José Magro, por este ter respondido em seu nome ao email de Daniela Martins, prometendo apoio para chegar ao contacto da médica Teresa Moreno. “Achei de alguma ingerência o Dr. José Magro ter respondido a um email que me era dirigido. Fiquei um pouco indignado. Não o devia ter feito. Se tivesse de haver uma resposta teria de ser minha”, disse Victor Almeida.