À medida que as forças de oposição se aproximavam de Damasco, corria a especulação sobre o destino do Presidente da Síria. No entanto, na manhã em que os rebeldes do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) entraram pela capital do país, Bashar al-Assad já se encontrava em segurança, exilado em Moscovo. Mas como? Dez dias depois da queda do regime de Assad, jornalistas do jornal Corriere della Sera recriaram os passos do Chefe de Estado derrubado.

A indicação de que a iniciativa partiu do Kremlin foi avançada pelo próprio Assad, nas suas primeiras declarações desde o colapso do seu regime. Agora, as fontes citadas pela imprensa italiana afirmam que os serviços secretos russos sugeriram a utilização de dois aviões para transportar o antigo presidente. O percurso de Assad até à capital russa começou na madrugada do dia 8 de dezembro (horas antes da chegada do HTS), tendo-se dirigido até ao Aeroporto Internacional de Damasco e, um pouco depois das 4h30, dois aviões seguiram com destino a Khmeimim, a cidade síria que alberga a base aérea russa.

Bashar al-Assad quebra (finalmente) o silêncio e diz que nunca quis abandonar a Síria, mas acabou por ser retirado pela Rússia

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

À frente ia o Yakolev Yak-40, um jato com capacidade de transportar até 30 pessoas e, mesmo atrás, seguia um Ilyushin II-76T, um avião militar com quatro motores, inicialmente desenhado pela União Soviética para transportar carga. Assad iria no jato mais pequeno, que fez o seu percurso inteiro com os radio-transmissores desligados, de modo a não poder ser localizado. No entanto, a aeronave que o acompanhava não adotou a mesma estratégia, acabando por se tornar num dos voos mais acompanhados na plataforma FlightRadar24 durante a noite, servindo como isco.

Perto da cidade de Homs, a imprensa síria começou a reparar no trajeto pouco ortodoxo do Ilyushin— “Virou à esquerda, à direita, outra vez à esquerda e, subitamente, perdeu altitude”. Pouco tempo depois, surgiram os primeiros relatos sobre a alegada queda deste avião, anunciando-se que se teria despenhado perto da aldeia de Ain al-Ghara, a poucos quilómetros de Homs, possivelmente alvo de interceção dos rebeldes presentes na cidade. Foi nesse momento que a narrativa se espalhou e a morte de Assad começou a ser especulada pelos media internacionais. No entanto, ao nascer do sol, ambos os aviões chegaram em segurança ao seu primeiro destino. Algumas horas mais tarde, ao início da tarde, Bashar al-Assad partia para a Rússia num outro avião — um Ilyushin Il-76MD. Às 18h40, a aeronave russa aterra em Moscovo.

O trajeto desta segunda viagem com rumo ao exílio de Assad teve de passar pela Turquia, um Estado-membro da agência Eurocontrol, focada em gerir o tráfico aéreo na Europa e nas áreas vizinhas. Com isto, não é claro se tanto Ancara como Bruxelas tinham conhecimento de quem estava a bordo do Ilyushin, uma vez que nenhuma violação foi denunciada e o voo passou pelo espaço aéreo turco sem levantar suspeitas — a Turquia não aderiu à proibição do trânsito de aviões russos pelo país.

As fontes citadas pelo Corriere della Sera explicam que, tendo em conta que se tratava de um voo militar, “não havia qualquer obrigação para fornecer as identidades dos passageiros” às autoridades de controlo de tráfico aéreo turco, permitindo a passagem sem problemas de Bashar al-Assad para os braços do Kremlin.