A Associação 25 de Abril classificou esta sexta-feira como inaceitável a operação policial de quinta-feira no Martim Moniz e o uso da polícia para um “espetáculo público” e uma “falsa demonstração de força”, que “só dá forças aos extremistas”.
Em comunicado divulgado esta sexta-feira, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, recorda o papel dos militares que a integram no derrube da ditadura e na construção de um Estado democrático e afirma que “não pode deixar de proclamar, com forte determinação, que o caminho não passa por demonstrações de força, com violação dos naturais direitos dos cidadãos“.
“O que se passou ontem, dia 19 de dezembro de 2024 em Lisboa, na zona do Martim Moniz, é de todo em todo inaceitável, tem de ser denunciado por todas as mulheres e todos os homens livres e de bem, no sentido de que tal se não volte a verificar”, lê-se no comunicado.
A Associação 25 de Abril defende que as forças policiais “não podem ser utilizadas para, através de cenas condenáveis, em que não são respeitados os mais elementares direitos dos cidadãos, darem um espetáculo público, numa falsa demonstração de força, só necessária e justificável para quem sente que a verdadeira força lhe falta”.
Para a associação, o “poder democrático legítimo”, com operações policiais como a de quinta-feira “só dá forças aos extremistas que têm como objetivo recriar uma sociedade subjugada, pelo medo e pela violência”.
“Por tudo isso, proclamamos que ‘Basta’, que há que parar este tipo de atitudes, que há que praticar uma verdadeira democracia, que tem como essência uma vivência sã e sem medo ou coação, por parte de todos: cidadãos mas também os agentes do poder. Só assim estaremos fazendo Abril, só assim seremos dignos de comemorar os 50 anos da sua vivência, garantindo a sua continuação por muitos mais anos”, defende-se no comunicado.
A operação policial de quinta-feira no Martim Moniz resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.
Na zona moram e trabalham muitos imigrantes, sobretudo oriundos do subcontinente indiano.
Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP esclareceu que uma pessoa foi detida por posse de arma proibida e droga e outra por ser suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.
A operação foi acompanhada por uma procuradora da República e foram cumpridos seis mandados de busca não domiciliária.
A atuação policial — que passou por encostar à parede dezenas de pessoas, de mãos no ar, para serem revistadas — foi denunciada por imagens partilhadas nas redes sociais, que geraram várias críticas e acusações de abuso de poder.
A porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, Ana Raquel Ricardo, explicou que uma “operação especial de prevenção criminal dá legitimidade para fazer outro tipo de diligências, nomeadamente a revista de cidadãos que se encontrem no local e revista de viaturas” que por ali circulem.
Os partidos da esquerda parlamentar já exigiram esclarecimentos ao Governo e pediram a audição da ministra da Administração Interna e do diretor nacional da PSP. O Livre vai pedir também uma audiência ao Presidente da República, que já disse que quer ver as imagens da operação policial.
Organizações de defesa dos direitos humanos e antirracistas acusaram o Governo de aplicar a “agenda de ódio da extrema-direita” ao “adotar políticas com o propósito específico de perseguir e afastar imigrantes”.
O primeiro-ministro considerou a operação de quinta-feira “muito importante” para criar “visibilidade e proximidade” no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses.
Segundo a PSP, participaram na operação meios das Equipas de Intervenção Rápida, das Equipas de Prevenção e Reação Imediata, de trânsito e à civil — investigação criminal e fiscalização.