O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, diz que ainda não viu as imagens da polémica operação policial de quinta-feira na zona do Martim Moniz, em Lisboa, mas sublinha que pretende averiguar tudo o que se passou para perceber se a intervenção policial decorreu com “recato” que deveria ter.
Em declarações aos jornalistas em Cascais, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que não viu as imagens da operação porque estava em Cabo Verde. Marcelo, que tem sido interpelado para se pronunciar sobre o caso (o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior chegou mesmo a sugerir que o Presidente da República deveria ir pedir desculpa às pessoas do bairro), disse não querer pronunciar-se sobre o caso antes de conhecer os contornos concretos.
“O que posso dizer em geral é que a segurança é muito importante para a vida das pessoas e para a estabilidade da situação social, económica e política”, destacou. “A segurança deve ser exercida respeitando as regras constitucionais e legais. Deve ser exercida, quer a segurança, quer a investigação judicial, sem riscos de se considerar que a publicidade ou a utilização de formas de cobertura dos acontecimentos enquanto eles decorrem retira o significado e o carácter pedagógico que deve ter essa intervenção.”
Perante a insistência dos jornalistas sobre o caso do Martim Moniz — uma operação policial orientada para a execução de mandados de detenção e para o combate à criminalidade, mas que se tornou polémica devido à aparente desproporção de forças e às imagens que mostraram dezenas de imigrantes encostados à parede por polícias fortemente armados —, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que tem de ver “exatamente o que é que aconteceu”.
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Questionado sobre se pretende visitar o Martim Moniz, Marcelo destacou: ” encontramos muitos portugueses e muitos estrangeiros das mais diversas nacionalidades. É uma área que é multicultural, multicivilizacional há muito tempo. Já lá estive, quando houve a reunião dos nossos irmãos timorenses. Lá tenho estado muitas vezes em contactos com as comunidades chinesa, paquistanesa, indiana, e outras, que têm ali os seus estabelecimentos, a sua atividade.”
“A única coisa que vi quando estava agora a ler o comunicado da PSP [é] que se tratava de cumprir seis mandados judiciais”, disse Marcelo, acrescentando que essas operações devem ser feitas “com recato”.
“Tenho de verificar se sendo o cumprimento de uma decisão do tribunal, acompanhada pelo Ministério Público, em casos muito precisos, para garantir a segurança dos cidadãos, se teve o recato ou não que era indicado para essa situação”, afirmou o chefe de Estado. “Tenho de ver até que ponto é que houve esse equilíbrio de intervenção.”
“À primeira vista, foi o cumprimento de uma decisão judicial, com intervenção do Ministério Público, para fins muito específicos. Se isso não teve o recato que esse tipo de intervenções deve ter, só se pode verificar quando vir as imagens e perceber o que se passou”, disse ainda.