Localizada num desfiladeiro três vezes maior que o Grand Canyon, a China aprovou a construção de uma nova barragem no rio Yarlung Zangbo, que nasce no Tibete e desagua na Índia e no Bangladesh. Com um volume projetado três vezes superior à atual maior barragem do mundo —a Barragem das Três Gargantas (também na China) —, a agência estatal chinesa Xinhua [citada pelo Washington Post] diz que o projeto é um “passo importante na transição do país para uma energia verde e com baixo teor de carbono”.
A construção da futura maior barragem do mundo deverá custar o equivalente a mais 130 mil milhões de euros ao governo chinês. Apesar da dimensão megalómana do projeto, a polémica levanta-se também pelo local da construção. A agência estatal escreve que a barragem vai “trazer um sentimento de ganho, felicidade e segurança às pessoas de todos os grupos étnicos do Tibete”. Do outro lado do rio, a Índia acredita que a sua construção irá “dar poder à China“, dando o controlo do fluxo hídrico a Pequim, alertando para o risco de possíveis cheias devido ao elevado volume projetado para a barragem, avança o Times of India.
No entanto, a grande prioridade para o executivo de Xi Jinping é aproveitar as condições naturais do desfiladeiro, cujos 2.000 metros de profundidade e 50 km de comprimento oferecem um grande potencial hidroelétrico. Com isto, as dificuldades de construção são diversas, tendo em conta a elevada atividade sísmica devido à convergência de placas tectónicas. Ainda não foi divulgada uma estimativa sobre o número de tibetanos que serão deslocados das suas casas, nem de que forma o ecossistema local será afetado.
Oficiais chineses citados pela Reuters referem que o Tibete contém mais de um terço do potencial hidroelétrico da China, e que este projeto não terá um “grande impacto no ambiente ou no abastecimento de água a jusante”.
Já o Washington Post menciona também o potencial para esta construção reacender a disputas de fronteiras com a Índia. O clima de tensão ficou mais calmo em outubro deste ano, depois de um encontro entre o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o Presidente chinês, mas a disputa mais recente durou cerca de quatro anos. Em 2020, Nova Deli começou a apresentar as suas preocupações sobre a construção de barragens no rio Yarlung Zangpo — para os indianos Brahmaputra — ao que Pequim terá respondido, mencionando o seu “direito legítimo” em construi-las e assegurando a ponderação de todos os efeitos possíveis.