O candidato presidencial Venâncio Mondlane considerou esta terça-feira lamentáveis os comentários do Presidente da República e do primeiro-ministro de Portugal sobre a proclamação da Frelimo e do seu candidato presidencial como vencedores das eleições pelo Conselho Constitucional de Moçambique (CC).

“É realmente lamentável que o primeiro-ministro e o Presidente da República portuguesa tenham feito pronunciamentos a confirmar ou a felicitar a Frelimo e o seu candidato em função de resultados altamente problemáticos, falaciosos e adulterados que foram proclamados pelo CC”, disse Venâncio Mondlane, numa declaração a partir da sua conta do Facebook.

“É lamentável, um país que achávamos que podia ser a entrada de Moçambique para Europa, para que fossem nossos porta-vozes para alcançarmos uma situação de paz e passividade em relação à crise que Moçambique está a viver”, acrescentou Venâncio Mondlane.

O primeiro-ministro português desejou segunda-feira que a transição de poder em Moçambique decorra de “forma pacífica e inclusiva, num espírito de diálogo democrático”, depois de terem sido divulgados os resultados oficiais das presidenciais moçambicanas.

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“Concluído o processo eleitoral pelo Conselho Constitucional e designado Daniel Chapo como Presidente eleito de Moçambique, sublinhamos o propósito de que a transição que agora se inicia possa decorrer de forma pacífica e inclusiva, num espírito de diálogo democrático, capaz de responder aos desafios sociais, económicos e políticos do país”, escreveu Luís Montenegro, numa publicação na rede social X (ex-Twitter).

O primeiro-ministro acrescentou que “os laços fraternais entre Portugal e Moçambique permanecem um compromisso sólido para o futuro”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha sublinhado a “importância do diálogo democrático” entre todas as forças políticas de Moçambique e saudado “a intenção já manifestada de entendimento nacional”.

“Acabados de proclamar os resultados oficiais das eleições presidenciais e legislativas pelo Conselho Constitucional de Moçambique, o Presidente da República tomou conhecimento dos candidatos e da força política declarados formalmente vencedores por aquele Conselho”, refere uma nota divulgada na página oficial de Belém na Internet.

Conselho Constitucional proclama Daniel Chapo como Presidente. Manifestantes e polícia envolvem-se em confrontos por todo o país

Na mesma live colocada no Facebook, Mondlane disse que as manifestações são para manter, mas pediu fim da destruição de bens públicos e privados.

“As manifestações devem continuar, porque está comprovado que este regime é ilegítimo (…) Vamos permitir a passagem do corpo diplomático, do pessoal médico, das agências funerárias, dos advogados e organizações humanitárias”, pediu Mondlane.

De acordo com a proclamação feita, Venâncio Mondlane registou 24,19% dos votos, Ossufo Momade 6,62% e Lutero Simango 4,02%.

Enquanto decorria a leitura do acórdão de proclamação dos resultados, já manifestantes, apoiantes de Venâncio Mondlane, contestavam na rua, com pneus em chamas.

A proclamação destes resultados pelo CC confirma a vitória de Daniel Chapo, jurista de 47 anos, atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), anunciada em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas na altura com 70,67%.

Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), tinha ficado em segundo lugar, com 20,32%, segundo o anúncio anterior da CNE.

Seguiu-se Ossufo Momade, presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), até agora maior partido da oposição, com 403.591 votos (5,81%), seguido de Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceiro partido parlamentar), com 223.066 votos (3,21%).

As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais — às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos — em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais

EUA “preocupados” com anúncio de resultados pedem entendimento para “restaurar a paz”

O Governo norte-americano reagiu já esta terça-feira ao anúncio do Conselho Constitucional de Moçambique, apelando ao entendimento para “restaurar a paz” no país e à responsabilização pelas mortes de manifestantes.

Numa declaração do porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, é referido que os Estados Unidos da América (EUA) “estão preocupados com o anúncio”, feito segunda-feira pelo Conselho Constitucional de Moçambique, relativamente às eleições gerais de 09 de outubro, que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), e ao seu candidato presidencial, Daniel Chapo.

Recorda que “organizações da sociedade civil, partidos políticos, meios de comunicação social e observadores internacionais, incluindo os dos EUA, citaram irregularidades significativas no processo de apuramento, bem como preocupações com a falta de transparência durante todo o período eleitoral” e apela “a todas as partes interessadas para que se abstenham da violência e se envolvam numa colaboração significativa para restaurar a paz e promover a unidade”.

“Os responsáveis pelas violações dos direitos humanos, incluindo o assassinato de manifestantes e de dirigentes partidários e o uso excessivo da força pelas forças de segurança, devem ser responsabilizados. Os moçambicanos merecem eleições livres de violência e que reflitam a vontade do povo. Os EUA apelam a todas as partes interessadas para que se comprometam com reformas eleitorais e institucionais sérias para garantir o futuro de Moçambique como uma verdadeira democracia multipartidária”, acrescenta a declaração do Departamento de Estado.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que está a realizar disparos para tentar a desmobilização, com registo de pelos três mortos e vários feridos, segundo levantamentos provisórios de organizações não-governamentais no terreno.

A contestação, que desde 21 de outubro já provocou a morte de pelo menos 120 pessoas, tem sido liderada pelo candidato Venâncio Mondlane, que segundo o Conselho Constitucional obteve 24% dos votos, e que não reconhece os resultados oficiais.

A proclamação destes resultados pelo Conselho Constitucional confirmou a vitória de Daniel Chapo, jurista de 47 anos, atual secretário-geral Frelimo anunciada em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas na altura com 70,67%.

“Chegou a hora de pensarmos com calma e serenidade sobre a melhor forma de criar uma realidade democrática que representa a riqueza, a diversidade do país. Esse diálogo é chave para superar as nossas diferenças”, afirmou Chapo, logo após a proclamação dos resultados.

Além de Venâncio Mondlane, também Ossufo Momade, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, até agora maior partido da oposição) e Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), ambos candidatos presidenciais, anunciaram que não reconhecem os resultados eleitorais.