A ida de Kylian Mbappé para o Real Madrid foi a crónica de uma transferência permanentemente anunciada que tudo prometia. Quando se materializou, no último verão, a ideia de que um novo galáctico tinha chegado ao Santiago Bernabéu tornou-se a grande manchete da temporada. Mas a verdade é que nem tudo tem sido como era esperado.

Protagonista maior de uma época do Real Madrid que não começou da melhor maneira, com os exemplos paradigmáticos da goleada sofrida contra o Barcelona ou das três derrotas em cinco jornadas na Liga dos Campeões, Mbappé leva 11 golos em 21 jogos em todas as competições, mas tem sido muito criticado pelas exibições e por não estar a conseguir afirmar-se em Espanha. Numa rara entrevista, porém, o avançado francês abordou praticamente tudo aquilo que tem sido dito nos últimos meses.

Numa longa conversa no programa “Clique”, do Canal+ France, o jogador de 25 anos voltou a sublinhar a intenção de “ter muito sucesso” no Real Madrid e esvaziou as críticas de que tem sido alvo. “As pessoas vêem-nos como robôs. Mas somos seres humanos como todos os outros. Tanto nos criticam como nos elogiam”, explicou Mbappé, reforçando a ideia de que sempre quis jogar nos merengues.

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“Sempre sonhei com o Real Madrid. Não sabia quando nem como, mas sabia que ia acabar por jogar aqui. No dia anterior à minha apresentação tive uma reunião informativa de três horas e tive de traduzir tudo para a minha mãe e o meu pai. Foi esgotante. No dia seguinte tive o primeiro contacto com a equipa, conheci o treinador. Depois fomos para o Bernabéu, o Zidane também estava lá, e o público recebeu-me como um rei”, atirou.

A mudança do PSG para o Real Madrid poderia ser contada em vários capítulos, até porque quase aconteceu dois anos antes, e Mbappé garante que nunca quis prejudicar os franceses. “O PSG significa muito para mim. Passei lá sete anos, é um lugar muito intenso, com momentos bons e maus. Vivi sete anos extraordinários. Talvez o erro que cometi tenha sido quando misturei tudo. Tive conflitos com as pessoas, defendi os meus direitos como jogador, mas isso não representava o clube. As pessoas pensam que o Kylian não se importa, acham que tinha um hobby antes de ir para o Real Madrid, mas continuo a ver os jogos do PSG. É uma relação que não desaparece”, explicou.

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De forma algo inesperada, a entrevista também serviu para o avançado francês falar publicamente pela primeira vez sobre o escândalo que rebentou no passado mês de outubro, quando uma mulher o acusou de a ter violado num hotel de Estocolmo. Mbappé sempre rejeitou as alegações, embora estivesse efetivamente na Suécia na data referida — durante a pausa para os compromissos das seleções –, e mantém a versão de que nem sequer conhece a suposta vítima.

“Surpreendeu-me, acabo sempre por ser surpreendido. Acontecem estas coisas e não estás à espera. Não recebi nada, não fui notificado. Li o que toda a gente leu, o governo sueco não disse nada. Não estou implicado. Não me afetou, porque nunca me senti implicado. Tinha cinco dias livres e decidi ir. Tinha de ir a outro sítio, mas o treinador disse-me para ir a lugar menos exposto. Tiraram-me uma fotografia a sair de um restaurante, havia muita gente à minha espera à saída. Quando cheguei ao avião recebi as notícias. Nem sequer tenho ideia de quem é, referiu.

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O internacional francês falou ainda sobre a exigência do calendário, referindo que “não há tempo de recuperação”, reconheceu que o Euro 2024 foi “esgotante” e recordou a final do Mundial 2022, garantindo que ficou “mais próximo” de Lionel Messi depois da derrota contra a Argentina. Por fim, Mbappé contou ainda uma história inédita: o facto de ter ponderado adiar novamente a ida para o Real Madrid para que o irmão mais novo, Ethan, continuasse a jogar no PSG.

“Foi o que mais me afetou. O que é o Real Madrid para mim é o PSG para ele. E, indiretamente, tirei-lhe isso. Disse-lhe: ‘Se quiseres ficar, eu renovo e ficamos um bocadinho mais’. Eu teria renunciado ao meu sonho por ele. Qual é o ponto de assinar com o melhor clube do mundo se matas a carreira do teu irmão?”, terminou.