A TAP não esperou para dia 23, quando se teme que os protestos se intensifiquem em Moçambique, para tomar medidas que visam “prevenir possíveis problemas de abastecimento de combustível no aeroporto de Maputo” e ao mesmo tempo garantir a segurança das tripulações. Assim, passa a haver uma escala nos voos de e para Maputo na África do Sul, e pode haver alteração dos horários atuais, refere uma nota interna da TAP a que o Observador teve acesso, datada de 15 de dezembro.
“A TAP confirma alterações na sua operação para Moçambique. Os voos entre Lisboa e Maputo passam a fazer uma escala técnica em Joanesburgo, para reabastecimento e troca da tripulação”, confirmou o gabinete de comunicação ao Observador.
Mondlane refreia protestos, mas na próxima semana será “vida ou morte”
“A TAP tem acompanhado de perto a evolução da situação em Moçambique, com especial foco nos acontecimentos na cidade de Maputo, tendo por base informações confidenciais, fontes abertas, canais diplomáticos e contactos locais”, começa por escrever na circular o diretor de operações dos voos.
Mário Bento recorda depois o que se passou após 27 de novembro, quando a empresa decidiu “repatriar para Lisboa todos os tripulantes presentes em Maputo e suspender temporariamente as operações para esse destino”. A transportadora aérea portuguesa “implementou então medidas para garantir a segurança dos tripulantes”, que muitas vezes não se conseguiam deslocar dos hotéis para o aeroporto face às barricadas erguidas pelos manifestantes.
“Entre essas ações destacam-se a antecipação dos horários dos voos para períodos anteriores ao início dos protestos [que tinham hora marcada] e a utilização de escolta policial no transporte das tripulações”, pode ler-se na nota sobre a “Operação para Maputo”.
Mas face à “aproximação da data de proclamação dos resultados eleitorais pelo
Conselho Constitucional de Moçambique e a possibilidade de intensificação dos protestos, a TAP, correspondendo às preocupações expressas pelas associações e sindicatos do Pessoal
Navegante, acordou, como medida provisória, alterar o alojamento das tripulações”, justifica o diretor de operações de voos.
“Um dos percursos passará a incluir uma escala técnica em Joanesburgo (JNB), onde
os tripulantes ficarão alojados”, concretiza. A rotação será feita no sentido Lisboa-Maputo-Joanesburgo-Lisboa, “com o objetivo de prevenir possíveis problemas de abastecimento de combustível no aeroporto de Maputo”.
A escassez de combustível não é apenas um cenário previsível. Antes desta nota da TAP, um avião da LAM, a companhia aérea moçambicana, teve de ir à Beira abastecer porque não havia jetfuel para os seus aviões no aeroporto de Maputo.
“Os horários atualmente previstos para os voos poderão sofrer alterações de acordo com os slots efetivamente atribuídos em Joanesburgo e Lisboa”, avisa ainda Mário Bento.
Se eventualmente houver uma avaria no avião que o impeça de sair de Maputo, a TAP diz que mantém “o atual plano de contingência” com a “garantia de escolta policial para o transporte da tripulação”.
A empresa prepara-se assim para o agudizar da violência em Moçambique que há dois meses vive com protestos praticamente diários contra os resultados eleitorais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições que dão a vitória à Frelimo, partido no poder há 49 anos, e ao seu candidato Daniel Chapo, com 71% dos votos.
Esta conclusão, que o Conselho Constitucional vai ou não validar no dia 23, tem sido contestada por Venâncio Mondlane, o candidato independente apoiado pelo partido Podemos, que reivindica a vitória. A partir do estrangeiro, o pastor evangélico tem liderado a revolta popular que tem sido violentamente reprimida pelas forças de segurança. Pelo seu lado os manifestantes têm-se vingado incendiando esquadras, sedes da Frelimo e outras infraestruturas públicas (e algumas privadas ligadas a nomes do partido), e linchado polícias. Até ao momento mais de 130 pessoas morreram, 385 ficaram feridas e 3.636 foram detidos.
Venâncio Mondlane já disse que a presidente do Conselho Constitucional tem a decisão de “vida ou morte” nas suas mãos, e, na quarta-feira, numa reunião com eurodeputados no Parlamento Europeu disse que não podia responder pelo que poderia acontecer depois desse anúncio.