A presidente da Casa de Portugal em Macau permanece otimista quanto ao papel da língua portuguesa, mas descreveu a ausência de tradução, esta sexta-feira, do primeiro discurso do novo líder da região como “um mau sinal”.
Durante uma cerimónia a celebrar o 25.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), o novo chefe do Executivo, Sam Hou Fai, discursou em cantonês, não tendo sido disponibilizada qualquer tradução para português.
Sam, que tomou posse esta manhã, é o primeiro dirigente que domina a língua portuguesa a liderar a RAEM, criada na sequência da transição de administração de Portugal para a China.
“Fiquei desiludida e não fui a única. É de facto um mau sinal de início, não haver tradução, no primeiro discurso do chefe do Executivo”, disse à Lusa Maria Amélia António.
Apesar de ser “profundamente lamentável”, a presidente da Casa de Portugal em Macau disse esperar “que tenha sido um acidente pontual” e que “não se repita”.
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Questionado pela Lusa, o Gabinete de Comunicação Social do Governo de Macau não fez qualquer comentário.
Horas antes, na tomada de posse do novo Governo local, Xi sublinhou que Macau, como “o único local do mundo que tem como línguas oficiais o português e o chinês”, tem de aproveitar “a sua singularidade” para servir de “plataforma entre a China” e os países lusófonos.
“Isto não tem discussão. Está ali dito, preto no branco e claro. E, portanto, como língua oficial [a língua portuguesa] tem de ser tratada de outra forma daquela que tem sido tratada até agora”, defendeu Maria Amélia António, antes do discurso de San Hou Fai.
A também advogada considerou que o papel da comunidade portuguesa vai depender “imenso daquilo que for capaz de fazer, da qualidade do trabalho que desenvolver”.
Cerca de 155 mil pessoas têm nacionalidade portuguesa em Macau e Hong Kong, disse à Lusa na terça-feira o cônsul-geral de Portugal nas duas regiões semiautónomas chinesas, Alexandre Leitão.
De acordo com os últimos censos realizados no território de 2021, há mais de 2.200 pessoas nascidas em Portugal a viver em Macau.
A comunidade portuguesa “tem um papel fundamental na manutenção de todas as características de Macau”, nomeadamente como uma ligação aos países lusófonos, sublinhou Maria Amélia António.
Novo líder de Macau quer atrair mais “talentos internacionais”
O território tem “desempenhado um papel muito importante ao longo da história” da China, como “uma janela para o exterior”, “aproveitando a sua vantagem única de ser a mistura de diferentes culturas”, disse Xi Jinping.
Mas o chefe de Estado sublinhou que Macau precisa de “uma atitude mais tolerante, mais aberta, de estabelecer mais laços de cooperação com o exterior”, para “projetar a imagem” da região no exterior e ter “o seu lugar no palco internacional”.
O líder chinês defendeu a necessidade de “renovar as leis que têm a ver com o comércio” de forma a “atrair mais recursos e investidores internacionais”.