Cerca de 1.140 civis no Sudão do Sul, incluindo mulheres e crianças, foram arbitrariamente detidos entre janeiro de 2023 e maio de 2024, denunciaram as Nações Unidas esta quarta-feira, que acusam as autoridades de violarem os direitos humanos.
Os dados foram divulgados esta quarta-feira num relatório conjunto do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e da Missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS) que contabilizou 1.140 civis arbitrariamente presos e detidos “por vários períodos” entre janeiro de 2023 e maio de 2024, no país mais jovem do mundo.
Entre os detidos, segundo a ONU, estavam “membros da oposição política ou pessoas consideradas ligadas a esta” e pelo menos 87 crianças e 162 mulheres — a maior parte das quais detidas por recusarem casamentos forçados, pedirem o divórcio ou por alegado adultério, por vezes durante semanas — e ainda pessoas portadoras de deficiência.
O relatório especifica que estes civis foram detidos sem serem considerados criminalmente responsáveis e, em muitos casos, sem terem cometido qualquer crime, bem como opositores políticos.
“Este relatório é apenas a ponta do icebergue do considerável sofrimento humano causado pelas práticas de detenção arbitrária, tanto no contexto do conflito armado como da significativa fraqueza do setor judicial”, acrescentou a ONU.
A maior parte das detenções foram efetuadas por agências de segurança governamentais e outras por grupos não estatais, segundo o relatório.
“As condições de detenção são duras, em instalações sobrelotadas, e põem em perigo a vida dos detidos“, condenou a ONU, que documentou dezenas de casos de tortura, tratamento cruel e violência sexual.
Num comunicado de imprensa, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, apelou “às autoridades do Sudão do Sul para que libertem todas as pessoas arbitrariamente privadas de liberdade e levem a tribunal os responsáveis por estas violações e abusos“.
Em setembro, o governo do Sudão do Sul anunciou um novo adiamento de dois anos das primeiras eleições da história do país, previstas para dezembro.
O Sudão do Sul, independente desde 2011, é um dos países mais pobres do mundo, apesar das suas grandes reservas de petróleo, e é atormentado por uma violência regular e variada, além de calamidades climáticas.