Moçambique aguardava com expectativa a comunicação desta segunda-feira de Venâncio Mondlane sobre a próxima fase de manifestações no país, contra os resultados eleitorais das eleições gerais de 9 de outubro, mas os estragos do ciclone Chido no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, fizeram com que o candidato do Podemos viesse refrear, por agora, a escalada dos protestos. Esta próxima semana será, assim, de “luto”, segundo o candidato do partido Podemos, mas a partir de segunda-feira, dia 23, é “vida ou morte”.
Na comunicação em direto, através das redes sociais, que fez esta segunda-feira com as medidas para a próxima fase de protestos, Mondlane colocou toda a pressão sobre o Conselho Constitucional do país, que espera que se pronuncie sobre o resultado eleitoral no dia 23 de dezembro. Depois de quatro dias de luto (entre quinta-feira e domingo) sem manifestações ou bloqueios de estradas, Mondlane desafiou os seus apoiantes para uma paragem total do país precisamente para o dia previsto para a pronúncia do Conselho Constitucional.
O candidato que reclama a vitória das eleições gerais — e que a Comissão Nacional de Eleições atribuiu oficialmente ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo — passou a “responsabilidade” da fase seguinte de protestos, a “Turbo V8”, para o Conselho Constitucional. Será a presidente do Conselho Constitucional, disse, que “vai determinar pela sua boca no dia 23 se vai fazer com que o país avance para a paz ou para o caos. Se vai para a tranquilidade ou se vai para o abismo.” E pediu mesmo orações e jejum, aos vários credos, “pela justiça em Moçambique”: “Vamos orar pelos juízes do Constitucional e da presidente Lúcia Ribeiro para que na segunda-feira dela saia justiça e não mentira. O pai da mentira é o diabo. Vamos orar para que o diabo não se instale no Conselho Constitucional”.
Venâncio Mondlane diz que depois desta semana, o país terá “dois caminhos: o da vida ou da morte”, numa referência à decisão do Conselho, a favor ou contra o resultado já proclamado. “O turbo V8 será anunciado pelo Conselho Constitucional, já não será o Venâncio”, disse o próprio insistindo que será o que vier no acórdão que levará o país “para a paz ou vai acionar o Turbo V8, para nos levar para o caos, o precipício, a desordem, o caos, o futuro incerto. Está tudo nas mãos dos juízes do Conselho Constitucional.”
Recorde-se que depois da divulgação oficial dos resultados pela CNE, o país tem vivido uma onda de protestos que dura desde 21 de outubro e que já causou pelos menos 130 mortos, milhares de feridos e mais de três mil detidos, segundo a ONG Plataforma Eleitoral Decide. Os resultados eleitorais têm de ser validados pelo Conselho Constitucional e é isso que se espera que aconteça até 23 de dezembro (o limite do prazo) — e Mondlane, em concreto, espera que não confirme o que a CNE divulgou.
Protestos em Moçambique. “O poder está na rua” e adivinha-se um “Natal violento”
Até esse dia, as manifestações serão mais tranquilas dos que algumas das que aconteceram nestes últimos dois meses, sem paralisação de atividade ou interrupções do trânsito no país. O desafio do candidato do PODEMOS é que isso aconteça apenas durante 15 minutos, entre as 13 horas e as 13h15 de Moçambique, durante quatro dias (entre quinta-feira e domingo). Nesses dias, Venâncio pede aos cidadãos que se vistam de preto ou de branco, conforme as tradições de luto de cada um, e que parem durante 15 minutos para “orar pela justiça e pelas famílias” das vítimas dos protestos em Moçambique e para cantarem o hino nacional. “É a semana de luto, da solidariedade, das orações e para celebrar os heróis de democracia moderna”, descreveu Mondlane referindo-se a quem o tem apoiado.
No domingo, véspera da decisão do Conselho Constitucional, os moçambicanos foram também convocados por Venâncio para, a partir das 21 horas, recorrerem a vuvuzelas e apitos para se manifestarem. No dia seguinte, o dia é de paragem total, com Mondlane a pedir: “Toda a atividade em Moçambique deve parar, seja privada ou pública. É um dia em que não vamos ter nenhuma actividade laboral e vamos ficar à espera do acórdão.”
“É o dia do julgamento final, da justiça neste país”, proclamou no direto que fez e onde repetiu várias vezes que a decisão do Conselho Constitucional será decisiva para a paz no país, referindo mesmo que a alternativa é “o caos”, a “mentira”, “as águas profundas e turbulentas”.
Durante este período até 15 de janeiro, a data em que ocorrerá a pose do presidente que vai suceder a Filipe Nyusi, Mondlane pede ainda que as portagens no país sejam de acesso livre e que seja suspensa a exploração de madeira e a madeira. “O povo não tem de continuar na miséria e na desgraça enquanto alguns fazem milhões de dólares”, justificou ao mesmo tempo que defendeu uma “democracia multicolor e multiplural” que não esteja só assente em partidos, mas também na sociedade civil.